Crítica | A Mosca (The Fly)

Nota
5

Dirigido por David Cronenbeg, A Mosca nos mostra a vida do ambicioso cientista Seth Brundle (Jeff Goldblum), que está disposto a criar uma maquina que irá revolucionar a ciência custe o que custar. Em um certo ponto, percebemos que a ganancia de Seth vai muito além da ciência e da sua vontade de mudar o mundo, e isso desencadeia uma sequência de eventos catastróficos que acaba afastando Veronica Quaife (Geena Davis), a única mulher que realmente se importou com ele.

A primeira cena do filme já nos leva à obsessão de Seth em querer ser grande e reconhecido em seu trabalho, e isso acaba nos prendendo na trama, já que o cientista parece convencido de que sua ideia será um sucesso, e enquanto ele devaneia com suas promessas conhecemos a jornalista Veronica Quaife, que é determinada e tão ambiciosa quanto ele, e então que temos o primeiro vislumbre da máquina revolucionária. Jeff Goldblum faz um excelente trabalho nos entregando um personagem obsessivo que aos poucos vai se transformando em um monstro grotesco, e que perde toda a sua humanidade, não se importando com ninguém além de si mesmo, mas ao mesmo tempo ele também consegue expressar a dor e a confusão de estar passando por toda essa situação aterrorizante.

A cada minuto que passa o filme vai ficando cada vez mais grotesco a medida que vamos acompanhando a transformação física de Seth, que no começo é bastante sútil mas o bastante para que notemos antes mesmo que os próprios personagens, graças à equipe de maquiagem incrível liderada por Chris Walas, conhecido por seu trabalho em Gremlins, e que aqui também fez um trabalho impecável, escolhendo os efeitos práticos com próteses realistas muito avançadas para a época, além de exagerar no sangue e fluidos corporais bizarros durante todo o filme.

O diretor David Cronenberg é conhecido pelos seus filmes de terror e ficção científica, sendo um dos pioneiros no sub gênero do body horror com o filme A Mosca, que até hoje é usado como referências em obras do mesmo sub gênero, como o recente sucesso A Substância. Sua direção é afiada, conseguindo fluir bem entre a ficção científica e o terror, já que durante as situações mais tensas do filme ele consegue até mesmo usar a trilha sonora para ampliar o medo, em determinadas cenas que pode causar um embrulho no estômago, o que é brilhantemente construído do momento que as coisas começam a dar errado até chegar à sequencia final.

A combinação dos efeitos práticos e da trilha sonora é um dos pontos altos do filme, que constrói toda a atmosfera assustadora em cima das pequenas mudanças no corpo do protagonista, tanto fisicamente quanto emocionalmente, já que em poucos minutos seu jeito de falar, andar e até mesmo agir mudam drasticamente. Apesar dos avisos ignorados por ele, já que em um determinado momento todos percebem que algo esta errado, ele se permite ignora-los, o que mantem sua personalidade arrogante que já havíamos conhecido nos primeiros minutos.

Do inicio ao fim temos uma historia bem fluida sem distrações da trama principal, não existe pontas soltas ou perguntas sem resposta, o filme deixa claro o motivo de tudo ter acontecido. A escolha do filme ser ambientado quase que exclusivamente no laboratório e na casa do protagonista nos leva a nos apegar ainda mais na trama, já que começamos a perceber as mudanças no ambiente a medida que o protagonista começa a passar pela metamorfose. Uma hora vemos o ambiente organizado e limpo e na outra bagunçado e sujo, remetendo a nova vida de Seth. A Mosca é um filme repulsivo, o que o torna incrível de um jeito único, graças a direção impecável de David Cronenberg, que não mede esforços para nos levar ao limite com cenas chocantes.

 

Médica Veterinária que ama cinema e adora tudo envolvendo a cultura pop.

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