Crítica | American Fiction

Com tantas premiações que existem hoje em dia, muitas obras submetidas nessas grandes premiações são conhecidas como “baits”. No Oscar principalmente, um filme de guerra medíocre vai receber dúzias de indicações, ou até mesmo receber a estatueta de melhor filme, como os quase 15 filmes de guerra que levaram o prêmio desde 1927. E é por esse tipo de atitude que alguns críticos e artistas não validam as autoridades da maioria dessas premiações. Com isso em mente, o autor de livros Thelonious Ellison, conhecido também como Monk (Jeffrey Wright), que está preso em um bloqueio criativo por muito tempo, decide escrever um livro genérico sobre a visão que pessoas brancas tem sobre obras de pessoas negras, e acaba criando por acidente um best seller. 

Escritor de diversas séries de TV, como a renomada The Good Place, o diretor Cord Jefferson estreia com seu primeiro filme já ganhando a atenção de diversas premiações de 2024. O Bem humorado American Fiction promete ser não apenas um filme de comédia rasa, mas trazendo um humor inteligente, mas ácido, e que lhe rendeu 5 indicações ao Oscar desse ano, incluindo Melhor filme, duas nas premiações de atuação principais e duas indicações ao Globo de Ouro, na qual não ganhou nenhuma das categorias. Levando em consideração como estão decidindo nas premiações, é difícil dizer que American Fiction vai levar alguma estatueta para casa, mas o filme se destaca em duas das categorias em que concorre.

Apesar de ter um foco na crítica, American Fiction tem um arco enorme nos dramas familiares do Monk. Sua mãe, Agnes Ellison (Leslie Uggmans), tem uma performance incrível, que é construída aos poucos, onde acompanhamos ela perdendo sua memória. Jeffrey Wright tem a melhor atuação nesta temporada de premiações. Seu personagem é daqueles que, por mais que você tenha que torcer para ele, você sabe que ele não toma as melhores decisões e ele consegue trazer tanta naturalidade na sua atuação que às vezes parece que estamos acompanhando um documentário sobre esse escritor e sua família. Outro que teve um destaque, recebendo inclusive uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, foi o Sterling Kelby Brown, que faz o papel do irmão do Monk, Clifford, que embora seja bem versátil no filme, sem trocadilhos, indo desde as cenas de alívio cômico até as cenas mais dramáticas, ele não chega a ter uma das melhores atuações, mas não é exatamente por isso que ele será esnobado na categoria, e sim por estar concorrendo com nomes de peso como Mark Rufalo (Poor Things) e Robert De Niro (Killers of the Flowers Moon), isso sem falar no provável favorito desse ano na categoria.

Outra categoria que ele concorre é Melhor Roteiro Adaptado, já que o filme foi adaptado de Erasure, livro lançado 23 anos atrás chamado pelo novelista Percival Everett, que apesar de antigo se mostra atualíssimo, visto que o apagamento de pessoas negras na mídia continua ocorrendo, principalmente nas grandes premiações. Embora fique claro que Oppenheimer tem as maiores chances de levar todas as categorias técnicas, American Fiction com certeza seria um dos maiores merecedores da estatueta de Roteiro Adaptado, porque não só as diversas alterações do livro para o filme fazem muito sentido, seja para encurtar cenas, para trazer referências diferentes e mais atuais que o livro, como também servem para deixar o filme com sua própria cara, o que torna o filme mais único do que apenas uma cópia fiel ao livro.

Em seu primeiro filme, o diretor Cord Jefferson traz uma crítica a como a mídia escolhe ilustrar pessoas negras, criticando obras medíocres que carregam estereótipos e que ganham notoriedade por serem medíocres. O filme não só é um grande destaque nas premiações atuais, embora não seja favorito para ganhar nenhum prêmio na cerimônia do Oscar, como também é divertido e mais fácil de ser digerido do que o livro do qual foi adaptado. No fim, American Fiction é um filme crítico, mas muito bem humorado com um humor ácido que funciona super bem para passar sua mensagem final.

Luíse Santiago

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.