Crítica | A Dama e o Vagabundo (Lady and the Tramp) [1955]

Nota
5

“Oh, this is the night, it’s a beautiful night
And we call it bella notte
Look at the skies, they have stars in their eyes
On this lovely bella note”

Lady é uma adorável é mimada cocker spaniel que tem uma vida tranquila e confortável com sua família de humanos. Adorada por Jim Querido e Querida (os nomes que sempre ouve seus humanos falarem), Lady vive em perfeita harmonia ate que uma inesperada notícia abala seu cotidiano. Seus humanos estão prestes a ter um herdeiro e a pobre cadela se vê deixada de lado e se sente abandonada pelos humanos que tanto ama.

Enquanto isso, do outro lado da cidade, Vagabundo descobre que todo cachorro sem licença será levado pela carrocinha para o desesperador canil municipal. O malandro então decide salvar seus companheiros da prisão e se vê perseguido pelo seu captor ate uma área nobre da cidade. Lá, ele escuta os lamentos de Lady com seus amigos e se intromete na conversa, dizendo que ela logo será esquecida e abandonada por seus donos que só terão tempo para cuidar do bebê.

Mas o malandro não poderia estar mais enganado. Com a chegada do filho e as preocupações da gravidez passadas, Jim Querido e Querida voltam a normalidade deixando um sentimento ainda maior de proteção em Lady com o novo morador do seu lar. É só no momento em que a Tia Sarah e seus detestáveis gatos siameses Si e Am chegam que a vida de Lady se transforma em um verdadeiro inferno, levando a mesma a fugir da casa que tanto ama e reencontrar o carismático Vagabundo, que se mostra disposto a mostra todas as vantagens de ser um vira-lata sem coleira em um mundo repleto de aventuras e encantos que só a liberdade pode trazer.

Em 1955, Walt Disney nos presenteou com uma obra atemporal que marcaria a historia e traria a tona uma das cenas mais românticas do cinema. Baseado no livro de Ward Greene, A Dama e o Vagabundo trás um avanço técnico e preciso nas animações dos Estúdios assim como uma construção etérea e memorável que, através das geração, seria uma referência ate os dias atuais de um clássico romântico a ser espelhado.

Embora a trama pareça simples e despreocupada, o longa já mostra seu diferencial na cena de abertura. Escolhendo o ponto de vista canino, o filme mostra a encantadora Lady filhote tendo que lidar com seu novo lar e seus novos donos. O cenário, que antes era algo mais estático e dava um ar teatral as obras, ganha um fluidez impar e acompanha bem a trajetória dos seus protagonistas. Dando mais ritmo a trama e trazendo um dinamismo impecável ao longa.

Enquanto as outras obras do estúdio apostavam em um enredo mais fantástico e mágico, A Dama e o Vagabundo apresentam uma trama mais adulta e “realista”, trazendo um estilo mais caseiro e prosaico para a trama. Vê atitudes tão humanas nos animais é algo magnífico, e a diferença de classes em um amor impossível é algo tão prazeroso e encantador que encantam os telespectadores mesmo após as longas décadas passadas.

Os belíssimos desenhos são tão caprichosos que ate uma rua enlameada atingida pelas luzes pontuais dos postes a gás se torna uma obra prima. A paisagem cheia de detalhes mostra uma pequena cidade no século XX, onde a vida rural começa a contracenar com a crescente urbanização e seus avanços. O estilo idílico do subúrbio contrasta com o caos urbano onde o vira-lata se encontra, trazendo um sublime encontro entre dois mundos.

É impossível não lembrar da belíssima cena do jantar de espaguete com almôndegas que se tornou um clássico instantâneo, banhado com a belíssima Bella Notte. A cena se tornou tão icônica que é considerada até hoje uma das cenas mais românticas já mostradas no cinema. Não é a toa que o longa conseguiu o feito de ter uma das maiores bilheterias dos Estúdios na época (o ultimo grande estrondo de bilheteria tinha sido Branca de Neve e os Sete Anões) tendo uma importância precisa na continuidade do estúdio e do alto nível que a Disney mostrava em seus filmes.

Lady (Barbara Luddy) é ingênua e encantadora, mas mesmo com toda sua doçura a dama apresenta pontas de ciúmes e receio ao ser tirada do seu local de conforto. Ao se ver separada do seu habitat, a cadela passa a entender o outro lado de uma vida que ela nunca imaginou, onde a liberdade se mostra tão sedutora quanto o conforto do seu lar. Vagabundo (Larry Roberts) é um espirito livre. Malandro, sedutor e extremamente cheio de si, o vira-lata sabe usar seu charme para conseguir a vida que sempre quis. O galã ainda apresenta um trauma ao apresentar as desvantagens da vida de coleira, mostrando o quão cruel os humanos podem ser.

Outro ótimo acerto do longa é a vida sombria do canil, mostrando a realidade infeliz daqueles que não possuem um lar e podem passar pela porta sem retorno sem nenhuma salvação. Afinal, como ser reconhecido se você não possui uma identificação ou alguém que se importe com sua ausência? O filme ainda apresenta maneiras sutis de falar sobre temas pesados e nem um pouco infantis, como uma gravidez indesejada, a má fama na sociedade é o preço da velhice. Esse último narrado através do gentil Fiel (Bill Baucom) que traz uma das cenas mais chocantes e emocionantes do longa.

Único e encantador, A Dama e o Vagabundo traz uma fábula e urbana, nos mostrando  uma trama ágil e adulta que arranca suspiros por onde passa. Com cenas memoráveis que nos fazem apaixonar por seu enredo memorável como um jantar romântico ao som da Bella Notte para um casal de apaixonados que só conhece o agora e o que ele pode nos proporcionar…

“Side by side with your loved one
You’ll find enchantment here
The night will weave its magic spell
When the one you love is near
Oh, this is the night and the heavens are right
On this lovely bella notte”

 

https://youtu.be/ZqOuzsqw6VA

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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