Crítica | A Escola do Bem e do Mal (The School for Good and Evil)

Nota
3.5

“O mal não colabora. O mal não compartilha. E, quando eu tiver terminado, o mal não irá perder.”

Na cidade de Gavaldon vivem duas garotas de personalidade totalmente opostas. Sophie é uma doce menina, apaixonada por contos de fadas e amante de belos vestidos, que desde a morte de sua mãe sofre nas mãos de sua madrasta e sonha com o dia que encontra seu príncipe. Agatha vive perto do cemitério, numa casa obscura, ao lado de sua mãe, que tem fama de bruxa, apaixonada por histórias de fantasmas e com um dom nato para entender receitas de poções, melhor até do que sua mãe. Apesar de opostas, as garotas são grandes amigas, apoiam sempre uma à outra, o que faz com que Agatha tente impedir Sophie de fugir da cidade, presenciando seu rapto por uma sombra que a jovem sonhadora acredita ser sua passagem para a Escola do Bem e do Mal, e acabando por ir junto com ela para esse lugar fabuloso. Mas as aparências sempre enganam…

Desconstruindo completamente as histórias de contos de fadas, o filme dirigido por Paul Feig, e baseado no primeiro livro da saga de Soman Chainani, parece surgir para a Netflix como uma forte oportunidade para competir com os famosos lançamentos live-action da Disney. Usando a premissa de que as garotas são levadas para uma escola onde os vilões, príncipes e princesas são capacitados para se tornarem personagens famosos de livros que futuramente serão distribuídos, o longa se vende pelo fato de suas referencias e seus personagens cativantes. Parecendo previsível desde seu inicio, o enredo do longa se baseia no fato de que Sophie, que tem tudo pra ser uma princesa, é enviada para a Escola do Mal, e Agatha, que tem tudo pra ser uma bruxa, é escolhida para a Escola do Bem, deixando as garotas confusas e até os professores, tentando entender o que o destino, o Diretor da Escola ou Storian está planejando com esse ato, uma história que acaba se conectando diretamente com o passado dos irmãos Rafal e Rhian, fundadores da instituição.

Infelizmente o filme sofre com a herança da narrativa pouco criativa vinda do seu livro base, mas consegue se sobressair por sua montagem lúdica e sua liberdade criativa de dinamizar o enredo, escolhendo fazer certas mudanças no roteiro para agilizar o desenrolar da história, como é o caso da Prova dos Contos que deixa de envolver maior parte dos alunos e passa a ser focada em dois personagens, ou para fortalecer criar impulsos que facilitem a evolução da trama, como é o caso da ênfase na história dos irmãos fundadores e a constante aparição do fantasma de Rafal. Outro ponto intrigante do filme é a escolha de deixar de lado as diversas referências aos contos de fada que existem no livro, algo que poderia potencializar o efeito Disney, chamando a atenção desse publico, e embarcar na mesma onda que fez o sucesso da franquia Descendentes, a final o livro deixa claro que todos os vilões, príncipes e princesas dos contos de fadas um dia foram estudantes das Escolas, trazendo referencias a isso em vários momentos, e o filme parece deixar essa informação omissa, perdendo a chance de gerar inúmeras referencias que cativariam ainda mais o publico.

No papel de Agatha, Sofia Wylie nos envolve, apesar de não roubar muito a tela, e guia satisfatoriamente a evolução de sua personagem, que se mostra independente, determinada e inteligente. Já a protagonista que mais brilha é Sophia Anne Caruso no papel de Sophie, ela passar por uma evolução que dá ainda mais humanidade a sua personagem, tentando encontrar seu lugar enquanto transita na tênue linha entre o bem e o mal, nos conectando muito mais com a forma como a revolta de Sophie parece ser a chave para um plano maligno do passado. Kerry Washington no papel de DoveyCharlize Theron como Lady Lesso se mostram ótimas escolhas, já que são duas personagens que escondem segredos e que surgem como mentoras das protagonistas, elas conseguem mostrar a luta das reitoras por não aceitar que algo fora do controle está se desenrolando com a chegada das leitoras de Gavaldon ao mesmo tempo que temem o que está além de seu conhecimento. Infelizmente Laurence Fishburne ficou extremamente subutilizado no papel do Diretor, mesmo que seja um personagem fundamental na história, desde o livro ele é um personagem com pouquíssimo tempo de tela, talvez um ator tão poderoso para o papel tenha sido um desperdício de escalação. Mas uma boa escolha é colocar Cate Blanchett como a voz de Storian/narração, dando uma atmosfera mais doce a toda a trama.

Teatral e colorido, A Escola do Bem e do Mal encanta o espectador com sua fantasia mas ainda tem rebarbas, mesmo depois de enxugar muito da trama do livro e melhorar vários pontos, os 148 minutos ainda possuem enredo sobrando ou subtramas que poderiam ser descartadas sem prejudicar o funcionamento do longa. Talvez a busca por agradar um publico mais velho, apostando em um elenco adulto de peso, tenha sido o erro, principalmente considerando que a saga de Chainani sempre mirou no público mais jovem, que se diverte com histórias de príncipes encantados e aventuras mirabolantes, deixando aos mais velhos a impressão de estar assistindo uma mistura de Harry Potter e contos de fadas. Com uma fotografia dinâmica e apostando de forma certeira em alguns efeitos especiais, a história se perde em seus excessos e pede um ritmo mais leve e natural para seu desenvolvimento.

“O que é aquilo que o Mal nunca poderá ter, e que o Bem não pode viver sem?”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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