Crítica | A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson (The Death and Life of Marsha P. Johnson)

Nota
5

Em 1969, após anos de repressão policial nos bares gays em Nova Iorque, um grupo de ativistas finalmente reagiram no dia 28 de junho. E após tijolos arremessados contra os policiais que queriam prender os frequentadores do Stonewall Inn., que deu-se início a diversas manifestações para os direitos LGBTQ+. Na época, algumas das pessoas mais influentes do movimento eram Marsha P. Johnson, ativista drag queen e gênero não conforme, e Sylvia Rivera, ativista trans, tornando-as dois dos maiores nomes para a liberação de direitos, do movimento Gay Power e do grupo criado por elas, STAR (Street Transvestite Action Revolutionaries). Mas tanta atenção também atrai olhares de opositores. Em 6 de julho de 1992, Marsha foi encontrada morta em Nova Iorque. A causa da morte? Para a polícia suicídio. Mas para todos que conheciam Marsha, seria impossível. Por isso, depois de 25 anos, a advogada criminal prestes a se aposentar, Victoria Cruz, especializada em crimes contra pessoas LGBTQ+, tenta reunir depoimentos para contar a história da importante vida de Marsha P. Johnson e para tentar encontrar uma luz para o que resultou em sua trágica morte. 

Disponível na Netflix, A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson foi dirigido pelo repórter investigativo David France, conhecido por dirigir e produzir documentários sobre temas relacionados à população LGBTQ+, e por Mark Blane, diretor de filmes indies. Dessa vez, David e sua equipe reuniram um acervo impressionante com imagens desde os atos de 1969, com discursos de Marsha e Sylvia Rivera, assim como momentos íntimos e cotidianos de Marsha alguns anos antes de sua morte. A edição do documentário segue bastante o padrão documental da Netflix, até porque na época de sua disponibilização, 2017, a empresa estava muito focada na produção de documentários, que estão cada vez mais populares até hoje. Mas ainda seguindo uma fórmula pronta da distribuidora, o documentário consegue expor muito bem as narrativas sobre as ativistas que ele investiga de forma super respeitosa e de certa forma educacional.

Uma das figuras recorrentes do documentário, a advogada Victoria Cruz, é sem dúvida muito importante para a construção da narrativa apresentada pelo doc, não apenas por ela dar seu rosto para todo o processo investigativo, o que combina muito com sua personalidade forte, mas também por compartilhar sempre suas vivências como uma pessoa trans, que viveu na mesma época das ativistas. Outro ponto fortíssimo de A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson, é o foco que se dá para Sylvia Rivera, já que ela não apenas era amiga íntima de Marsha, mas também uma líder tão importante como a Marsha no movimento de liberação gay. E é muito interessante acompanhar os depoimentos de Sylvia Rivera em filmagens de arquivo após dois anos da morte de Marsha, não só por toda a sua explicação dos eventos históricos com o impacto que elas tiveram, mas também por conseguirmos entender bem como funcionava a relação das duas por meio de seus depoimentos emocionados de quando ela falava de sua velha amiga.

A Morte e a Vida de Marsha P. Johnson é um documentário importantíssimo para a comunidade LGBTQ+, por reunir diversos eventos históricos sobre o movimento de liberação dos direitos LGBTQ+. Os diretores, juntamente de Victoria Cruz, fazem toda uma investigação para coletar depoimentos de pessoas próximas da Marsha P. Johnson com o objetivo de educar sobre a luta das ativistas nos anos 70, mas também para tentar trazer respostas sobre a morte misteriosa de Marsha P. Johnson. Durante o mês do orgulho, saber sobre a história de ícones LGBTQ+ serve para ajudar a reescrever a história e ajuda a continuar a lutar por novos direitos a serem conquistados, assim como Marsha e Sylvia fizeram nos anos 70, 80 e 90, e como Victoria Cruz fez até a sua aposentadoria. Ver o que foi feito no passado deve inspirar as novas gerações a ir à luta pelas que vieram antes de nós e pelas que ainda virão depois de nós. 

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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