Crítica | Brinquedo Assassino (Child’s Play) [1988]

Nota
3.5

“Oi, eu sou o Chucky e vou ser seu amigo até o fim, vamos brincar?”

Durante uma perseguição policial, o estrangulador Charles Lee Ray acaba se escondendo dentro de uma loja de brinquedos. Por ter levado um tiro, o homem percebe que está a beira da morte, mas usa suas últimas forças para fazer um ritual de transferência, colocando sua alma dentro de um boneco Good Guy antes de morrer. Perto dali, o jovem Andy acorda feliz no dia do seu aniversário, ele assiste seu programa matinal favorito, o Good Guys, e vê uma propaganda do maravilhoso boneco Good Guy, o presente que ele mais deseja ganhar. Tentando conseguir a felicidade do seu filho, a mãe de Andy acaba comprando um desses bonecos de um ambulante na rua, o que ela não esperava é que esse não seria um Good Guy comum, mas sim um boneco possuído pela alma de um assassino desejando vingança.

Quando Don Mancini estudava cinema na Universidade da Califórnia em Los Angeles, ele acabou sendo inspirado pelo consumismo, pela antologia de terror Trilogy of Terror e pela série The Twilight Zone para criar um roteiro original, foi assim que nasceu a história “Blood Buddy”, um roteiro onde veríamos um boneco preenchido com sangue falso, para permitir que ele sangrasse quando a criança batesse nele, mas que acabaria ganhando vida depois que o sangue de Andy se mistura com o do boneco, criando uma história onde seriamos levados a ficar sempre em dúvida se os assassinatos estariam sendo cometidos por Chucky ou por Andy. Quando entrou na busca comercial por produção, o roteiro acabou sendo reescrito por John Lafia e, por recomendação de Steven Spielberg, remodelado por Tom Holland, que acabou assumindo a direção do longa. Saindo do papel, o longa se inspirou na famosa linha de bonecos My Buddy para criar a linha ficcional Good Guys, que acabou sendo o marcante design de Chucky, alterando a forma como o boneco é possuído e criando o nome original do assassino a partir dos nomes de Charles Manson, Lee Harvey Oswald e James Earl Ray.

Lançado em 1988, o longa começa com uma pegada bastante mainstream, seguindo o desejo de David Kirschner para criar um suspense antes de realmente mostrar o Chucky criando vida, a medida que vamos vendo o boneco possuído influenciando Andy a fazer certas coisas escusas, deixando sempre no ar aquela dúvida do que realmente Chucky é capaz de fazer. Porém, com a chegada do terceiro ato do longa, a produção agarra forte sua atmosfera trash e dá a Chucky tudo que ele precisava para se tornar um grande clássico do terror trash, abrindo as portas para uma das franquias mais dúbias da história do cinema. Dublado por Brad Dourif, o boneco assassino começa sendo ‘interpretado’ por um animatrônico, mas, a medida que vai ganhando vida, vemos o personagem oscilando entre o animatrônico e pessoas de baixa estatura, o que vai deixando contrastes na aparência do boneco, dando até uma pequena calvície, algo que só coopera para o caráter trash da produção. Infelizmente a personalidade de Chucky é tão expansiva que quase não temos tempo para explorar os outros personagens, o que torna o papel do jovem Alex Vincent, em seu papel de estreia, muito mais complicado. O Andy de Alex é o guia da trama, ele consegue aos poucos nos cativar com sua inocência e contrastar com a escuridão que reside em Chucky, mas ele perde muito brilho de tela por conta do boneco, deixando muito a evoluir. Catherine Hicks, interprete da mãe de Andy, e Chris Sarandon, interprete do Detetive Mike Norris, surgem muito mais para apoiar a trama, apesar de serem titulares de uma parte importante do enredo, ficando de lado quase o longa inteiro e tendo pouco tempo de destaque, que não é tão marcante quanto deveria.

Enérgico e com um antagonista marcante, Brinquedo Assassino pode até ser assustador em sua maior parte, mas assume um tom sombriamente engraçado e vários pontos, como se tropeçasse na tênue linha que divide o tom de comédia e terror. Por outro lado, o trabalho de Holland na construção de Chucky é genuinamente convincente, tornando a proposta do filme mais chamativa, sua evolução do inocente Good Guy ao sanguinário assassino mais palpável, e até sendo ajudado pela ideia de se gravar a dublagem antes do inicio das gravações, o que permitiu ao setor de arte ajustar a boca e as expressões do boneco para ser harmônico com as palavras e o tom emprestado por Dourif. Inteligente em certos pontos, o longa mantém seu desenrolar dinâmico sem ser apressado, nos envolvendo em maior parte do seu enredo, apesar disso, o final da produção não é das melhores, parecendo uma repetição dos clichês de vários filmes do gênero ao mesmo tempo que se aproveita do terror infantil do personagem de Vincent.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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