Nota
“Você sabe o que é um arlequim? A função do arlequim é servir, ele não é nada sem um mestre… E ninguém liga para quem nós somos além disso.”
Para contar uma história de maneira correta, ela deve ser contada do início… Arlequina (Margot Robbie) sempre teve uma vida difícil, desde sua infância ela foi rejeitada pelos homens que amava, inclusive pelo próprio pai, mas conseguiu seguir em frente, se formar em psiquiatria e começar em um novo emprego… Até que se apaixonou por seu paciente, entrou para o mundo do crime, jogou-se em um tanque de ácido e pensou ter a vida perfeita ao lado do seu amado, Coringa. Mas o seu romance com o palhaço do crime chega ao fim, Coringa se cansa das inúmeras brigas e a coloca para fora (de vez). Buscando novos ares, Arlequina decide recomeçar sua vida, mas ela não era a única mulher em Gotham buscando emancipação.
Renee Montoya (Rosie Perez) é uma grande detetive que resolveu um caso famoso, mas acabou que quem levou os créditos e a promoção para capitão foi seu parceiro, a fazendo seguir sendo subestimada por seus colegas de profissão. Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell) é o brinquedinho de um dos mafiosos mais influentes da cidade, além de passar a noite cantando em sua boate, ela ainda precisa ser submissa ao homem cruel. Caçadora (Mary Elizabeth Winstead) é uma mulher misteriosa, que está matando a sangue frio diversos mafiosos de Gotham.
Você deve estar se perguntando o motivo da união dessas mulheres tão diferentes, não é? Vamos para um breve resumo: Cassandra Cain (Ella Jay Basco) roubou a pessoa errada, neste caso: Roman Sionis (Ewan McGregor), um poderoso homem que é chefe da Canário, e acabou cometendo uma série sem fim de erros que a levaram a ter sua cabeça posta a prêmio. Com a falta de proteção do Coringa, Arlequina é obrigada por Roman a entrar numa caçada em busca da menina. Em paralelo, Renee está buscando informações sobre a movimentação da quadrilha de Sionis, tendo como informante ninguém menos que a Canário. Em suma, todas as mulheres estão ligadas à Roman.
“Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fabulosa” tem como proposta ser um filme onde as mulheres, que sempre são subestimadas, mostram a força que guardam dentro de si e, acima de tudo, mostre que mulheres unidas são mais fortes.
O longa (que conta com a maior parte de sua produção composta por mulheres a pedido de Margot) tem direção de Cathy Yan, uma não muito conhecida diretora que já chegou com novidades ao ser a segunda mulher e a primeira asiática a dirigir um filme da DC. Graças ao excelente trabalho dela, temos um dos melhores (se não for o melhor) longas da nova geração da Warner. De fato, o clima do poder feminino tomou conta da produção do filme, tendo a própria Margot como produtora para garantir que a essência sensual das personagens fosse mantida, mas sem a hipersexualização que outros filmes trazem para as mulheres. O roteiro (escrito por Christina Hoodson) conta com o timing perfeito para cada situação, ele é engraçado onde precisa ser, é cruel quando precisa ser e é empolgante a cada segundo.
Ainda sobre a parte técnica, vemos um bom uso das cenas em slow motion e de cenários bem coloridos e interativos, apoiados pelos efeitos especiais, como o CGI de Bruce, a hiena da Harley, que parece ser um animal real e acaba garantindo boas cenas com a protagonista. Contando com alguns easter eggs, como já mostrado nos trailers, temos a protagonista repetindo a famosa cena de “Gentlemen Prefer Blondes”, onde Marilyn Monroe canta “Diamonds are a Girl’s Best Friend”. Inclusive toda a trilha sonora é composta principalmente por mulheres (pelo menos cantando), reforçando toda a ideia do filme sobre a união feminina.
Não é novidade que Margot Robbie é uma excelente atriz, e mais uma vez ela não decepciona, trabalhando bem as emoções e conseguindo apresentar um ótimo desenvolvimento de personagem, partindo de uma mulher abandonada e sozinha para outra segura de si e disposta a lutar com todos que tentarem impedir sua independência. Rosie Perez, famosa por filmes dos anos 90, não deixa Margot para trás, apresentando uma mulher extremamente forte, mas que se vê escondida graças a sociedade extremamente machista, sua personagem está frustrada e cansada quando vê a grande oportunidade de se provar ao investigar Roman.
Jurnee não só se mostrou uma excelente atriz, como também apresentou vocais extraordinários, um fato curioso é que ela nunca havia cantado publicamente. Sua personagem tem ligação direta com o vilão e, por conta disso, presencia várias atrocidades, colocando sempre a prova o seu bom coração, o que a torna a personagem mais atrativa no meio de todas. Mary Elizabeth, famosa por seus papéis em filmes de terror, apresenta a misteriosa Caçadora, que possui uma história diretamente ligada ao enredo principal, é difícil falar sobre sua participação por seu menor tempo de tela, apesar de isto não a impedir de ter foco, graças à atriz trabalhar bem todo o mistério que envolve sua personagem.
Para finalizar as protagonistas, Ella foi uma grande aposta da Warner que definitivamente renderá bons frutos. Tendo apenas 13 anos, a atriz apresenta uma personagem problemática e bem complexa de uma forma muito boa. De uma forma geral, a garota foi a escolha perfeita para estar ao lado de Margot, as duas possuem uma química palpável, o que nos faz sentir a forte ligação da palhacinha com a pequena ladra.
Ewan McGregor, famoso por interpretar Obi Wan Kenobi em Star Wars, e que recentemente esteve no papel de Danny Torrence em Doutor Sono, é o maléfico Máscara Negra/Roman Sion, um homem extremamente temperamental e explosivo, quando as coisas não acontecem como ele planejou. Seu real perigo está em seu lacaio, e melhor amigo, Victor Zsasz (Chris Messina), um assassino em série que faz uma marca no próprio corpo para cada vítima, e ambos querem a Arlequina morta, assim como querem de volta o objeto que foi roubado pela menina, sendo capaz de tudo para obtê-lo.
Apresentando um ótimo enredo e piadas fantabulosas, Aves de Rapina traz temas polêmicos de uma maneira rápida e de fácil compreensão, se mostrando um filme necessário, que coloca o dedo na ferida e incomoda àqueles que condizem com as lições apresentadas, nos fazendo refletir enquanto nos diverte. De uma forma geral o filme cumpre o que propõe e apresenta a história de cada personagem, teria finalmente a DC acertado a formula para filmes com grupos ou foi a força de vontade da Margot fazer o longa acontecer (inclusive injetando dinheiro pessoal no projeto) que o tornou tão majestoso?
Matheus Soares
Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!