Crítica | A Mulher na Janela (The Woman in the Window)

Nota
3.5

“Minha vizinha, Jane, foi esfaqueada.”

Anna Fox é uma psicóloga que sofre de agorafobia e mora sozinha na casa que um dia abrigou sua família feliz. Sem o marido e sua filha, depois de um duro divórcio, ela vive trancada em sua casa, passa seus dias bebendo vinho, assistindo filmes antigos e conversando com estranhos na internet, mas sua rotina começa a mudar quando uma nova família se muda para a casa em frente a sua, deixando Anna obcecada por aquela vida perfeita… Até a noite em que, enquanto estava bisbilhotando pela janela, ela vê um crime acontecer.

Lançado pela Netflix em 14 de maio de 2021, o longa é mais uma das produções que foram feitas para o cinema mas acabaram sendo compradas pela empresa de streaming e lançadas mundialmente em seu catálogo. Com direção de Joe Wright, o filme produzido pela 20th Century Studios é uma adaptação do famoso suspense homônimo de A. J. Finn, e é protagonizado pela maravilhosa Amy Adams e o surpreendente Gary Oldman, a formula perfeita para um sucesso, mas que dá terrivelmente errado. O livro de Finn é denso, mostra Anna como uma mulher com muitos problemas, mostra que ela bebe vinho literalmente o dia todo, e fica o tempo todo brincando com os seus leitores, deixando no ar a angustia da dúvida sobre o que Anna realmente viu, o psicológico de Anna é explorado ao máximo no decorrer das páginas, e é isso que faz os leitores ficarem ainda mais curiosos por entender o que realmente está acontecendo. No filme tudo isso é explorado de forma rasa, Anna tem agorafobia, gosta de beber, mas nada é tão denso assim, tudo parece plástico demais, e essa falta de profundidade cobra seu preço em vários momentos do filme, principalmente quando cenas de destaque da obra original são reproduzidas sem uma explicação muito eficiente, o que impede os espectadores de absorver pontos importantes da evolução do grande antagonista da trama.

No papel de Anna, Adams parecia uma promessa de uma exploração complexa, nos mostrando todas as camadas da moça enquanto nos afundava no mundo dela, mas talvez o grande problema tenha sido as limitações que o roteiro de Tracy Letts deu ao longa. O papel de Oldman parece ser o contraponto perfeito para Anna, Alistair Russel parece ser um homem violento, tem um passado duvidoso e todas as características que deixam Oldman completamente confortável no papel vilanesco, mas ele perde muito pela falta de evolução do seu personagem, Alistair nos faz acusar ele o tempo todo, mas hora nenhuma nos dá uma conexão verdadeira com os eventos, ele é apenas o suspeito perfeito, mesmo que ele tenha pouquíssimo tempo de tela. A participação de Julianne Moore é certeira, ela carrega segredos e encontra em Anna um porto seguro, mas no momento que Anna a vê sendo assassinada, tudo parece se desfazer na sua frente, a mulher realmente não existe? Ela realmente nunca passou na casa de Anna? Ela era uma ilusão da mente doentia de Anna?

Não se pode negar que A Mulher na Janela tem um elenco super competente, um roteiro cheio de reviravoltas, uma direção impressionante e uma fotografia belíssimas, mas ele também é a prova que nem a reunião de tudo isso é suficiente para criar uma produção que vale a pena ver, tudo pode ser prejudicado quando o roteiro tem certos furos, quando os personagens não se encaixam em seus interpretes ou quando o excesso de qualidades técnicas não ajuda o enredo a realmente engajar. É incômodo sentir que o longa quer se valer mais das inúmeras referencias aos suspenses clássicos do que realmente a construir seu espaço, não sabendo aproveitar todo o potencial que possui com seu mistério intrigante ou com a atuação, sempre sólida, de Adams, perdendo muito por conta de um roteiro apressado e a falta de desenvolvimento de seus personagens coadjuvantes, o que cobra seu preço no ato final, quando o grande desfecho da trama se prejudica pela falta de expansão do enredo de um dos personagens.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *