Crítica | Alice no País das Maravilhas (Alice in Wonderland) [2010]

Nota
4

“Você sabe a diferença entre um corvo e uma escrivaninha?”

Na era vitoriana, Alice Kingsley (Mia Wasikowska) sempre teve sonhos estranhos sobre uma terra fantasiosa onde gatos podem sorrir, animais podem falar e pessoas podem crescer e diminuir conforme comam de determinado alimento. Mas agora, após a morte do seu pai, ela não tem mais tempo para pensar em suas fantasias e deve ingressar de vez no mundo adulto.

Aos 19 anos, a moça se vê encarando o seu maior desafio: se adequar as normas da sociedade Londrina. Em uma festa da nobreza, Alice descobre que seu futuro já foi definido e que ela deve aceitar o pedido de casamento de alguém que não ama para salvar sua família, e não acabar solteira como sua tia lunática. Mas, durante o pedido, a garota se distraí e persegue um misterioso Coelho Branco (Michael Sheen), que a leva a uma toca e a faz mergulhar novamente em seu mundo misterioso e caótico.

Convencida que está mais uma vez em seus sonhos, Alice encara as bizarrices a qual é apresentada, dialogando com seres fantásticos que teimam em perguntar se ela é A Alice correta. Enquanto se vê jogada, julgada e questionada sobre quem é, a garota questiona sua sanidade e percebe que aquele lugar não é o mesmo que seus pesadelos insistem em mostrar.

Ao perceber que seu destino esta mais uma vez traçado por outras mãos, Alice entra em uma guerra interna sobre o que deve fazer. Enquanto uma tirana cabeçuda toma conta do Reino Subterrâneo em uma era de caos e medo, que somente a moça pode por um fim ao enfrentar o seu pior inimigo em uma batalha de vida ou morte. Mas, como se pode matar o Jaguadarte (Christopher Lee) quando nem ao menos ela sabe quem ela é?

O mundo fantástico de Lewis Carroll sempre levantou debates e questionamentos, enquanto trazia toda loucura e estranhamento que só a terra dos sonhos infantis poderia construir. Escrevendo uma obra atemporal e lúdica, Carroll permaneceu no imaginário coletivo e poucas foram as vezes que uma leitura de seus livros chegou perto da essência magnífica que sua escrita possuí.

A Disney conseguiu, em uma das adaptações animadas mais brilhante do estúdios. Estranha, emblemática e repleta de uma excentricidade magnética, a animação de 1951 era tudo o que os fãs pediram para sua obra tão amada. E foi por esse motivo que a empresa decidiu revisitar o fantabuloso cenário em uma nova releitura do clássico em uma premissa um tanto quanto diferente…

Para isso, a Disney contratou um nome emblemático e conhecido por sua estranheza para trazer uma nova Alice, tão obscura e colorida quanto ela poderia ser. Dirigido por Tim Burton e roteirizado por Linda Woolverton, Alice no País das Maravilhas procura juntar duas obras distintas de Carroll com a premissa de mostrar uma protagonista crescida que reencontra o mundo fantasioso que conheceu durante a infância.

Burton brinca com a dualidade de sua historia trazendo camadas sombrias a seus personagens enquanto nos reapresenta seu espaço fantasioso. Tudo está lá, mas não como nos lembramos, causando um estranhamento a primeira vista que nos coloca com maestria na pele de Alice. O longa junta aspectos de No País das Maravilhas com os de Através dos Espelhos, duas obras opostas de Carroll mas que curiosamente parecem funcionar na trama.

Os efeitos especiais, construídos de uma forma sublime, somados ao visual maravilhosamente bem trabalhados, nos imerge na loucura psicodélica enquanto nos transporta de um canto para outro da trágica fantasia que nos é mostrada, mas não sem antes nos deixar atordoados e confusos. O longa acrescenta novas camadas, nos fazendo rever aspectos que achávamos conhecer tão bem mas que agora são apresentados por uma nova ótica.

Somos jogados no novo universo, sem tempo de nos acostumamos com o excesso de informações mas, aos poucos, vamos descascando as camadas e entrando com a protagonista na sua confusão. A Alice de Mia não se conforma em ter que se moldar a algo. Questionando tudo que lhe é imposto, a garota está longe de se sentir confortável ao ser controlada. É gratificante acompanhar o crescimento da personagem, ao encontrar sua própria voz enquanto lida com seus dilemas internos. Ela esta longe de ser A Alice assim como esta longe de conhecer a si mesma.

O Chapeleiro Maluco (Johnny Depp) é otimista e caricato. O tipo excêntrico, que parece ter impregnado em Depp, aqui ganha ainda mais maneirismo em sua expressividade, o que torna sua nova leitura ainda mais interessante. Divertido, chamativo e extremamente louco, o personagem perdeu tudo que mais prezava trazendo um pouco de lucidez a suas palavras quando conhecemos seus dilemas. E, por mais engraçado que seja, quando ele muda seu tom causa arrepios a todos ao seu redor.

O Gato de Cheshire (Stephen Fry) não se envolve em política. O risonho felino sempre se mostrou o mais poderoso e debochado dos habitantes do mundo fantástico, trazendo algumas das melhores cenas com seu tom cínico, de alguém que sempre esconde algo por trás das suas palavras, e tem muito a dizer com isso. Absolem (Alan Rickman) tem um tom indicativo e potente, nos fazendo questionar a nos mesmos enquanto discursa sobre descobrir quem somos. O papel de guia caiu como uma luva na voz grave de Rickman, nos trazendo toda a imponência de alguém que esta em processo de transmutação e se mostra sábio a cada frase dita.

A Rainha Branca (Anne Hathaway) parece um ser etéreo saído de um conto de fadas. Seja pelo andar afetado e flutuante, ou sua fala mansa e gentil, tudo nela grita delicadeza, doce e angelical. O problema está em suas entrelinhas. Em vários momentos a rainha boa se mostra tão manipuladora e interesseira quanto a irmã, se mostrando tão cruel quanto a vilã e quebrando sua aparente mascara de bondade e gentileza. A Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter) é um verdadeiro acerto. Estridente, infantil e extremamente carente por afeto, a personagem é a mistura de duas vilãs de Carroll. Sua construção é tão sublime e a atuação tão impecável que é impossível não apreciar cada uma das cenas em que ela aparece. Mesmo sendo uma tirana, em vários momentos sentimos pena da dita cuja, trazendo novas camadas a sua personalidade insana e mortal.

Com um visual impecável, Alice nos País das Maravilhas faz um bom trabalho e entrega uma obra interessante. Embora esteja longe de ser a maravilha do desenho ou dos livros, o longa trás boas camadas a seus personagens e nos emociona em verdadeiros momentos de se perder a cabeça. Além, é claro, de abrir a porta para os inúmeros remakes e releituras dos clássicos Disney, trazendo novos toques a filmes que já amamos e pensávamos conhecer tão bem.

“O senhor acha que estou ficando maluca?
Eu acho que sim. Você esta maluca. Pirada. Perdeu um parafuso. Mas eu vou contar um segredo: as melhores pessoas são assim.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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