Crítica | A Sala dos Professores (The Teacher’s Lounge)

Nota
3

O que você faria se estivesse na pele de uma professora vivenciando uma realidade em que todos os seus alunos estão contra você? É o que Carla Nowak (Leonie Benesch) passa em The Teacher’s Lounge. O filme alemão de 2024, dirigido por İlker Çatak concorre à categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, e o fato de estar nomeado vem de como conseguem articular bem um ambiente de tensão. Esse cenário de ansiedade, inquietude e desconfiança entre alunos e o corpo docente da escola se inicia com a chegada de uma professora de matemática, a qual nota que alguns roubos vêm acontecendo lá. Então fica o questionamento: os responsáveis por esses atos são os funcionários ou os alunos?

O suspense não dura tanto tempo, pois antes da metade do filme, investigando por conta própria, Carla Nowak grava um vídeo escondido na sala dos professores, encontrando evidências de que quem estava por trás dos roubos no colégio era a Sra. Kuhn (Eva Lobau), mãe do seu aluno Oskar (Leonard Stettnisch). Esse garoto, portanto, é massacrado pelos estudantes o tempo inteiro, enquanto a professora sempre o defende. Porém, ele continua contra a professora, colocando-a como culpada de toda a situação e inocentando a sua mãe. Não só ele, como todos os alunos, e boa parte dos professores também não estão do lado da Carla, sobrando, portanto, a empatia com ela para o próprio espectador. Cabe elogiar a atuação muito boa da atriz Leonie Benesch, que entrega o seu nome ao ajudar na criação do ambiente de tensão de The Teacher’s Lounge de forma tão eficiente e profissional. Contudo, é contraditório demais acompanhar todo o filme esperando por um momento em que a professora enfim será escutada e vista pela verdade dos fatos, mas esse momento nunca chega.

Dessa maneira, toda a tensão que é criada na obra acaba por não levar o espectador a lugar nenhum. Percebe-se a intenção do diretor em sair dos moldes da narrativa da jornada do herói, a partir da revelação do mistério no início do filme, e quando o próprio espectador consegue notar que todos os personagens são contraditórios em suas ações. Assim, a tensão existente entre todos no colégio deixa o público, portanto, aguardando pelo momento em que haverá algum julgamento da Sra. Kuhn e Carla Nowak, mas ele não acontece. Dessa forma, a professora sofre o filme inteiro, e pelo final da a entender que ela ainda iria sofrer bastante. Ademais, The Teacher’s Lounge aborda a questão da relação entre docente, aluno e o poder. Fica bastante perceptível como a obra quer falar sobre noções de autoridade no ambiente acadêmico, tendo em vista que Carla é totalmente massacrada e desrespeitada por seus alunos, chegando ao ponto até mesmo de ser agredida por Oskar. Mas também não é evidente qual o posicionamento do filme em relação a isso, já que o diretor mantém esse viés de contradição do início ao fim.

The Teacher’s Lounge, portanto, consegue criar um ambiente de tensão de forma muito boa, contudo, fazendo o espectador esperar por um clímax de uma situação que nunca acontece. As cenas de maior tensão e choque são geradas pelas situações que a professora passa ao sofrer desconfiança e agressão dos próprios alunos. A Carla Nowak, entretanto, termina o filme praticamente da mesma forma que começa. O seu pesadelo, portanto, não é solucionado, sendo revoltante para quem está assistindo e torcendo para que ela termine bem. Dessa forma, a obra se mantém contraditória ao criar toda essa tensão e não chegar a lugar nenhum, se tornando, portanto, um filme mediano. Tentar abordar assuntos de forma tão pouco aprofundada e deixar o arco dos personagens incompleto acaba por não tornar a obra tão memorável assim. Mesmo compreendendo a pegada realista de The Teacher’s Lounge, Ilker Çatak pecou ao se apoiar tanto nisso ao ponto de deixar o final totalmente em aberto e sem profundidade.

 

Estudante de cinema, pernambucana

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