Crítica | A Dama e o Vagabundo (Lady and the Tramp) [2019]

Nota
4

“Deixe-me adivinhar… você é o centro do mundo de suas pessoas, certo?”

Para Lady (Tessa Thompson) não existe melhor lugar que o seu lar. Adorada por Jim (Thomas Mann) e Querida (Kiersey Clemons), a mimada cocker spainel leva uma vida tranquila e confortável em perfeita sintonia com seu pequeno universo. Mas, com a chegada inesperada de um novo membro, a vida perfeita da cadela esta prestes a mudar drasticamente.

Enquanto isso, do outro lado da cidade, Vagabundo (Justin Theroux) leva sua vida na maciota. Escapando da carrocinha e tirando proveito do que pode, o vira-lata se sente livre e desimpedido em seu cotidiano, seguindo a risca seu lema e contando apenas com sua esperteza para sobreviver nas agitadas ruas do centro. Após liberar alguns amigos do temível e abobalhado caçador de cães Elliot (Adrian Martinez), o malandro se vê perseguido até a parte nobre da cidade onde seu caminho se cruza com o de Lady.

Ao escutar seus lamentos, o vira-lata alerta à ingênua cadela que logo ela será esquecida por seus donos e que nenhum humano é fiel ou confiável. Encucada, Lady observa seu cotidiano mudar drasticamente enquanto se sente afastada e esquecida por aqueles que ama. Mas é apenas na estadia da intrometida Tia Sarah (Yvette Nicole Brown) e seus demoníacos gatos que a vida dela vira de ponta a cabeça.

Assustada e desorientada, a pequena cadela foge e se vê perdida no meio da cidade por trás dos muros de sua aconchegante casa. É lá que reencontra o carismático Vagabundo que promete levá-la de volta a seu lar enquanto lhe mostra todas as qualidades que somente um cão vira-lata pode ter em um mundo repleto de aventuras e extremamente livre que a dama nunca sonhou em conhecer.

Quando anunciado, A Dama e o Vagabundo causou um estranhamento notório entre os fãs do camundongo. Afinal, o clássico de 1955, embora amado e venerado, não é a primeira coisa que se vem em mente quando pensamos em uma versão live-action. Mas eis que surge o Disney+, o novo serviço de streaming da Disney, onde uma obra despretensiosa como essa poderia encontrar o seu lar. E, posso falar com toda certa, não é que funcionou?

Em um universo repleto de grandes produções com orçamentos exorbitantes, a nova versão do clássico atemporal passaria despercebida e, talvez, criticada com severidade mas, o live-action apareceu no lugar preciso e da maneira correta ganhando seu espaço e encantado todos aqueles que um dia duvidavam da proposta.

O longa dirigido por Charlie Bean causa um estranhamento inicial, por seus efeitos mal encaixados, que nos deixa desconfortáveis e apreensivos, mas que logo são esquecidos pela doçura e magia que a trama nos mostra. O longa vai nos conquistando aos poucos, de maneira delicada que nos envolve e nos emociona sem nem ao menos notarmos. Quando menos esperamos estamos chorando com o mesmo ou sorrindo com as referências ao longo da trama.

Com um carisma único e um toque preciso em seus dilemas simples, o filme nos conduz com maestria pelas cenas memoráveis enquanto da novas camadas a tudo que achamos conhecer. Seja em seus personagem, seja em sua história, tudo ganha um tom diferente e familiar que agrada até ao mais crítico dos olhares.

A fotografia impecável mexe com nossa nostalgia, nos trazendo todo aquele ar romântico da animação enquanto traz novos dilemas. As mulheres ganham uma nova força no longa, deixando de lado a passividade presente na trama original o que se mostra gratificante e coeso com o novo conteúdo.

Querida é um dos maiores exemplos. A dona de Lady ganha um destaque memorável, tomando as rédeas quando a situação se mostra mais complicada e tendo uma voz ativa, não só na relação com Jim como na sua postura perante os outros personagens. Jim é mais complacente e apagado, escondendo seus sentimentos e preferindo não criar atritos que considera desnecessários… mesmo que certos personagens o incomodem ao extremo.

Lady não tem medo de bater de frente e dar sua opinião sobre tudo. Inteligente e poderosa, a versão de Tessa deixa de ser a deslumbrada protagonista para se tornar alguém mais forte e capaz de tomar suas próprias decisões. Ela não esta lá para acatar tudo que lhe dizem, muito menos engolir tudo calada, o que mostra um crescimento honroso à personagem que tanto amamos.

Vagabundo se mostra carismático e sedutor. Com a voz maliciosa e cheia de uma ginga incomparável, o vira-lata nos conquista desde o primeiro momento. Seu passado é melhor explorado aqui, assim como seus medos e dilemas. Se na animação ele se mostrou mais heroico, aqui ele ganha um ar mais falho de alguém que sempre se colocou em primeiro lugar e tem dificuldades em encarar a possibilidade de abrir mão dos seus ideais.

Jackie (Ashley Jensey) e Trusty (Sam Elliot) possuem pouco tempo de tela, se firmando mais na nostalgia dos fãs do que no real crescimento dos personagens. Tia Sarah se mostra irritante desde o primeiro momento e Elliot traz o típico antagonista menor dos clássicos que conhecemos, servindo muitas vezes como alivio cômico da trama.

Chegando de mansinho e nos conquistando aos poucos, A Dama e o Vagabundo é um filme que não pedimos mas que se mostra adorável e encantador. Acertando bem em nossos corações, o longa é um pontapé preciso para essa nova leva que a Disney quer nos proporcionar, nos afastando das espalhafatosas versões cinematográficas com a qual estamos tão acostumados nos últimos tempo, nos empolgando para as novidades que estão sendo preparadas enquanto nos faz desejar mais uma vez presenciar a magia que só uma Bella Notte pode nós proporcionar.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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