Crítica | Alice Através do Espelho (Alice Through the Looking Glass)

Nota
2

“Você esteve fora por tempo demais, Alice.”

Alice Kingsleigh (Mia Wasikowska) passou os últimos três anos seguindo o sonho de seu pai, viajando pelo mundo e expandindo os negócios de seu sócio, mas, após regressar a Londres depois de sua última viagem de sucesso, ela descobre que tudo mudou drasticamente em sua ausência. O Senhor Ascot faleceu durante sua viagem e seu filho, Hamish (Leo Bill), ex-noivo de Alice, assumiu a empresa e planeja humilhar e destruir sua antiga noiva.

Para cobrir certas dividas, a mãe de Alice resolveu hipotecar a casa, e Hamish usa esse acordo para colocar a moça contra a parede: ou Alice entrega o navio da família (e ultima lembrança do pai) para seu pior inimigo ou elas perdem a casa da família. Irritada, a moça foge mansão adentro apenas para encontrar Absolem (Alan Rickman), que lhe informa que ela ficou afastada por muito tempo e que uma nova crise se aproxima do Mundo Subterrâneo.

Atravessando um espelho e caindo através de um portal, Alice reencontra seus velhos amigos, que lhe contam que o Chapeleiro (Johnny Deep) não é mais o mesmo, e que somente ela pode traze-lo de volta… antes que seja tarde demais. Acreditando que salvar a família de Tarrant é a única solução para trazer seu amigo de volta, Alice parte em busca da cromosfera, em uma jornada capaz de desafiar o próprio Tempo (Sacha Baron Cohen) e rasgar o presente e o passado do País da Maravilhas.

Enquanto uma antiga inimiga ressurge procurando vingança, a garota precisa lidar com suas próprias incertezas e acreditar, mais uma vez, no impossível antes que isso a destrua, e tudo aquilo que um dia amou. Mas seria Alice capaz de vencer uma corrida contra o Tempo ou nem mesmo ela seria capaz de um feito tão colossal?

Quando lançado em 2010, a versão live-action do clássico Disney abriu uma nova leva de possibilidades mostrando aos estúdios uma verdadeira mina de ouro enquanto revivia seu passado histórico. A loucura da escrita de Carroll (embora bastante modificada nesta versão do filme), junto com o tons sombrios e coloridos de Burton, trouxeram um exemplo raro de casamento perfeito, cheio de um aprimoramento técnico que encantava com sua estranheza. Mas, após acumular seu 1,025 bilhões os estúdios decidiram revistar os cenários extravagantes e responder perguntas que ninguém fez.

Dirigido por James Bobin, roteirizado por Linda Woolverton e carregando o selo incomparável de Tim Burton na produção, Alice Através do Espelho tenta refletir o sucesso do primeiro, mas parece oco e insosso se comparado ao mesmo. Visualmente, o longa se mostra impecável, aproveitando bem a desenvoltura tecnológica e explorando um mar de possibilidades que engrandecem o 3D, tão presente desde o primeiro longa, ao nos mergulhar em todos os diferentes cenários e objetos que a trama tem a oferecer. Mas o mesmo cuidado não pode ser falado de outras áreas do projeto.

O longa não parece saber dizer a que veio, entregando um estória rasa e previsível que não nos surpreende em momento algum, além de trazer ensinamentos que descobrimos logo no início da trama. O roteiro parece uma colcha de retalhos, que hora quer abordar determinada temática, hora outra justificando tudo com um: não é bem o que você imaginava, não é? Sendo que a própria trama já entregava seu plot nas apresentações de personagens.

Para ser justo, existe sim momentos inspirados que consegue nos entreter, mas eles são tão facilmente esquecidos e menosprezados pelo roteiro que fica difícil tirar algum proveito. O menosprezo pela figura feminina da ridicularização, com alguém que pense fora da caixa, trazem conversas interessantes, assim como o destino aplicado à protagonista em determinado momento, transpondo o quão difícil era ser uma mulher independente em uma sociedade como aquela. Podemos ver o conceito de como certos caminhos realmente refletem traumas passados, trazendo a importância da família e como ela pode ser prejudicial em alguns casos em que a dor é mais presente.

Dor essa aprofundada em perder o que lhe é devido, tomando o tempo como um vilão sem coração que nos toma tudo aquilo que prezamos. Mas, se o longa procura nos fazer duvidar da integridade do senhor imortal, ele esta completamente enganado. Criando um aspecto cômico de alguém que tenta se levar a sério, Sacha Baron Cohen consegue nos entreter e divertir, mas nunca nos enganar. Ele está ótimo no papel, não entenda mal, mas você sinceramente comprou o que o roteiro tentou vender sobre o personagem?

Mia agarra com unhas e dentes sua personagem, se mantendo fiel ao papel bem executado no longa anterior. Mas pouco é o avanço de Alice na trama, onde ela parece andar em círculos para dar apenas um passo adiante no desenvolvimento já mostrado no filme de 2010. Sim, é gratificante acompanhar sua força e maestria, e sim, sofremos quando ela perde algo que lhe é querido, mas Alice nunca duvidaria de algo contado por um amigo, mesmo que seja o mais absurdo dos casos (afinal, acreditar no impossível foi uma grande parte da sua jornada anterior, não foi?). Cabe a ela algumas das frases mais expositivas da trama, assim como um regresso que procura diminuir o que já foi aprendido para justificar aquilo que era necessário para um novo filme.

Iracebeth, ou Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter), ressurge de forma magistral, manipulando todos que se colocam no seu caminho para conseguir sua almejada vingança. O roteiro aqui consegue acrescentar novas camadas à personagem e trazer algo coeso e preciso a trama. A discussão envolvendo as rainhas sempre se mostrou proveitosa, e o filme assume que nem todos são inteiramente bons ou maus, além de mostrar que erros do passado desencadeiam questões latentes no presente.

Mirana (Anne Hathaway) sempre pareceu estar em um pedestal, acima dos demais, enquanto julgava os atos cruéis de sua irmã (sendo que a mesma era tão manipuladora e fria quanto sua contraparte). Aqui, esse pedestal é quebrado e passamos a enxergar uma humanidade errônea por trás do aspecto etéreo da personagem, o que trouxe um balanço melhor para as irmãs e nos deixou ingressado no que vinha a seguir.

Sobre o Chapeleiro, podemos dizer que ele explorou um lado seu que o primeiro longa mostrou que existia mas nunca quis de fato se aprofundar. A figura sombria que aparecia de vez enquanto agora toma forma de um jeito bruto, mas logo é esquecida para trazer algo mais apático que se torna constante. Mesmo sendo uma peça central do enredo, o Chapeleiro de Deep pouco tem a acrescentar, além dos dramas familiares que são esfregados nos nossos rostos até se tornar enjoativo.

Respondendo perguntas que ninguém fez, Alice Através do Espelho traz um filme belo mas oco, que pouco tem a acrescentar e roda em círculos enquanto tenta nos passar ensinamentos clichês e vazios. Embora tenha sim pequenos lampejos geniais, o filme não se justifica e parece querer surfar naquilo que um dia foi, sem nunca chegar a ser algo relevante de verdade. Soou confuso? Acostume-se, confusão é tudo o que lhe pode ser apresentado aqui. Uma verdadeira pena que nem um pássaro mágico pode consertar.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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