Crítica | Aladdin [2019]

Nota
5

“Oh, imagine a land, it’s a faraway place
Where the caravan camels roam
Where you wander among every culture and tongue
It’s chaotic, but hey, it’s home”

Aladdin (Mena Massoud) é um jovem pobre que vive na cidade de Agrabah, tendo que roubar para sobreviver. Desesperançoso sobre seu futuro, vê sua vida mudar ao conhecer uma jovem que “roubava” na feira. Ao se apresentarem, ela mente sobre quem realmente é, afinal ela é Jasmine (Naomi Scott), a filha do Sultão (Navid Negahban) e princesa do reino.

Durante a conversa os dois acabam se identificando muito, pois mesmo com realidades totalmente diferentes, ambos se sentem presos e limitados. Ao se despedirem, ela acredita que foi roubada por ele, e sai decepcionada para o palácio, onde é a “criada da princesa”, chateado, ele descobre que Apu, seu macaco havia roubado a moça que roubou seu coração e toma uma importante decisão, invadir o palácio para devolver o tão precioso bracelete para a moça.

Ao encontrá-la, ele garante que voltará na noite seguinte para continuarem se conhecendo porém, ao deixar a moça nos aposentos reais, ele é capturado pelo ganancioso Ja’Far (Marwan Kenzari), que o leva até a caverna dos tesouros, para que o “diamante bruto” lhe pegue uma lâmpada misteriosa. Traído pelo vilão, o jovem preso na caverna, salva um tapete mágico que o orienta a esfregar a lâmpada, ao fazer isso sua vida muda completamente pois agora ele conhece o Gênio (Will Smith), a mágica criatura que tem o poder de conceder 3 desejos a seu amo.

Aladdin, é a adaptação live-action de uma das animações mais queridas da Disney e, por isso, não é de se chocar que a nova versão do filme tenha gerado certo receio ao ser anunciada. Trazer uma obra tão amada para uma nova versão se mostra algo complicado, principalmente depois do fiasco da nova versão de Dumbo, que desagradou tanto à crítica quanto aos fãs. Mas eis que a Disney, em uma divulgação tímida, mostra um pequeno raio de esperança para os amantes do longa animado de 92. Dirigido por Guy Ritchie e roteirizado John August (em colaboração com o diretor), a nova versão cinematográfica de Aladdin traz uma atualização à historia, sem parecer piegas ou forçado e, acima de tudo, respeitando o projeto original.

Sofrendo com muitos problemas durante sua produção, como por exemplo o excesso de atores brancos que não condizem com o ambiente representado, o longa conseguiu se reerguer e mostrar a cultura do local de forma inteligente e bem estruturada. Ainda durante a trama, é perceptível a influência de Bollywood na produção, com muito colorido e cenas musicais nada parecidas com os espetáculos da Broadway, o que com certeza pode modificar o cenário de musicais atual.

Guy Ritchie tinha então um trabalho hercúleo na mão. Como reproduzir uma trama tão conhecida e amada enquanto acrescentava novas camadas e atualizações a historia? Como deixar sua marca em um clássico Disney sem perder sua própria essência? E é aqui que podemos dizer que o diretor fez seu trabalho com maestria. Aladdin segue sim o padrão Disney de ser, mas com uma ampliação memorável do universo. Temos conflitos interessantes, jogos políticos e uma agilidade exemplar, que consegue nos deixar maravilhados e ansiosos. As cenas de ação, tão marcantes na carreira do diretor, ganham uma proporção magnífica. O uso da câmera lenta para acentuar momentos eletrizantes e marcantes do longa chegam em momentos precisos, nos dando aquela velha piscadinha de um profissional que sabe deixar sua assinatura quando precisa.

Mena Massoud surpreendeu como protagonista que, no trailer, parecia apenas mais um personagem a ser ofuscado pelo gênio, mas provou o contrário ao fazer uma conexão com o espectador. O ator se mostrou um artista completo, cantando, dançando, e encantando a todos com seu carisma, se mostrando uma escolha perfeita para o jovem que deseja uma vida melhor pra si. Mena consegue passar a emoção necessária para cada uma das cenas, hora se mostrando receoso ao falar com Jasmine, hora sendo corajoso para enfrentar os problemas que surgem em seu caminho, certamente a melhor escolha para o papel.

Naomi Scott foi além no quesito evolução de personagem. Com a ampliação no enredo do longa, seu trabalho de atuação e seu potencial vocal, pudemos ver a força que a princesa possui. Sua presença é tão forte e poderosa que ela domina o ambiente e nos deixa apaixonados por sua garra e determinação. Naomi consegue lidar com as diferentes emoções da personagem, trazendo varias camadas e sonhos não explorados. De uma mulher encoberta, nunca ouvida, apenas notada por sua beleza para alguém que sabe o momento certo de impor sua voz e seus desejos para aqueles que sempre a oprimiram. A atriz não só nos apresentou a Jasmine da animação, como a elevou para o merecido destaque que a personagem demandava.

Marwan, que deu vida à Ja’Far foi um dos pontos mais fracos do longa, sem o carisma e a expressão necessárias para viver o tão icônico vilão, acabou ofuscado pelos três personagens principais. O filme até tenta dar um novo contexto a seu personagem, e justificar suas mudanças, mas a atuação parece tão rasa e sem sal que o mesmo se perde e se mostra alguém esquecível e desinteressante. Mesmo na sua apoteose, ele não chega aos pés do que o personagem merecia e se mostra o mais sofrível no elenco.

Will Smith foi definitivamente a melhor escolha que a produção poderia fazer. Tendo em vista que o Gênio é o personagem mais querido e amado pelos fãs, o ator, que já sabemos que possui o carisma para tal papel, não só conseguiu cumprir a demanda, como também deu seu toque pessoal, integrando o estilo clássico que Robin Williams criou com o hip hop, ritmo que vem acompanhando o ator desde seu primeiro papel. Papéis esses que parecem ter sido um ensaio para a construção do gênio. Tudo aqui parece uma apreciação da carreira do ator mas sem perder a essência do personagem que tanto amamos e conhecemos. Will, ao contrario de muitos, sabe quando dar espaço ao resto do elenco, roubando a cena no momento certo e alavancando a atuação de seus companheiros sempre que necessário, só mostrando o que sempre soubemos sobre o ator: ele é um profissional maravilhoso.

Como música de abertura do filme, somos apresentados de uma forma diferente a Arabian Nights, como em um conto das Mil e Uma Noites, onde vemos o próprio Will contando a história de Aladdin e da Princesa Jasmine para seus filhos. A sonoridade leva o espectador de volta a 1992, quando a animação foi lançada, tocando diretamente na nostalgia, envolvendo e apresentando o universo ao espectador. One Jump Ahead nos insere na triste realidade do jovem Aladdin: pobre, órfão, tendo que roubar para sobreviver. É aqui onde reside uma das críticas sociais da trama, a pobreza extrema levando um jovem de bom coração a roubar para sobreviver.

Friend Like Me foi definitivamente uma das cenas mais marcantes do filme, sendo quase que completamente reestruturada, uniu a batida clássica de jazz da original ao hip hop, mostrando que o que já era bom pode ser melhorado. A cena é um verdadeiro deleite visual, repleta de piadas, tons e artefatos, trazendo assim uma introdução magistral ao gênio e a seus poderes cósmicos e fenomenais… dentro de uma lampadazinha. Logo em seguida temos a colorida Prince Ali, com todas suas cores e abundância introduzindo ao novo Aladdin. A musica tem um toque Bollywoodiano, nos encantando com sua magnitude enquanto nos explica as múltiplas qualidades do novo príncipe. Divertida e envolvente, é mais um momento para o gênio brilhar em toda sua força, que está contida na forma humana.

Whole New World chega no momento exato, para dar uma certa quebra na tensão do enredo, levando o espectador a sonhar apaixonado enquanto voa pelo mundo em um tapete mágico. Mantendo exatamente o mesmo ritmo que a original, a música romântica nos leva a alguns cenários de próximos live actions da empresa. Após 27 anos, finalmente Jasmine possui sua música de princesa, Speechless (que no longa é dividida em duas partes) nos mostra toda a frustração que ela sente por nunca poder ser uma voz ativa na sua própria vida. “Fique em seu lugar, melhor vista e nunca ouvida” é a frase que choca o espectador, pois retrata bem a sociedade em que a moça está inserida, em contraponto temos “Tudo o que sei é que não serei calada”, onde ela mostra que sua voz é importante, que nada no mundo vai fazer com que sua luta seja cessada. Com tanta força e poder, certamente entrará na lista de indicados ao Oscar, além de ser uma forte concorrente a melhor música original.

De uma forma geral, Aladdin supera todas as expectativas, apresentando de forma majestosa um pouco de Bollywood, com cores e sons típicos da cultura árabe, sem deixar de ter um toque moderno. Seja pela mescla de ritmos ou pelo simples fato de termos uma mulher árabe lutando para ser ouvida, o filme nos mostra uma crescente tão encantadora quanto um conto de Sherazade. Repleto de magia e com uma mensagem ainda mais poderosa, tudo aqui é bem construído trazendo, sem sombra de dúvidas, um dos melhores live actions que a Disney fez.

“Cause I’ll breathe
When they try to suffocate me
Don’t you underestimate me
‘Cause I know that I won’t go speechless”

 

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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