Crítica | A Criada (Ah-ga-ssi)

Nota
5

A Criada é o tipo de romance que toda pessoa LGBTQ+ deseja assistir. Dirigida por Park Chan-Wook, a obra, um melodrama com suspense e romance, é uma adaptação do livro “Fingersmith”, e se passa na Coréia do Sul dos anos 30. Em sua narrativa, um vigarista apelidado de Conde Fujiwara (Ha Jung-woo) planeja casar-se com a herdeira japonesa Hideko (Kim Min-hee) e interná-la em um hospital psiquiátrico para roubar toda a sua herança. Para esse plano ser executado, ele contratou a jovem Sonk-hee (Kim Tae-ri) com o fim de torná-la criada da Lady Hideko e incentivá-la a unir-se com o homem. No entanto, o que ele não esperava é que fortes emoções começariam a ser desenvolvidas entre as duas.

Primeiramente, é impossível assistir A Criada e não ficar de boca aberta com a fotografia. Chung Chung-hoo realizou um trabalho impecável na cinematografia tão marcante e ousada desse filme. Com imagens ricas em detalhes, tudo no longa parece ser calculado. As cenas trazem uma sensação de expansão, tendo em vista que o diretor explora muitos planos abertos, repletos de simetria e composições belíssimas. O recurso do zoom é bastante utilizado,  trazendo uma autenticidade muito grande à obra. Assim, as cenas em que os planos são fechados geralmente são silenciosas, retratando algum detalhe com alguma simbologia ou caráter erótico, elemento bastante forte na narrativa.

Dessa forma, é muito interessante acompanhar a representação paradoxal do sexo nessa obra. O filme consegue retratar muito bem a questão da objetificação do corpo da mulher, contando a história de Hideko. Abusada desde criança pelo seu tio, ela já havia sido usada de “entretenimento” para muitos homens, sendo constantemente fetichizada. Contudo, quando ela conhece a Sonk-hee, tudo muda. O sexo passa a ser um momento mágico, de descoberta, extremo prazer e satisfação. É muito bonito acompanhar o desenvolvimento do amor das duas. O desejo, a cumplicidade que cresce entre elas; tudo é extremamente espontâneo, novo e empolgante. A Criada, portanto, consegue trazer uma crítica bastante evidente ao sistema hétero-patriarcal da época. A inteligência delas e o final feliz é uma grande resposta ao conservadorismo. É a prova de que um casal lésbico se basta. Que duas mulheres podem ser felizes juntas, sem depender de homem algum. Sendo assim, o filme tira o estereótipo da mulher “passiva e indefesa” e do personagem LGBT que está fadado ao sofrimento, colocando no protagonismo duas mulheres que lutam pelo seu amor e liberdade até o final.

Por conseguinte, A Criada é aquela obra que, mesmo com três horas de duração, prende o público do começo ao fim. Com um roteiro criativo, “fora da curva” e esplêndido, que conta com protagonistas inteligentes e de personalidades fortes, o espectador acaba sendo “o enganado”, se surpreendendo com o desenrolar da narrativa. Ademais, Ryu Seong-hai dá o seu nome na direção de arte tão impecável, que traz uma paleta de cores tão marcante, a qual destaca a autenticidade do filme. Enfim, A Criada é uma filme abundante, único, e que tem muita importância para a população LGBTQ+, justamente por colocar, no centro do enredo, mulheres sáficas que não têm medo de amar, e, portanto, não são passivas à situação em que estão inseridas. Assim, desviando da maior parte das obras com representação LGBT que ou focam na questão da “saída do armário”, ou simplesmente colocam os personagens não-normativos inseridos em um destino de tragédia, ele consegue ser um filme revolucionário.

 

Estudante de cinema, pernambucana

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