Crítica | Anora

Nota
4

Ani (Mikey Madison) já está bem adaptada na sua vida como stripper na Headquarters. Conseguindo trazer dinheiro para casa, onde ela mora com sua irmã, a jovem segue tendo boas relações com todos do Headquarters. Certo dia, um cliente inusitado chega a casa, um jovem russo que está visitando os Estados Unidos falando pouquíssimo inglês, e o chefe de Ani a recomenda para o jovem, visto que ela é a única que consegue arranhar russo para se comunicar com o jovem. Encantado pela beleza de Ani, Ivan (Mark Eydelshteyn) decide chamá-la para sair, oferecendo uma quantia para que ela durma com ele, e sem hesitar ela aceita. Mas após sua noite juntos, Ivan fica tão encantado por ela que decide contratá-la para ser sua namorada por uma semana, e Ani vendo essa como sua chance de ter seu momento de Cinderela decide agarrar a oportunidade e se muda com o rapaz. Mas até o momento, Ani não sabe de nada sobre a vida dele, e vai ter um enorme choque de realidade com o estilo de vida de um herdeiro de uma das maiores famílias russas. E quando ela acha que realmente é o seu ponto de virada ao Ivan a pedir em casamento, esse vai ser só o começo de uma enorme dor de cabeça. Do famoso diretor independente Sean Baker, Anora é um dos grandes destaques para as categorias de atuação das premiações de 2025.

Irreverente, Anora chegou como a grande promessa para as premiações de 2025. Com cinco indicações ao Globo de Ouro, o filme não conseguiu levar nenhuma vitória, perdendo para grandes favoritos da noite como Demi Moore, o diretor Brady Corbet e o roteirista Peter Straughan. Mas nem tudo está perdido para o diretor Sean Baker, que deve garantir pelo menos outras cinco indicações ao Oscar em março de 2025, sendo o segundo filme do diretor a ser indicado após o seu aclamado Florida Project (2017) receber uma indicação por melhor ator coadjuvante, pela performance de Willem Dafoe. Para quem já conhece o trabalho de Baker, Anora acaba sendo coerente com seus projetos passados, trazendo a marca do diretor com personagem caóticos e um roteiro super dinâmico, trazendo agora essa nova obra que parece ser um misto de Florida Project com Tangerine (2015), por serem dois filmes que contém a preocupação estética do diretor, mas que tentam inovar em alguma área técnica, como o caso de Tangerine que foi um marco para a época por ser um filme filmado inteiramente por um iPhone 4 e trazer a tona histórias de personagens trans, que rendeu a primeira campanha do Oscar para uma atriz abertamente trans. No caso de Anora, o diretor inova por criar um ambiente cômico sem precisar inserir piadas prontas em seu roteiro, mérito inclusive da performance de Mikey Madison.

A protagonista de Anora, Mikey Madison, já tem uma certa experiência trabalhando no cinema desde 2013, e com diretores renomados como Quentin Tarantino, e apesar de fazer protagonistas em filmes menores, ainda não havia tido o seu grande momento de estrelato com uma produção grande. Madison se mostra uma atriz experiente que soube muito bem entrar na personagem imatura, muitas vezes ingênua, mas sobretudo bastante explosiva, e que sem ela o filme não iria funcionar da mesma forma, já que sua experiência a permitiu em diversos momentos de improvisação trazer a comédia sem cair em velhos recursos da comédia tradicional, com piadas prontas, fazendo a interação entre os personagens mais natural, quase como se as cenas quisessem tratar brigas e conflitos não atuados, um aspecto que o diretor já havia explorado em Tangerine e que ele recria de uma forma muito satisfatória em Anora, mesmo que em um contexto completamente diferente, visto que, em Tangerine, as brigas e conflitos soam genuínos porque as atrizes, que já tem personalidades muito fortes na vida real, se entregam aos seus personagens de uma forma muito natural, enquanto em Anora, o fator do improviso promove uma sensação de imprevistos para os outros atores, criando cenas desconfortáveis que conversam bastante com o tipo de humor trabalhado pelo diretor Sean Baker.

Além de Mikey Madison, que promete levar uma indicação ao Oscar após a sua no Globo de Ouro, o ator Yura Borisov provavelmente tem seu nome como um dos cotados a receber uma indicação ao Oscar pelo seu papel como Igor. O ator russo tem um trabalho difícil em Anora por não ter muitas falas, mas ainda assim se manter presente em todas as cenas, na maioria das vezes como um personagem empático com a Ani, que consegue enxergar suas dores e tenta ajudar da sua forma, mas que em nenhum momento pode expressar suas opiniões e nem sair do seu local de segurança da família Zakharov. Yura, apesar de se manter sério boa parte do filme, consegue bastante transmitir tudo isso para o personagem extremamente carismático que é o Igor, trazendo nas entrelinhas os sentimentos de Igor que só de fato são explorados no final do filme. Quem não tem tanto destaque assim é o par romântico de Madison, Mark Eydelshteyn. O ator russo acaba sendo engolido pela atuação de seus companheiros de cena, fazendo nem tanta falta assim em certo ponto do filme. O ator, que de fato tem um sotaque russo, mesmo pronunciando as palavras em inglês com um sotaque próximo ao americano, também não explora bem a construção de seu personagem, que acabou de chegar da Rússia para passar férias nos EUA, onde seu personagem não sabe se quer ser um russo-americano ou um russo de fato que não largou direito de seu sotaque. 

O talento de Baker em contar histórias humanas e reais fica em evidência com Anora, trazendo uma trama caótica, mas que conversa muito bem com as performances dos atores. Anora é uma obra que se destaca pelo olhar único e inovador de Sean Baker, que sempre se propõe a trazer algo diferente em seus filmes tanto na narrativa quanto na estética. Sean Baker, com sua habilidade de criar personagens complexos, entrega um filme que é ao mesmo tempo cômico e profundo, prezando principalmente a autenticidade dos personagens. Mikey Madison brilha em sua performance, trazendo uma autenticidade que eleva o filme a outro nível, especialmente nas cenas de improviso. Yura Borisov, com sua atuação sutil, complementa perfeitamente a dinâmica do elenco. Embora o filme não tenha conquistado vitórias no Globo de Ouro, suas múltiplas indicações indicam que haverão mais indicações, dessa vez para o Oscar que acontece em março deste ano.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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