Crítica | A Familia Addams (The Addams Family) [2019]

Nota
4

“- É Medonho!
– É Horrível!
…É o nosso lar.”

Após terem seu casamento interrompido por uma turba violenta, Gomez (Oscar Isaac) e Mortícia Addams (Charlize Theron) decidem fugir de sua terra natal e procurar um lugar mais tranquilo para construir sua família… de preferência em um local isolado onde não fossem caçados pelos moradores locais.

Para isso, eles decidem se mudar para um lugar remoto, onde nenhuma alma viva sonharia em criar raízes: o Estado de Nova Jersey. No meio do caminho, o casal tropeça em um louco homicida que fugiu de um manicômio abandonado no alto de uma colina e está possuído por um espírito maligno que aterroriza todos que ousam entrar em seu território, um local perfeito para eles chamarem de lar.

Treze anos depois, a família se prepara para o evento do ano. Seu filho Feioso (Finn Wolfhard) está prestes a passar por um rito de passagem que reunirá toda a família, mas o pesadelo dos Addams pode está prestes a piorar. Como se não bastasse a importante festa, a estranha família precisa lidar com algo tão bizarros quanto eles.

Ao longo do último ano, um bairro foi construído ao redor da montanha e, devido ao constante nevoeiro formado pelo pântano ao redor da mansão, o contato entre eles sempre se mostrou impossível. Mas, devido a um reality show comandado por uma importante apresentadora televisiva, esses dois mundos estão prestes a se chocar de uma forma avassaladora que pode levar tudo que construíram à ruína.

Após décadas desaparecidos de qualquer mídia, a família mais peculiar da cultura pop volta aos cinemas em uma versão espantosamente animada. Inspirados nas tirinhas de Charles Addams, A Família Addams ressurge em uma versão mais caricata e angulosa muito mais próxima de sua versão original do que qualquer outra já feita.

Com um humor ácido e mórbido, o longa nos reintroduz à bizarra família desde o casamento dos patriarcas até o grande choque social que estamos tão acostumados nas múltiplas versões que conhecemos. Perdendo o status aristocrático que possuíam nas versões live action (onde por muitas vezes os Addams se colocavam em um pedestal acima dos comuns), o novo longa aposta em algo mais intimista e atual que sempre permeou de modo leve as narrativas: o de estrangeiros tentando viver em solo americano.

Utilizando bem suas cores e iluminação, a animação procura evidenciar a diferença gritante entre o obscuro macabro da família e o colorido artificiais e perfeitos de seus vizinhos. A estrutura dramática dos protagonistas se mostra ainda mais acentuado ao chocar as culturas, trazendo temas poderosos a narrativa.

Os vizinhos são alimentados com um medo crescente do estranho, sendo manipulados para criar uma proteção contra o que lhe é esquisito. Medo esse alimentado por mentiras, intrigas e que procuram inflamar ainda mais a diferença entre eles. A animação possui algumas ressalvas devido ao baixo orçamento da produção, mas entrega um visual agradável que consegue entreter e divertir em sua estranheza.

Mas, com toda certeza, o maior acerto do filme esta no carisma gélido de seus personagens. Wandinha (Chloë Grace Moretz) é o verdadeiro coração da trama. A primogênita da família encara sua época rebelde, querendo conhecer o que se encontra além do portão assassino da propriedade e questionando o que o mundo pode proporcionar. É hilário ver a os atos rebeldes da garota que, de uma maneira invertida, trás um choque crescente a família. O modo como a mesma lida com acontecimentos corriqueiros aos adolescentes (como o primeiro dia de aula, a criação de novos amigos ou, ate mesmo, a construção de um novo visual ) trazem um sorriso faceiro que conforta nossos corações com seus olhares macabros e gélidos.

Feioso lida com a enorme pressão depositada em seus ombros. O garoto precisa encarar um rito que define seu futuro e teme mais do que tudo humilhar seu pai perante toda a família. Tentando a todo custo se encaixar nas expectativas criadas ao seu redor, o caçula falha miseravelmente em sua missão e isso desperta um novo sentimento em seu interior.

Gomez e Mortícia lidam com a frustração de serem contrariados por seus filhos. Conhecendo a crueldade dos normais, o casal construiu um ambiente recluso onde pudessem ser eles mesmos sem sofrerem represália ou serem caçados por sua estranheza. A rebeldia de Wandinha e a aparente falta de interesse de Feioso trazem um atrito crescente entre as gerações. Enquanto o pai, responsável pelo treinamento do rapaz, investe no sentimento de total derrota, Mortícia aprofunda uma construção mais emocional ao se ver afastada de sua filha. O conflito se torna ainda maior quando Gomez tenta se enturmar com a nova vizinhança enquanto sua esposa lembra de todo sofrimento que passaram e mantem seus pés atrás para a aparente perfeição do lugar.

Tio Chico (Nick Kroll) mantem sua personalidade boa praça, tentando equilibrar e confortar seus familiares. Vovó (Bette Midle) pouco aparece e serve apenas para aumentar ainda mais o estresse sobre Mortícia para que tudo saia perfeito. Tropeço (Conrad Vernon) e Mãozinha trazem algumas das melhores piadas visuais e auditivas do longa, sendo encaixados com perfeição e roubando os poucos momentos em que aparecem. Primo It (Snoopp Dogg) faz uma singela aparição, que cativa nossos corações.

O antagonismo da trama fica através de Margaux Needler (Allison Janney). Manipuladora, mesquinha e frívola, a apresentadora insiste em criar a comunidade perfeita para vender uma aparente normalidade enquanto observa todos ao seu redor. É através dela que o filme critica a hipocrisia social e o constante uso de Fake News para controlar a população, através do medo do desconhecido.

O longa ainda apresenta inúmeras referências ao universo do horror, algumas obvias e outras mais escondidas, além de ótimas piadas sobre o universo pop. Ainda nos presenteia com uma homenagem emocionante da serie televisiva nos despertando a nostalgia e arrancando um belo sorriso de nossos rostos.

Deliciosamente mórbido, A Família Addams acerta seu tom trazendo uma trama agradável que deve agradar até os mais saudosista dos fãs. Mesmo com seus problemas, o longa consegue nos divertir e construir uma trama certeira trazendo o melhor de seus personagens além de construir novas camadas na obra que tanto amamos. Desconstruindo as camadas de hipocrisia que nos cerca, o longa nos mostra que somos todos estranhos e que aceitação e respeito nunca são demais. Portanto, não fique surpreso se estiver distraído na sala de cinema e se pegar estalando os dedos ao som de uma canção familiar… isso é extremamente comum aqui.

“Their creepy and their kooky
Mysterious and spooky
Their all together ooky
The Addams family
Their house is a museum
When people come to see ‘em
They really are a screaming
The Addams family.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *