Crítica | Bloodshot

Nota
1.5

É possível que se este Bloodshot (2020) tivesse sido lançado no final da década de 2000, quando a hegemonia dos super-heróis ainda não era um fato consumado e quando o estilo Michael Bay de “pós-continuidade” não era tão frequentemente massacrado

, ele conseguisse algum apelo para além do público casual de cinema ou dos fãs de seu material fonte. Baseado no universo compartilhado da Valiant Comics, o filme dirigido pelo estreante Dave Wilson é genérico até dizer “basta”. Aliás, até bem depois de dizer. 

A história, mais uma vez, parte de um soldado que, em decorrência de uma missão, é capturado e tem sua esposa assassinada em sua frente, sendo morto na sequência. Um grupo de cientistas, no entanto, consegue ressuscitar Ray (Vin Diesel) através de nanotectologia, tornando-o a parte mais poderosa de um “esquadrão” de pessoas com implantes robóticos e com habilidades extraordinárias. Através de algumas descobertas em suas memórias, no entanto, o inimigo aparente pode não ser o verdadeiro. 

Não é necessariamente problema que Bloodshot seja filmado em boa parte como um comercial de carro ultrapassado e montado como um salmão na mesa de sushi. Faz parte dessa “Bay-school” essa desconstrução/desorientação cênica em prol de uma possível eficiência frenética, na qual os cortes e os efeitos sonoros se responsabilizam muito mais pela coreografia final da ação do que propriamente os atores e a fotografia. Mas se no caso específico de Michael Bay (para mal ou para mal) o estilo tinha personalidade própria – e, de alguma maneira, dialogava com a ideia/falta dela – nesse caso aqui, praticamente tudo soa como artifício primário e datado. 

Dave Wilson, que tem à sua disposição um orçamento até mais limitado de 45 milhões, na comparação com os 200 milhões de um V&F da vida, tenta empregar em dois ou três momentos isolados uma atmosfera quadrinhesca mais evidente – criando cenas de luta potencialmente envolventes. Mas nada se sustenta por mais de alguns meros minutos, já que o roteiro (coescrito pelo muito bom Eric Heisserer, de A Chegada) é praticamente inexistente – está mais próximo de um formulário empresarial (absolutamente qualquer coisa aqui já foi espremida e copiada ao longo da última década).

Talvez quando o pessoal perceba que até para copiar existe prazo de validade, produções desse tipo serão engavetadas com o espaço aberto para nomes originais e vozes revigorantes. Claro que isso é utopia. Volta e meia, seguiremos encarando centenas de filmes como Bloodshots: clichês até na ruindade. 

 

De Recife (PE), Jornalista, leonino típico, cinéfilo doutrinador.

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