Nota
Após alguns anos sem se encontrarem, os primos David e Benji Kaplan (Jesse Eisenberg e Kieran Culkin) decidem embarcar em uma viagem turística até a cidade natal de sua falecida avó, na Polônia. Mesmo com diversas responsabilidades, como trabalho e seus filhos para criar, David decide aceitar o convite de seu primo para viajar na expectativa de se reconectar com ele, já que os dois eram muito próximos durante a infância. À medida que a viagem vai se desenrolando, David percebe como é difícil lidar com Benji, por conta de sua personalidade expansiva e comunicativa até demais, o que o faz repensar suas escolhas até então. Antes mesmo de chegarem até a cidade natal de sua avó, os dois primos decidiram entrar em uma excursão pela Europa, para aproveitar outras cidades que ficam no caminho para a Polônia, mas talvez interagir com outras pessoas desconhecidas não seja a melhor opção para Benji, que já está fragilizado com o luto de sua avó. A Real Pain é um dos destaques desse ano para as premiações, sendo o segundo trabalho de Jesse Eisenberg como diretor, o filme se destaca especialmente pela atuação de Kieran Culkin, que tem o seu primeiro papel de destaque após um bom tempo.
Apesar de estar iniciando no ramo como diretor, Jesse Eisenberg já teve alguns papéis importantes, como The Social Network (2010) e sua recorrente participação como Lex Luthor em filmes do finado Universo Cinematográfico da DC. Apesar de ser seu segundo longa como diretor, A Real Pain recebeu um bom destaque nas premiações de 2025, garantindo inclusive Prêmio AFI de Melhor Filme do Ano, mas onde o filme se destaca nas premiações é na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, devido a performance de Kieran Culkin, especialmente após sua vitória no Globo de Ouro na categoria, o ator que iniciou sua carreira criança em filmes com seu irmão, Macaulay Culkin, e estava longe de um papel de destaque já há alguns anos. Mas não apenas na categoria de atuação que o filme tem o seu destaque, já que A Verdadeira Dor garantiu duas indicações ao Oscar, a de Melhor Ator Coadjuvante e a de Melhor Roteiro Original, onde Eisenberg atuou.
A Real Pain tem de fato um bom destaque com seu roteiro, sendo um filme bastante cômico, Eisenberg consegue trazer tópicos sensíveis tratados de forma leve e bem humorada, mas sem recair em clichês ofensivos. Os personagens principais David e Benji, por embarcar nessa viagem a Polônia, passam por diversos locais históricos relacionados ao holocausto, e é muito interessante como o longa consegue balancear muito bem os momentos de seriedade, já que o holocausto é um tema muito sensível e sério, com a relação dos outros personagens com esses momentos e sua identidade judia. Ao contrário também de outras obras de comédia que recaem em piadas antissemitas, em A Real Pain os momentos de alívio cômico se dão pelas dúvidas dos personagens com relação a sua própria identidade enquanto judeus atualmente, ainda mais comparados com o que o seu povo sofreu no passado. Apesar disso, o filme não tem um ritmo tradicional de humor, tendo um humor muito seco, baseado muitas vezes em situações constrangedoras que nem sempre dá certo, já que a interação entre os personagens não flui tão bem para transformar essas momentos em cenas engraçadas, ao invés disso vai se criando uma tensão pelo desconforto de todos ao longo do filme, o que pode desagradar bastante uma audiência do filme.
Apesar de ser um filme bem humorado, a escolha da direção de Jesse Eisenberg foi de guiar o filme como um olhar mais sensível, especialmente na construção dos personagens para a conclusão de seus arcos. Houve um trabalho excelente entre Jesse e Kieran no trabalho com seus personagens que fizeram, principalmente com o personagem de Kieran Culkin, um ótimo desenvolvimento do relacionamento dos dois, que eram primos que não se viam há anos, mas que era nítido que eles eram bem próximos antes de perderem esse laço e que mesmo fazendo tudo errado, nos leva a simpatizar com o Benji, personagem de Culkin. Eisenberg, entretanto, apesar de um ótimo trabalho como diretor e roteirista, não brilha de forma alguma como ator principal de seu próprio filme. Apesar de ser um personagem bem construído, muito mais pela necessidade de ser uma contraparte para o Benji, o personagem David não brilha em nenhum momento do filme e de fato serve apenas como um coadjuvante para o Benji passar por todo o seu arco emocional, o que mostra um descaso com o próprio David, já que sua função deveria ser do personagem “racional” no meio das insanidades do Benji, mas o que não acontece pela falta de carisma que Jesse imprime no personagem.
Enquanto sua contraparte se apaga ao longo do filme, Benji, vivido por Kieran Culkin, tem uma crescente, se mostrando ser de fato o protagonista de A Real Pain, até porque a verdadeira dor que o filme menciona em seu título é sentida e revelada de fato pelo Benji, que já é um personagem muito intenso e teatral, mas que consegue trazer muito bem as nuances de humor e sensibilidade ao filme. O luto é um tema central do filme desde o início, e a importância do personagem Benji se mostra ao demonstrar os estágios de luto que ele vem passando, no início temos um Benji mais descontraído, como se estivesse mesmo em negação, para daí sermos apresentados a sua versão raivosa, onde ele desconta todas suas emoções nas outras pessoas que não tem ligação com sua dor, temos o seu momento de tristeza profunda que é quando de fato irá acontecer a reaproximação dos primos, e por fim a aceitação da morte da avó de ambos, que acontece de formas distintas para os dois, mas que é muito mais nítida pela atuação de Culkin.
A Verdadeira Dor mostra a jornada de luto dos dois primos, David e Benji, no segundo filme dirigido e roteirizado pelo ator Jesse Eisenberg. A Verdadeira Dor mostra uma melhor maturidade de Eisenberg como diretor e enquanto roteirista, mas também em criar um estilo próprio de direção, mas quanto a sua performance, ele deixa bastante a desejar, fazendo Kieran brilhar mais até do que ele deveria. Indicado a diversos prêmios, o filme é o favorito ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante após a vitória de Kieran Culkin no Globo de Ouro, e merecidamente visto que de coadjuvante o personagem Benji não tem nada, já que ele consegue ser mais protagonista do que o próprio David. Culkin consegue trazer uma boa nuance entre o humor seco e a profundidade emocional, já que ele domina muito bem todos os momentos do filme, sejam os emocionantes ou os de alívio cômico, que são muitos.