Crítica | A Primeira Profecia (The First Omen)

Nota
4

“Por favor, não deixem que aquilo me toque de novo.”

Margaret Daino é uma jovem americana que cresceu como orfã em um convento, nesse periodo ela acabou conhecendo o Padre Lawrence e decidindo seguir o caminho da devoção. Prestes a fazer seus votos, Margaret é convidada pelo Padre Lawrence a ir à roma, onde passaria a viver a serviço da igreja onde ele atua, mas quando ela conhece Carlita Scianna começa a enxergar que há algo errado acontecendo naquela igreja, que as atitudes da Irmã Silva podem não ser tão aceitaveis assim e que uma escuridão parece envolver a atmosfera daquele edificio, o que a faz questionar sua fé e se ver arrastada para uma conspiração tenebrosa, que planeja trazer ao mundo o AntiCristo, o mal encarnado em uma criança.

Em abril de 2016 fomos atingidos pelo anuncio de um prelúdio de The Omen (1976), o que tornou o filme roteirizado por Ben Jacoby um dos filmes de terror mais esperados de 2024 pelos fãs do clássico. Mas o resultado entregue por Tim Smith, Arkasha Stevenson e Keith Thomas, e dirigido por Stevenson, pode ser muito diferente do que espera. O longa começa mostrando a que veio em seus primeiros minutos, quando nos apresenta uma cena intensa, sem piedade e agil de uma forma inesperada, jogando o Padre Brennan em cena e citando o Padre Spiletto em uma sequência pontual, mas nem por isso menos tensa. Logo depois é chegado o momento de conhecer Margaret, a protagonista que guia a investigação para descobrir os segredos por trás de Carlita e dos segredos da igreja que está inserida, sem hora nenhuma deixar oculto que estamos vendo os eventos que levaram à concepção de Damien Thorn, uma das mais famosas representações do AntiCristo da história do cinema. Mas ao mesmo tempo que o longa já tem seu final definido, o roteiro não se deixa abalar, floreando todo o processo que leva ao objetivo conhecido e sabendo criar reviravoltas que claramente dão um valor ainda maior à trama, mas arriscando ao mexer no canon, deixando no ar se a intenção do longa é realmente fazer uma prequela para o clássico de 1976 ou criar uma base para um novo remake.

Com a trama se passando em 1971, o longa sabe construir cenários e figurinos que fazem justiça à epoca, não tendo medo de trazer cenas que se passam em meio à àrea urbana de Roma e quebrando a expectativa (frustante) de ver um filme que se passa exclusivamente dentro das dependencias de uma igreja. Como se não bastasse as boas escolhas do roteiro e da direção, o enredo se fortalece pela performance envolvente de Nell Tiger Free, que ainda traz alguns traços doces de Myrcella Baratheon para a sua Margarette, mas o longa trabalha em sua transformação, começando a enxergar que nem tudo é tão santo dentro da igreja em paralelo com sua libertação incentivada pela Irmã Luz, que a leva para bares e para conhecer o mundo antes de se entregar completamente a Deus. Mas se Nell consegue sustentar bem a trama com a inocência de Margarett, a rispidez que Sônia Braga entrega com sua Irmã Silva é outro ponto alto. Ela personifica, como a Abadessa, o papel da carrasca, sempre de olho nos movimentos de Margarett, sempre a repreendendo e sendo responsavel por toda a tortura que Carlita passa. Claro que não da pra deixar de citar a performance incomoda de Ishtar Currie-Wilson, que dá um show como a bizarra Irmã Anjelica.

Seguindo diferentes vertentes narrativas, o longa sabe construir a história de Margarett ao mesmo tempo que desenrola a história de Carlita, sabendo evoluir as duas personagens habilmente dentro do enredo e tornando suas histórias independentes uma da outra, mesmo deixando as interações significativas para o processo de desenvolvimento de ambas e levando tudo a um final onde a conexão entre elas se torna essencial para o desfecho. Incomodo, brutal e impactante, A Primeira Profecia sabe surpreender com um enredo visceral e cheio de referências ao clássico de 1976, por outro lado, infelizmente o longa não consegue sustentar seu nível narrativo em 100% da obra, ficando um pouco morno em sua metade e só voltando a realmente nos pegar perto do final, mas uma coisa é certa, a produção consegue resgatar aquela atmosfera de terror antigo, trazendo para o longa o estilo que tanto nos fez amar o original, de 1976, quase como se Richard Donner tivesse voltado a vida, enfase no quase.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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