Crítica | Através da Minha Janela: Além-mar (A través del mar)

Nota
2.5

“É fácil se deixar levar quando tá tudo bem, mas quando as coisas mudam… Você começa a questionar tudo.”

Se passou um ano desde que Ares viajou para estudar Medicina em Estocolmo, agora ele e Raquel estão vivendo um relacionamento à distância, algo que é muito mais desafiador do que imaginavam. Com a chegada do verão o casal encontra a chance de se reencontrar, mas o tempo que passaram separados e todas as novas pessoas que surgiram em suas vidas podem ter tido um impacto perigoso na construção do novo eu de cada um deles, tornando Raquel uma aluna muito mais distraida e Ares um estudante inseguro, será que o relacionamento de colegial vai ser capaz de sobreviver às transformações da universidade? E quanto aos outros Hidalgo, será que o problematico romance de Artemis com Claudia resiste ao preconceito de classe? Será que a relação de Apolo Daniela vai realmente vingar?

Mais de um ano se passou desde que Marçal Forés trouxe para a Netflix a adaptação do primeiro livro da escritora venezuelana Ariana Godoy, e todos sabem o impacto gigantesco que o romance entre um menino rico e mimado e uma plebéia esforçada que, por acaso, são vizinhos de janela teve para o streaming, prometendo uma saga temperada com bastante sexo, intrigas e declarações de amor. Entre erros e acertos, a comédia romântica protagonizada por Clara Galle e Julio Peña logo garantiu sua sequência, mas ao contrario de seguir a sequencia logica de adaptar o segundo livro de Godoy, o longa decide ter liberdade criativa para seguir a história de Ares e Raquel ao mesmo tempo que insinua puxar alguns elementos do segundo livro, de forma bem superficial. O filme começa indo fundo no problema do casal protagonista, Ares está em Estocolmo e Raquel em Barcelona, o romance está esfriando, novas pessoas surgem em suas vidas e Ares decide voltar para Barcelona para tentar salvar sua relação, mas o problema começa quando, ao chegar em Barcelona, a vida de muitas pessoas começa a ganhar atenção do enredo, fortalecendo os personagens do longa ao mesmo tempo que vai deixando a trama dos protagonistas de lado.

É gratificante ver a trama de Yoshi (Guillermo Lasheras) ganhar tanta relevancia no filme, dando uma redenção ao personagem esquecido no filme passado ao lhe conectar com Ana (Carla Tous), uma nova personagem intensa, decidida e pronta para lutar com unhas e dentes para fazer o garoto esquecer seu crush em Raquel. Vera (Andrea Chaparro) e Gregory (Ivan Lapadula) surgem no longa para mexer com o casal protagonista, Vera estuda com Ares e parece ter uma conexão muito forte com ele, Gregory é colega de sala de Raquel e está apaixonado por ela, as duas novas pessoas que entram na equação infelizmente não causam gatilhos suficientes para que as brigas da dupla por ciúmes nos capture, fica tudo tão previsivel que o casal acaba se tornando coadjuvante na própria história. Faltam dialogos menos imaturos e mais presença de cena para que o casal consiga manter o controle da narrativa, mesmo que a dupla ainda tenha muita química em frente às câmeras. Infelizmente a redenção de Artemis (Eric Masip) e a exploração das inquietações sexuais vividas por Apolo (Hugo Arbues) são enredos que até começam a ser desenvolvidos, mas começam a ficar superficiais e acabam sumindo no decorrer do longa, deixando aquele gostinho de que faltou um desfecho.

Muito mais voltado para os dramas juvenis comuns, Além-mar consegue tomar um rumo de seriedade maior, mas acaba tendo muita história para contar em um tempo muito limitado. Apesar de ainda ser, sim, um filme que se apoia em cenas sexys que combinam perfeitamente com uma trilha sonora mais quente, ele deixa de focar nas relações carnais para desenvolver muito mais o emocional de seus personagens, acabando por ter dramas demais para lidar e não conseguir desenvolver plenamente todos. É irônico dizer que um dos maiores erros do filme seja dar pouco espaço para os protagonistas quando sabemos que eles foram o maior problema do filme anterior, mas as tramas incompletas que o longa apresenta acabam não sendo suficientes para sustentar o hype que o primeiro longa deixou. O longa entrega uma fotografia linda, repleta de cenários paradisíacos e com um foco estonteante no mar, que nomeia o filme, mas tem um roteiro que se encerra sem grandes surpresas, seguindo o típico clichê de segundo filme de uma trilogia romantica onde o casal entre em crise e ficamos esperando um desfecho mais adulto para o vindouro terceiro filme, que inclusive já foi anunciado.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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