Crítica | A Princesa e o Sapo (The Princess and The Frog)

Nota
4

“No céu, a estrela vai brilhar, o seu pedido iluminar. A mágica está no ar e nada é impossível.”

Tiana sempre teve um objetivo claro, realizar o sonho de seu pai e abrir o tão sonhado restaurante que ambos desejavam. Mesmo que ninguém, além de sua mãe, acredite que ela um dia vai conseguir seu objetivo, ela continua focada e determinada, aguentando os sarros e o cansaço para cumprir sua missão.

Enquanto trabalha em dois empregos, vira turnos e junta as gorjetas para conseguir realizar seu sonho, Tiana não encontra tempo para mais nada além de seu trabalho e esforço.

Preocupada, sua mãe Eudora (Oprah Winfrey) alerta a filha que o trabalho não é tudo na vida e que, embora não tenha realizado seu sonho em vida, seu pai tinha algo ainda mais importante: o amor. A pobre garçonete vê seus sonhos comprometidos quando recebe a notícia de que sua proposta foi coberta e ela tem um prazo curto para fazer uma contraproposta. Desolada, ela faz a única coisa que surge em sua mente: um desejo à estrela mais brilhante do céu. E é ai que um sapo falante aparece no parapeito da janela.

O sapo confessa ser o Naveen, o príncipe da Maldonia que acaba de chegar a Nova Orleans e foi amaldiçoado pelo Homem das Sombras. Depois de um desentendimento, Naveen tem uma grande ideia para quebrar sua maldição. Observando o livro, O Príncipe Sapo, ele sugere que o beijo de uma princesa possa quebrar a maldição e, se Tiana ajudá-lo, ele irá ajudá-la a realizar o seu sonho. O que ele não conta é que está falido e precisa urgentemente casar com uma moça rica para voltar a boa vida.

Depois de uma grande relutância, Tiana topa beijar o sapo gosmento, mas, como não é uma princesa o feitiço se reverte, e, ao invés de transformar Naveen em um Príncipe, o beijo transforma Tiana em uma sapa. Agora, os dois anfíbios partem em uma grande aventura em meio aos pântanos da Louisiana, tentando quebrar a maldição e reverter a enrascada em que se meteram, antes que seja tarde demais e seus sonhos afundem de vez nas terras alagadas de Nova Orleans.

Após o fracasso financeiro de Nem que a Vaca Tussa, a Disney Animaction Studio decidiu não fazer mais animações com traços tradicionais, ou seja, sem os grandiosos traços em 2D que encantaram gerações e elevaram o estúdio. Mas, após grandes mudanças na direção da empresa, uma centelha de esperança brilhou e trouxe uma nova era para o mundo mágico do camundongo mais querido do mundo.

A Princesa e o Sapo é o 49° longa animado produzido pela Disney, trazendo de volta um dos maiores acertos do estúdio: os clássicos contos de fada. Fazendo uma releitura contemporânea de O Príncipe Sapo, dos Irmãos Grimm, trazendo à tona uma Nova Orleans do século XX com uma presença gritante logo no início da trama, mostrando uma diferença social bem estabelecida e forte para o desenrolar do longa. A animação já começa quebrando um velho paradigma da empresa, quando se coloca a criticar a velha expressão: faça um pedido a uma estrela e ele vai se realizar. Aqui é mostrado logo de cara que mesmo o mais forte dos pedidos não vai se realizar sozinho apenas acreditando, você precisa fazer acontecer.

As criticas sociais mostradas logo na cena inicial nos acompanham durante todo o filme. Enquanto uns conseguem tudo o que querem sem um mínimo esforço; outros têm que trabalhar duro para conseguir seus sonhos. Não me entenda mal, isso não torna alguém bom ou ruim, apenas mostra a nossa desigualdade social e o esforço dobrado que precisamos fazer. Um acerto brilhante da Disney.

A animação é colorida e vibrante, nos fazendo imergir de cabeça no mundo que nos é mostrado e brincando bem com os tons. Seja no neon obscuro dos amigos do outro lado, ou no musgo em tons vibrantes do pântano, toda a fotografia nos traz uma mistura exuberante de cores e vida, incrementados com os tons sombrios quando se é preciso. Os rios, pântanos e a própria Nova Orleans são repletos de detalhes e beleza, arriscando bem ao construir um local de época.

A trilha sonora é impecável. O jazz e a alegria que os personagens passam são transportados ao público de forma ímpar. As músicas memoráveis começam com uma apresentação formidável com a dançante Down in New Orleans, que nos mostra cada personagem, seus papéis na trama e nos fazem criar uma contexto claro ao apresentar suas diferentes personalidades. Seguida de Almost There, que nos aprofunda na jornada de Tiana e sua visão de mundo, seus esforços e o quanto ela não se importa de abrir mão de sua vida social para conseguir seu objetivo; afinal, ela está quase lá… Friends of the Other Side nos transporta para as problemáticas de Naveen e seu mordomo Lawrence, além de mostrar uma desenvoltura ímpar do Dr. Facilier em convencer e ludibriar. Passamos pela encantadora Ma Belle Evangeline e a empolgante e precisa Creuse encore et encore, que nos mostra que o que importa é o que temos dentro.

Tiana (Anika Noni Rose) é forte e destemida, ela não espera que ninguém lhe entregue as coisas de mão beijada e está longe de desejar um Príncipe Encantado em sua vida. Ela tem os pés no chão e, embora seja uma sonhadora, crê fielmente que seu sonho só vai ser real com seu esforço. Tiana representa milhares de mulheres trabalhadoras que não esperam uma vida fácil e estão dispostas a tudo para lutar por seus ideais. Em contrapartida, temos Naveen (Bruno Campos) que precisa desesperadamente casar para sair da falência, mas só se preocupa em usufruir das coisas boas que a vida dá. Ele é o oposto de tudo que se espera de um Príncipe da Disney. Malandro, galanteador e que parece conquistar tudo com sua bela aparência, Naveen mostra um gingado mais brincalhão e de bem com a vida, sempre querendo tirar vantagem e com um sorriso fácil no rosto. É interessante acompanhar o crescimento de ambos os personagens e como eles aprendem a conviver e melhorar um com o outro.

Em segundo plano, temos a mimada Charlotte (Jennifer Cody) que sempre teve tudo de mão beijada, mas sabe bem os privilégios que tem. Charlotte é engraçada, espalhafatosa e bastante exagerada, mas isso não diminui o quão boa amiga ela é e o quanto se importa com a felicidade de Tiana. Louis (Michael-Leon Wooley) é um crocodilo amante de Jazz que sonha um dia poder tocar com os humanos, e temos o doce e sonhador Ray (Jim Cummings), que nos toca o coração com sua luminosidade esplendorosa e arranca lágrimas de nossos corações. Obrigado por esse personagem maravilhoso, Disney.

Mama Odie (Jenifer Lewis) faz o papel de velha sabia que enxerga a alma de nossos protagonistas, mesmo sendo cega, e sabe bem o que diz. Mas o que seria do filme sem seu arrepiante vilão? Dr. Facilier (Keith David) nos mostra um charlatão sedutor que consegue dobrar qualquer um (ou quase) na lábia, ele sabe bem arquitetar seus planos, mostrando o lado negro da magia e o quão forte e perversos são seus amigos do outro lado. Mas não se engane, tudo tem o seu devido preço e ele pode ser caro até demais.

Com um ritmo vibrante e trazendo uma representação necessária para a franquia Princesas, A Princesa e o Sapo traz a fagulha que a Disney precisava para entrar de novo nos trilhos e trazer uma imersão completa no novo mundo que estava sendo construído. Nos mostrando que embora o trabalho seja preciso, as pequenas coisas da vida são ainda mais importantes e que nem sempre nosso desejo é o que realmente precisamos. Tudo o que procuramos pode estar escondidos em nossas camadas e talvez seja preciso cavar um pouco mais fundo.

“Esta cidade na verdade faz a gente se acomodar. Eu sei muito bem pra onde estou indo e sinto que qualquer dia vou chegar. Estou quase lá, quase lá…”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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