Nota
A passagem do tempo pode ser cruel para aqueles que vivem em função de grandes expectativas, mas também pode ser surpreendentemente generosa para aqueles que aprendem a abraçar suas imperfeições. Entre conquistas, tropeços e mudanças inesperadas, algumas pessoas parecem destinadas a seguir nos acompanhando, independentemente dos anos que se passam. Encontrá-las novamente é como revisitar uma velha amiga depois de muito tempo: a essência ainda está lá, as piadas continuam as mesmas e, de alguma forma, a conexão nunca se perdeu.
Bridget Jones: Louca pelo Garoto nos convida a mais um capítulo da vida da personagem icônica interpretada por Renée Zellweger, agora enfrentando um de seus desafios mais dolorosos: a viuvez. Anos após ter encontrado o tão sonhado “felizes para sempre” ao lado de Mark Darcy (Colin Firth), Bridget se vê sozinha, tentando equilibrar a maternidade e a redescoberta de si mesma. O roteiro, baseado no livro de Helen Fielding e dirigido por Michael Morris, acompanha essa jornada com um misto de humor e emoção, mostrando que, mesmo após tantas reviravoltas, sua protagonista ainda é a mesma mulher atrapalhada e encantadora que conquistou o público décadas atrás.
O retorno de Renée Zellweger ao papel é um dos grandes trunfos do filme. A atriz traz uma performance madura e cheia de nuances, mantendo o carisma inconfundível da personagem, mas evidenciando também o peso das experiências vividas. A química com os novos e antigos personagens continua funcionando, e a dinâmica entre Bridget e seu novo interesse amoroso, Roxster McDuff (Leo Woodall), adiciona frescor à trama. Com um romance que brinca com o clichê da diferença de idade, o filme consegue explorar novas camadas da personagem sem perder o tom leve e divertido que sempre marcou a franquia.
Além disso, Bridget Jones: Louca pelo Garoto acerta ao resgatar personagens queridos e trazer novas interações marcantes. O retorno de Hugh Grant como Daniel Cleaver, por exemplo, proporciona momentos de humor e nostalgia, enquanto Chiwetel Ejiofor, como o professor de ciências Mr. Wallaker, adiciona um contraponto interessante à jornada emocional de Bridget. O filme ainda reforça o valor das amizades de longa data, trazendo de volta o grupo fiel de amigos da protagonista, que continuam sendo seu alicerce nos momentos mais difíceis.
Visualmente, a produção mantém o charme britânico característico da franquia, com uma fotografia acolhedora que reforça o tom intimista da narrativa. A trilha sonora, por sua vez, acompanha as emoções do filme de forma precisa, com escolhas musicas que remetem tanto à nostalgia quanto à renovação. O humor, embora menos ingênuo do que nos filmes anteriores, segue funcionando graças ao timing cômico de Zellweger e ao roteiro que equilibra bem os momentos cômicos e os dramáticos.
A principal força do filme está na maneira como aborda a resiliência e a capacidade de se reinventar. Bridget sempre foi uma personagem que representava a luta contra as expectativas sociais e a busca por autenticidade, e essa nova fase de sua vida reafirma essa identidade. A história mostra que não há um único caminho para a felicidade e que a vida, com todas as suas imperfeições, ainda pode reservar surpresas maravilhosas.
Ao final, Bridget Jones: Louca pelo Garoto entrega uma continuação digna para a franquia, que respeita a trajetória da personagem e oferece uma despedida emocionante para aqueles que acompanharam sua história desde o início. O filme pode não ter o mesmo impacto inovador do original, mas reforça que Bridget Jones continua sendo uma das personagens mais queridas do cinema, provando que algumas amizades, mesmo à distância ou após muitos anos, nunca perdem seu brilho.
Victor Freitas
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Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.