Crítica | Carnaval

Nota
2

“Na busca de tudo ganhar, você pode perder o que realmente ama.”

Nina é uma Digital Influencer de menor porte, e tem sua vida completamente abalada quando seu namorado, Marcão, a trai com a professora de crossfit e a noticia se espalha pela internet, fazendo com que a garota vire um meme. Tentando superar a tristeza, Nina usa seus contatos para conseguir uma viagem para o Carnaval de Salvador com tudo pago, se tornando parte das Influencers convidadas para a comitiva de Freddy Nunes, um popular cantor bahiano que está em alta nas redes sociais. Numa tentativa de melhorar ainda mais sua viagem, Nina abre mão do seu cachê em troca de levar suas três melhores amigas na viagem: Mayra, uma bióloga extremamente conectada com esoterismo, Vivi, uma nerd muito conectada e exigente, e Michelle, uma paqueradora compulsiva que pega qualquer homem que encontra pela frente.

Lançado pela Netflix em 2 de junho de 2021, a comédia nacional roteirizada por Leandro Neri e Lipy Adler foi uma das grandes apostas da Netflix Brasil para 2021, fundada em cima de diversos clichês do mundo moderno, o longa brinca com viralização, cancelamento, publipost, poder dos influencers, invasão de privacidade e tantos outros dilemas que rapidamente se tornaram parte do dia-a-dia das redes sociais, mas se perde no meio de tanto clichê e cenas mal planejadas. A produção começou a ser gravada em Salvador no início de 2020, o que possibilitou ao filme incluir cenas reais da folia baiana, mas acabou tendo suas gravações interrompidas pela pandemia, o que fez o longa só ser finalizado em setembro do mesmo ano, uma pausa que poderia ter sido usada para enriquecer algumas das cenas vergonhosas do longa.

Giovana Cordeiro parece ser incapaz de realmente sustentar sua personagem, apesar de que sua personagem é construída de uma forma meio incomoda. Nina é uma garota que parece disposta a tudo para alcançar a marca de um milhão de seguidores, desde o começo fica claro o quanto ela é apegada às suas amigas, mas o filme brinca ao transformar ela num monstro obcecado por likes e engajamento, como se quisesse pregar que essa transformação fosse a única forma de ela alcançar seu sonho ao mesmo tempo que parece querer pregar o tempo todo uma lição de moral sobre a importância da amizade acima de tudo, uma história que acaba sendo colocada em pauta de novo quando revemos a subtrama de Luana (Flavia Pavanelli), outra exagero pesado no ato final do filme. Samya Pascotto interpreta bem a Vivi, fazendo bastante graça com sua busca pelo conteúdo acima da ‘capa do livro’, uma situação que fica chata após meados do filme, criando algumas piadas que, apesar de repetida exaustivamente, deixa um certo sorrisinho no rosto daqueles que pegarem as referencias.

Bruna Inocencio fica muito apagada no decorrer do filme interpretando a tímida Mayra, a garota é meio fitness e parece temer a bebida inicialmente, algo que é rapidamente explicado quando vemos o quanto ela se transforma depois de algumas doses, mas a verdadeira trama da personagem parece ser depositada no seu trauma do passado, que a fez se tornar demofobica, mas esse subplot acaba não tendo destaque suficiente durante todo o longa. O grupo protagonista se completa com Gkay que, no papel de Michelle, acaba sendo a melhor personagem do longa, vivendo como se não houvesse amanhã, Michelle está disposta a beijar todo mundo que estiver disponível, mas seu Carnaval muda no momento em que ela beija Ronaldo, um homem no meio de muitos que tem o beijo perfeito e que ela passa o resto do feriado tentando reencontrar, uma trama que até cativa de inicio, mas que logo é soterrada pelas falhas do roteiro e perde a graça, a sorte da influencer é que sua personagem, que é sua estreia como atriz, acabou sendo a fonte das melhores piadas do longa, deixando espaço suficiente para ela chamar atenção. O longa ainda conta com Flavia Pavanelli e com Micael Borges como Freddy, mas os dois personagens, que são catalisadores na trama principal, acabam não tendo uma evolução muito agradável, sendo forçados o tempo todo e incomodando no decorrer do enredo. A participação de Antonio e Manoel Rafaski é outra escolha que se perde no meio das diversas falhas do roteiro, fazendo com que os gêmeos passem quase despercebidos durante todo o filme.

Assim como O Último Virgem, outro longa onde tivemos Adler co-roteirizando e atuando, vemos uma tentativa falha de renovar o humor nacional com pitadas do que sempre deu certo na comédia americana, criando uma premissa que pode até nos conquistar e chamar nossa atenção mas que é rapidamente condenada por seu desenvolvimento. A direção de Leandro Neri é outra decepção para o longa, o que nos faz questionar o que aconteceu com aquela direção que garantiu tanto sucesso em diversos programas da Globo, o trabalho de Neri parece não ser capaz de dar uma verdadeira substancia e direção para o texto que ele mesmo ajudou a construir, o que faz todos os personagens ficarem sem uma alma ou motivação plausível e os desenrolares parecerem artificiais demais para realmente agradar ao publico. A impressão que fica no final de Carnaval não é o saudosismo da festa, que a Netflix tanto nos prometeu, mas sim de vergonha alheia e falta de conteúdo que nos faz questionar por que acreditamos no marketing e perdemos tempo com a produção.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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