Crítica | A Viúva Clicquot (Widow Clicquot)

Nota
4

O filme nos conta a história de Barbe-Nicole Ponsardin Clicquot, a herdeira e desenvolvedora principal da famosa marca de champagne e vinhos na época das guerras napolionicas, que enfrentava uma crise nos negócios e o luto do falecimento prematuro do seu amado marido. O diretor Thomas Napper utiliza de trilha, flashbacks, e vai tecendo a narrativa tal qual as vinhas se desenvolvem com a estação do ano, intercalando com fases do luto da protagonista e flashbacks tortuosos sobre como era a convivência com o falecido marido, seja para mostrar suas qualidades como seus maiores defeitos.

A produção traz uma narrativa bastante análoga ao feminismo, nos fazendo refletir em como alguns absurdos estão tão enraizados ainda em 2024 e ao mesmo tempo alguns diálogos tão atuais e intrínsecos a realidade. O longa ainda se aprofunda no quão ligados estavam para além de um casamento, para um projeto de vida e negócios, François Clicquot (Tom Sturridge) e Barbe-Nicole (Haley Bennett). Eles tinha química no olhar, nos gestos, nos momentos mais íntimos e sentimentais, na tragédia e até mesmo no luto eles ainda estavam juntos, nas videiras ainda estavam juntos, juntos a cada estação, a cada colheita e cada desenvolvimento de fórmula. É fascinante ver Tom em ação, com os delírios, com a dificuldade de se expressar, com a violencia, mas que era quebrado por um olhar visceral e doce para sua filha e esposa, e pedidos de desculpas reais de um enfermo de febre tifoide.

Haley Bennett também é um destaque, sendo capaz de imprimir a força da viúva, destemida porém delicada, inteligente e minunsciosa, desafiando as pessoas de seu tempo. Como todos atribuíam as funções de administrador aos maridos, as esposas que contribuíam com as ideias, experimentos e negócios, mas ficavam as sombras naquela época, entretanto, devido a fatalidade do seu marido e o desejo de um sonho, a Viúva Clicquot assume tudo. Como uma empreendedora, tudo vai sendo anotado, analisado, testado e posto em prática, cada fracasso é um aprendizado e como as uvas daquele lugar, quanto mais difícil as estações, mais perto da obra prima estaria o vinho. Bem como a fórmula do champagne cometa. É sublime a valsa do filme entre drama, fases do luto, paixão e desenvolvimento de uma marca, aqui os antagonistas são o machismo, a estrutura social, o mercado, o luto, a colheita, as negociações e outros fazendeiros, e funcionários, ou seria apenas as casualidade da vida?

Narrativas sobre marca, projetos, tendem a ser repetitivas no sentido daquele jovem empresario que começa de baixo, tem um sonho e supera todos os desafios, A Viúva Clicquot, nos faz ver a paixão por trás da marca e querer, sim, saber o que ocasionou cada drama, a cada flashback queremos saber mais quem é François? Por que a Barbe se apaixonou? quem é o negociante parceiro, interpretado por Sam Riley? A fotografia nos traz cada estação ou o fúnebre de um funeral, bem como os momentos felizes em família, como a solidão do inverno, ou o terror da guerra com muita trilha sonora a cada bum de canhões. A Viúva Clicquot surpreende ao entregar uma taça de feminismo, duas doses de drama e uma dose de introspecção com uma boa trilha sonora, entregando um roteiro que envolve, diferenciando de outros filmes do gênero.

 

Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror

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