Crítica | A Pequena Sereia (The Little Mermaid) [2023]

Nota
4.5

“When’s it my turn? Wouldn’t I love, love to explore that shore up above?

Em 2010, a Disney descobriu uma verdadeira mina de ouro: versões live-action de seus amados filmes. Para executar tal façanha, ela precisava encontrar um ponto de equilíbrio entre o cerne de seus clássicos e as atualizações necessárias para tornar suas tramas mais atrativas ao novo público, justificando assim uma nova visita a suas histórias. Acontece que algumas tentativas mais afastaram do que aproximaram, fazendo o público questionar a necessidade de tal releitura.

Pois bem, no centenário da empresa, um novo clássico foi escolhido para ganhar sua versão em carne e osso, um filme que uma vez já salvou o estúdio da falência e conseguiu reerguer aquela magia que o publico tanto amava. Mas teria Ariel força suficiente para encontrar o melhor dos dois mundos e repetir seu feito histórico?

Dirigido por Rob Marshall e roteirizado por Jane Goldman e David Magee, a nova versão de A Pequena Sereia consegue transpor os empecilhos e reavivar o encanto Disney que tanto amamos. Embora esteja longe de ser perfeito, o live-action traz algo que a muito se ausentava nas produções realistas do estúdio: uma alma esplêndida para o projeto.

A história clássica ganha novas camadas, levantando questionamentos oportunos que nos deixam curiosos sobre aquilo que não é dito ao longo da narrativa. Cada um dos mundos tem um aspecto, que remodela aquilo que já conhecemos sem perder sua essência da narrativa, transformando e aprimorando a beleza e curiosidade já presentes na animação.

As cenas subaquáticas são maravilhosas, se tornando uma crescente sublime ao espectador. O realismo nos animais não incomoda em momento algum, e algumas cenas parecem ter sido tiradas diretamente da animação, trazendo uma nostalgia acolhedora. Mas o filme verdadeiramente cresce quando vira sua visão para a superfície, onde tem uma oportunidade mais palpável de apresentar seus novos dilemas. Todos os traços europeus são abandonados, abraçando o cerne caribenho que combina perfeitamente com a história contada. Mais um acerto da produção.

Mas, para construir uma boa história, eles precisariam de mais uma peça central para o filme: uma protagonista a altura do clássico apresentado. Halle Bailey constrói a Ariel perfeita, apresentando todas as nuances e características pessoais de sua personagem em uma atuação que nos deixa apaixonado desde o primeiro momento em que a vimos. Sua voz, tão distinta e envolvente, parece ter saído de um verdadeiro conto de fadas, assim como sua linguagem corporal que se mostra confortável a cada reviravolta que a história necessita. Se existe um acerto nesse filme, com toda certeza está em sua escalação.

Melissa McCarthy traz uma Úrsula espalhafatosa e aterrorizante, mas parece travada com os movimentos que foram impostos durante as gravações. Ela até tenta transpor essas dificuldades com seu carisma, mas lhe falta a fluidez necessária para incorporar verdadeiramente a Bruxa do Mar. O mesmo não podemos falar da Vanessa de Jessica Alexandre, que traz toda a sexualidade, ódio e raiva necessários para a personagem. No pouco que aparece, a personagem rouba a cena, nos fazendo desejar mais de sua presença em tela.

Eric (Johan Hauer-King) é o que mais se favorece com as novas adições, ganhando uma nova motivação que o torna mais real e próximo da protagonista. Sua paixão pelo mundo subaquático traz um paralelo palpável, reforçando a conexão de almas que parecem tão separadas pelo ambiente ao redor. Não é a toa que o príncipe agora ganha uma mãe, a Rainha Selina (Jude Akuwudike), que serve como espelho para os ideais de Tritão (Javier Bardem).

Linguado (Jacob Tremblay) possui a mesma essência covarde e leal da animação, mas pouco aparece no longa, já Sebastião (Daveed Diggs) e Sabidão (Awkwafina) formam uma dupla maravilhosa, que carregam a veia cômica do filme. Seu dueto é simplesmente incrível, trazendo uma assinatura presente de Lin-Manuel Miranda que divide os musicais com o gênio Alan Menken, em uma colaboração que não sabíamos que precisávamos.

Under the Sea é o melhor exemplo para isso, começando mais contida mas ganhando proporções gigantescas e eletrizantes. Um verdadeiro deleite visual e um show a parte para o espectador. Kiss the Girl é outro momento marcante que foi respeitado e atualizado. Mas o longa nos conquista em Part of Your World, onde Halle eleva a canção a um novo patamar que jamais imaginaríamos.

Poor Unfortunate Souls é a melhor definição para um show musical, onde cada aspecto se torna mais grandioso e dramático para nos seduzir a fazer um trato, assim como Vanessa’s Trick traz uma arrepiante melodia que abraça nossos temores. Já as canções originais fluem com maestria, parecendo terem pertencido desde sempre àquele universo.

A Pequena Sereia nos dá de volta toda a magia que achávamos ter perdido, respeitando seu material de origem enquanto atualiza o que é necessário. Não surpreendentemente, a sereia mais amada da história consegue salvar nossas esperanças nos projetos da empresa e devolver aquilo que sempre amamos na Disney: sua capacidade de contar boas histórias em um universo mágico que desejaríamos tanto fazer parte, nem que seja por duas horas encantadoras.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *