Crítica | Batalhão 6888 (The Six Triple Eight)

Nota
3

A vida de Lena Derriecott (Ebony Obsidian) parecia estar indo cada vez melhor. Apesar da sua família não estar contente com seu relacionamento atual, ela se sente cada vez mais apaixonada pelo seu novo amor. Mas, quando seu namorado precisa servir o exército na Segunda Guerra Mundial, ela fica desolada por não ter notícias do amado, e por isso decide se alistar ao exército. Mas, mulheres no exército não tinham uma função como a dos homens, ainda mais para mulheres negras, que eram vistas pelos soldados brancos como preguiçosas e sem utilidade. Porém, Lena entrou no batalhão da determinada Major Charity Adams (Kerry Washington), que luta para não fecharem o departamento de seu batalhão, que treina exclusivamente mulheres negras. Em meio a suas lutas políticas, a Major Adams consegue levar seu batalhão para a Europa para fazer a distribuição de cartas dos soldados para suas famílias, ela só não contava com a quantidade de cartas que precisavam ser separadas. Uma tarefa impossível, que nenhum dos homens do batalhão acredita que elas seriam capazes de cumprir, fazendo inclusive diversas ações para que elas não consigam concluir sua tarefa. Baseado em uma história real, Batalhão 6888 conta a história de determinação e resiliência dessas mulheres que tentaram levar conforto e esperança para as famílias dos soldados estadunidenses durante a Segunda Guerra.

Com uma filmografia inteira composta por filmes protagonizados por atores negros, o diretor Tyler Perry chega com mais um filme de tom mais sério, após diversos anos trabalhando com comédias. O filme distribuído pela Netflix alcançou diversas premiações pela sua música tema “The Journey”, interpretada pela cantora H.E.R., que inclusive já possui um Grammy por sua canção “I Can’t Breathe”, de 2021. Apesar das suas 10 indicações pela música de H.E.R. a premiações variadas, o filme não chega a ser um dos favoritos a levar o Oscar de Melhor Canção Original, única categoria a qual o filme concorre na cerimônia, mas após o enfraquecimento da campanha de Emília Perez, que concorre duas vezes na categoria, Batalhão 6888 pode acabar tendo mais vantagem na premiação, especialmente pelo histórico de H.E.R., mas ainda assim, as chances do filme levar a categoria são baixas. A cantora que é um dos maiores nomes do gênero R&B da atualidade consegue trazer uma música extremamente emocional que combina muito com o filme por seu teor de superação de uma longa jornada.

Apesar da jornada emocional da personagem de Ebony Obsidian, a atriz não consegue segurar o filme sozinha até o momento que Kerry Washington entra em cena. A atuação de Ebony é bastante satisfatória para o que sua personagem se propõe a ser, mas nos primeiros minutos de filme, dá-se a entender que ela é a personagem principal, o que está longe de ser verdade, visto que a partir do momento que Kerry assume o seu protagonismo do filme, o roteiro começa a caminhar. A função de Lena Derriecott é ilustrar a dor das famílias que perderam o contato com os soldados da guerra, mas ela assume esse papel sozinha, o que não a favorece pelo tipo de construção que sua personagem vai tendo ao longo do filme. Ao entrar no batalhão, Lena faz amizade com outras três garotas da sua idade, que não têm suas histórias aprofundadas no nível que Lena teve, sendo assim, teria sido muito mais interessante se o diretor tivesse usado as quatro personagens juntas na função de ilustrar o que as famílias passaram no contexto de guerra, já que em muitos momentos, quando achamos que seremos introduzidos a seus backstories, o filme rapidamente já muda de assunto. 

Ao finalmente assumir seu protagonismo, Kerry Washington brilha como a Major Adams, trazendo diversas nuances de uma personagem que não chega a ser complexa, mas que passa por diversas emoções em um ambiente de tamanha pressão, ainda mais por ocupar um espaço de tão grande de responsabilidade. A personagem de Kerry, que carrega todo o peso de representar seu batalhão inteiro de mulheres negras, mostra também a capacidade da atriz de atuar pelas sutilezas, já que mesmo em situações de vulnerabilidade se mostra forte em todo o momento, e ainda assim conseguimos saber tudo que a Major está pensando e sentindo. Ainda assim, o roteiro de Batalhão 6888 segue um padrão clássico replicado diversas vezes pela plataforma da Netflix, sem criar grandes inovações na forma de contar sua narrativa, entregando conflitos seguidos de resoluções ao longo de todo o filme, para mostrar a força das soldadas de conseguirem persistir, mas ainda assim no final deixa o longa cansativo.

Concorrendo ao Oscar de Melhor Música Original, Batalhão 6888 é uma das apostas da Netflix para garantir a estatueta. O filme apresenta uma história real que tenta ser inspiradora sobre a determinação e superação de soldadas negras americanas na Segunda Guerra, apesar de suas limitações narrativas. Kerry Washington como Major Charity Adams é a alma do filme, destacando-se pelo trabalho exemplar mesmo com uma personagem não tão complexa. A trilha sonora de H.E.R. adiciona uma camada emocional à narrativa, embora o longa siga um caminho padrão na maneira de conduzir sua narrativa, sem grandes novidades. A obra de Tyler Perry, apesar de sua falta de inovação, oferece um olhar importante sobre a contribuição das mulheres negras durante a Segunda Guerra Mundial, trazendo um ponto de vista importante sobre o apagamento da história negra, e trazendo à tona uma história pouco conhecida. Apesar de Batalhão 6888 não ser revolucionário enquanto obra audiovisual, ele cumpre bem seu papel como um filme histórico divertido, como muitos outros do streaming. 

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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