Crítica | Alien: Romulus

Nota
4.5

Alien: Romulus marca um retorno ousado e intrigante ao universo da franquia Alien, desta vez sob a direção habilidosa de Fede Álvarez, conhecido por sua abordagem intensa e visceral ao gênero de terror. Desde seu primeiro anúncio a curiosidade dos fãs foi alimentada com altas expectativas, prometendo tanto uma homenagem às origens da saga quanto uma nova direção narrativa, mas será que conseguiu entregar tudo o que prometeu ou se tornou mais uma promessa vazia no vácuo do espaço?

Situado cronologicamente entre os eventos do primeiro filme, Alien (1979), e sua sequência, Aliens (1986), Romulus carrega o desafio de honrar um legado cinematográfico ao mesmo tempo em que tenta se diferenciar das produções anteriores. Sua trama nos leva ao ano de 2142, em um planeta sombrio, desprovido de sol, onde a jovem Rain, interpretada com grande habilidade por Cailee Spaeny, vive com seu irmão sintético, Andy (David Jonsson). A vida no planeta é dura, e Rain sonha em escapar para um lugar chamado Yvaga, que acredita ser um paraíso verdejante. Este sonho de escapar, compartilhado por muitos personagens na ficção científica, é o que impulsiona a narrativa, e rapidamente se transforma em uma jornada de sobrevivência desesperada quando ela, junto com o amigo Tyler (Archie Renaux), se depara com uma nave espacial abandonada e, inevitavelmente, o terror que a acompanha.

Álvarez, que já demonstrou sua competência em criar atmosferas intensas e sufocantes com o reboot de Evil Dead em 2013, traz uma direção focada em ressaltar a claustrofobia e o terror psicológico que definiram os primeiros filmes da franquia. Sua escolha de centrar a história em um grupo pequeno e isolado, em vez de grandes batalhas épicas, ecoa a tensão original que fez do primeiro Alien um clássico. A ambientação sombria, reforçada pelo design de produção e pela paleta de cores frias, cria um cenário opressivo que reflete tanto o desespero dos personagens quanto a ameaça constante do alienígena.

O roteiro, co-escrito por Álvarez e Rodo Sayagues, é talvez o elemento mais desafiador do filme. Embora consiga criar momentos genuínos de terror e suspense, ele por vezes se apoia demais em referências e homenagens aos filmes anteriores, o que pode agradar os fãs de longa data, mas também dar uma sensação de familiaridade excessiva, faltando um pouco da originalidade que poderia distinguir Romulus no vasto universo da franquia. No entanto, a exploração da relação entre Rain e Andy, o androide, traz uma camada de complexidade emocional interessante, refletindo questões sobre a natureza humana e a busca por conexão em um mundo desolado. Além disso, para os maiores fãs de Isaac Asimov, o longa pode ser um excelente instrumento de análise sobre os limites das leis da robótica e suas consequências mediante uma sociedade plenamente baseadas no Capital.

No que diz respeito às atuações, Cailee Spaeny brilha no papel de Rain, conseguindo equilibrar a vulnerabilidade e a resiliência de sua personagem de maneira convincente. Sua performance carrega grande parte do filme, porém, em grande parte, ela consegue ter seu protagonismo ofuscado pelo incrível David Jonsson, que interpreta o sintético Andy com uma mistura intrigante de humanidade e frieza artificial. A dinâmica entre os dois personagens é um dos pontos altos da narrativa, embora o filme pudesse ter trazido flashs que complementassem buracos na relação deles e com os outros personagens, interpretados por Archie Renaux (Tyler), Isabela Merced (Kay), Spike Fearn (Bjorn) e Ainleen Wu (Navarro).

Visualmente, Romulus impressiona. Os efeitos visuais são usados com parcimônia, mas de forma eficaz, aumentando a sensação de terror sem jamais se sobrepor à narrativa. O design do alienígena, uma das grandes expectativas dos fãs, não decepciona, combinando elementos clássicos com novas características que tornam a criatura tanto familiar quanto aterrorizante. A nave abandonada e os cenários no planeta sem sol são meticulosamente detalhados, contribuindo para a atmosfera imersiva do filme. A trilha sonora, composta por Jed Kurzel, complementa essa atmosfera de forma competente. Embora não seja tão icônica quanto as trilhas dos primeiros filmes da série, ela é eficaz em amplificar a tensão, utilizando sons discordantes e batidas crescentes para manter o espectador em constante estado de alerta. Contudo, falta talvez uma melodia ou tema mais memorável que pudesse ressoar além do momento da exibição.

Alien: Romulus tem muito a oferecer aos fãs da franquia. Ele traz de volta o terror visceral e a claustrofobia que foram ofuscados nas últimas entradas da série, ao mesmo tempo em que apresenta uma nova narrativa, centrada em personagens mais jovens e em suas lutas pessoais por sobrevivência. No entanto, ao depender fortemente de referências aos filmes anteriores, o filme corre o risco de parecer mais uma repetição do que uma renovação da franquia. Ainda assim, a direção precisa de Álvarez e as performances comprometidas do elenco fazem de Alien: Romulus uma adição digna ao universo Alien, que sem dúvida deixará uma marca, especialmente para aqueles que apreciam o horror puro e psicológico que tornou a saga tão influente.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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