Crítica | A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (The Mitchells vs. the Machines)

Nota
4.5

“Os últimos humanos devem estar aqui em algum lugar!”

Katie Mitchell cresceu se sentindo uma esquisita, ela sempre amou o cinema e sempre se dedicou a criar filmes B que eram sensacionais, mas isso só fazia ela ser ainda mais rejeitada em sua escola e mais desestimulada por seu pai, Rick Mitchell. Katie cresceu, e acabou sendo aprovada para estudar na California College of Film, onde iria estudar mais a fundo o cinema e aperfeiçoar sua técnica. Faltando algumas semanas para o inicio das aulas, e após uma dura briga entre Katie e Rick por conta da descrença do pai na carreira de cinema, o patriarca da família Mitchell decide fazer uma viagem através do estado para levar Katie até o campus, uma viagem para unir novamente a família e consertar os laços quebrados. Mas como seria uma viagem dessa família disfuncional formada por Katie, a filha artista; Rick, o pai com uma enorme aversão a tecnologia; Aaron, o filho que é apaixonado por dinossauros; Linda, a mãe que é louca por motivar as pessoas; e Monchi, o cachorro da família que mais parece um porquinho; tudo isso ao mesmo tempo que o Pal Max, o novo lançamento da Pal Labs, fica fora de controle e inicia a revolução das maquinas ao redor do mundo.

Desenvolvido pela Sony Pictures Animation, o longa era parte do calendário de estreias do estúdio para setembro de 2020, mas acabou tendo que ser adiado devido à pandemia de COVID-19, o que acabou abrindo uma brecha para, em 21 de janeiro de 2021, a Netflix comprar os direitos de distribuição do filme e lança-lo mundialmente em 30 de abril de 2021. O longa, que é produzido por Phil Lord e Christopher Miller, prometia trazer muitos elementos visuais semelhantes ao último sucesso da dupla, Spider-Man: Into the Spider-Verse, junto com um roteiro que debate sobre família, amor e obsessão tecnológica. Tornando a expectativa no longa ainda maior, a Sony escolheu Mike Rianda e Jeff Rowe, ex-roteiristas de Gravity Falls, para roteirizar a produção, dividindo ainda a cadeira da direção do longa, o que já deixou o público pronto para uma trama que une humor, moral e muita obscuridade. A cereja do bolo ficou pela contratação de Mark Mothersbaugh, um grande compositor de trilhas sonoras que já colaborou em alguns trabalhos passados de Phil Lord.

Com um ficha técnica que deixa qualquer expectativa nas alturas, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas chega bem perto de cumprir com todos os nossos anseios. A obra une o estilo frenético das animações da Sony, que se completa com algumas imagens reais e vídeos do Youtube, com um debate batido, porém essencial, sobre a mania da população moderna de ficar conectado o tempo todo, criando até cenas de humor mais críticos com passagens como a fixação de Linda pela perfeição que os Posey mostram no Instagram ou com a cena do surto mundial quando a vilã, Pal, desliga todos os sinais de wi-fi do mundo. O longa ainda segue aquele padrão de trazer diálogos voltados para o público adulto em paralelo com as explosão de cores e a poluição visual que sempre serve para cativar a atenção do público mais infantil, mas erra ao puxar muitos elementos para os dois lados, o que faz com que o longa se torne infantil demais para ser realmente aproveitado pelos adultos e com diálogos complexos demais para ser plenamente digeridos pelas crianças. No final podemos refletir sobre o abuso à tecnologia, sobre a verdadeira importância do contato humano e do amor, mas principalmente podemos explorar sobre relações familiares.

Com seus 110 minutos, que poderiam ser resumidos para criar um roteiro mais direto, o longa pega o clichê esperado e preenche com uma trama cheia de piadas ótimas, plots originais e um quentinho no coração que tanto precisamos nesses tempos tão difíceis. Não da para deixar de citar Eric e Deborah, os dois robôs tão adoráveis que acabam cruzando com os Mitchell no caminho da revolta e, depois de um acidente que causa uma falha neles, acabam desenvolvendo uma humanidade que os faz evoluir e se tornar grandes aliados numa batalha pela sobrevivência. Cheio de referências à cultura pop, homenagens à história do cinema e uma preparação técnica de mestre, é fácil cogitar que seja possivel ver o nome de The Mitchells vs. the Machines na lista de pré-indicados ao Oscar 2022 de Melhor Animação.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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