Crítica | A Noiva Cadáver (Corpse Bride)

Nota
5

“ Com esta mão espantarei suas tristezas. Sua taça nunca estará vazia, pois serei o seu vinho. Com esta vela iluminarei seu caminho na escuridão. E com esta aliança… eu peço a você que seja minha.”

Victor Van Dor (Johnny Depp) é um jovem que esta prestes a se casar. Filho de um casal de novos ricos, o rapaz se vê preso a um casamento arranjado com uma garota que nunca viu na vida, apenas por ter sangue aristocrático que pode elevar o nome de sua família. A jovem em questão é a doce e bela Victória Everglot (Emily Watson) que, devido a falência iminente de seus pais, concorda com o casório mesmo acreditando que só se deve casar por amor.

Após se conhecerem, Victor e Victória se apaixonam perdidamente mas, devido ao nervosismo do rapaz, o ensaio de casamento é arruinado, o que o leva a floresta para ensaiar seus votos. Sozinho e perdido, ele repete incessantemente as frases apenas para ter um fracasso após o outro. Até que, abrindo seu coração, ele declama com maestria, finalizando sua eloquência ao colocar a aliança em um galho seco em formato de mão, que acaba se mostrando um braço real de Emily (Helena Bonham Carter), uma noiva cadáver que foi brutalmente assassinada por seu antigo amor.

Assustado, Victor tenta fugir apenas para ser pego pela criatura e arrastado para o mundo dos mortos, onde descobre que realmente se casou com o cadáver. Enquanto tenta se livrar da confusão, Victor acaba conhecendo melhor sua estranha esposa e se afeiçoado por seu jeito delicado e sonhador, mas precisa retornar o quanto antes para impedir o casamento de sua amada Victoria com o misterioso Lorde Barkis (Richard E. Grant).

Baseado em um popular conto russo-judaico, A Noiva Cadáver reúne todos os aspectos do que se espera de um longa Burtoriano. Dirigido por Tim Burton e Mike Johnson, o longa mistura conceitos tenebrosos com o lúdico infantil, que só Burton consegue produzir. Inserindo sua veia gótica em uma história fabulesca, Burton consegue despertar o melhor de si em um lugar seguro mas bem arranjado, que conversar diretamente com o espectador.

Sua viagem já insere o público em uma versão apática e enevoada de uma pequena vila vitoriana, que se prepara para um grande evento social. Toda a construção do ambiente decai em um cinza azulado, que reflete a morbidez do ambiente opressor que procura representar, trazendo um aspecto sombrio a personagens que pouco emitem vida. O que cria um contraste tremendo com o Mundo Dos Mortos, que é colorido eloquente e divertido, onde os mortos verdadeiramente ganham vida diante de nossos olhos.

Essa dualidade, exposta pelas cores, sombras e animações, traz uma dinâmica tão poderosa que eleva ainda mais a critica passada pelo longa. Tudo no mundo dos mortos é grandioso e farto, enquanto o mundo dos vivos é contido e escasso. O tema familiar de Victor possui um tom mais fúnebre do que a morte trágica de Emily, que é narrada de maneira espetacular em um número musical primoroso.

O humor negro, tão latente na obra, é apresentado de forma magnífica. Seja por piadas físicas, utilizando as partes em decomposição de seus personagens, ou pelo desconforto das situações, tudo é orquestrado com maestria. Os amigo os cômicos e as brincadeiras com o macabro traz em uma ótima dinâmica, ai mais acertada quando o filme decide colidir seus mundos de uma maneira poderosa e divertida, invertendo tudo aquilo que se esperava para o encontro.

Victor se encontra preso entre os dois mundos, sendo a peça chave em todo o conceito do filme. Durante seu tempo no mundo dos vivos, o jovem se mostra desajeitado e desconfortável, sempre com uma morbidez avassaladora de um pessimista nato, mas, durante sua estadia no mundo dos mortos, o personagem ganha vida e tem uma voz ativa, que evolui em uma crescente grandiosa. Depp, tão acostumado com o papel de esquisitos, entrega toda estranheza necessária para construção do personagem, demostrando uma habilidade impecável em encarnar o que lhe foi proposto.

A personagem titulo é tão doce e encantadora, que consegue nos conquistar de uma maneira impecável. Emily sente tanta sede em vivenciar um amor que sufoca o livre-arbítrio de seu amado, se agarrando a qualquer um que lhe demonstre afeto enquanto luta para mostrar suas qualidades. Mas é exatamente quando ela baixa a guarda que elas afloram, trazendo uma ligação emocional não só com o protagonista como com o publico. É com ela que presenciamos a carga emocional do filme, além do flerte massivo com momentos de puro terror que nos mostra um lado mais obscuro de sua persona. Nada disso seria possível sem a atuação impecável de Helena, que dá vida à morte de sua personagem sem perder seu carisma e vivacidade.

Extremamente envolvente e emocional, A Noiva Cadáver entrega um verdadeiro deleite audiovisual. Seja pela maestria com que a história é narrada, pelas musicas marcantes ou pelo carisma de seus personagens, a trama conquista seu público enquanto mostra uma técnica refinada que transcende sua idade. Repleto de dualidade e com uma mensagem poderosa, o longa nos presenteia com uma obra charmosa que traz o melhor de seu diretor: seu coração. E, acredite, não seria loucura revisitar sua trama vezes repetidas para apreciar ainda mais o que nos foi mostrado.

“Vai, vai chegar sua vez. A morte virá não importa o freguês. Você pode até se esconder e rezar, mas do funeral não irá escapar.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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