Crítica | Cazuza – O Tempo Não Para

Nota
3

Cazuza teve uma vida polêmica e intensa, desde o seu estrelato com a banda Barão Vermelho, passando por uma carreira solo de sucesso até a descoberta do HIV e seu falecimento decorrente da AIDS. Explorando a vida pessoal e profissional do cantor, de 1981 a 1990, somos apresentados a um jovem burguês revolucionário, viciado em poesia, drogas, sexo e rock n roll e, como muitos jovens, fazendo várias merdas. No papel protagonista, Daniel de Oliveira imprime um cazuza poeta, brigão e polêmico, que vivia um relacionamento complexo com seus pais, que ao mesmo tempo que brigava bastante os amava, e moldava tudo para ser da sua forma, construindo um eu muito teatral e poetico a todas as frases e diálogos.

Essa pegada mais poética, em todos os sentindos, é justamente a interpretação escolhida pela direção de Sandra Werneck e Walter Carvalho, mostrando uma pessoa que vivia a sua arte das palavras a todo momento, mas que acaba deixando a narrativa um pouco cansativa, dando tanto espaço para o astro, artista e poeta que deixam o lado humano apenas para diversão e revolta de jovem ou para momentos dramáticos. Outra escolha que inicialmente funciona é na questão visual, trazendo uma granulação condizente com os anos 80, tons alaranjados e amarelados com muito contraste para as partes de performance e tons mais esverdeados para as partes mais tristes do filme, porém tanto contraste começa a atrapalhar em certos momentos do filme, quando a escuridão começa a atrapalhar as expressões faciais, e mesmo que o longa tente compensar com mais expressão corporal pra essas cenas, fica no ar uma impressão de erro nas decisões tecnicas.

O elenco se fortalece explorando todo o círculo de amigos de Cazuza, pessoas queridas pelo astro como Malu (Andréa Beltrão) e Maneco (André Gonçalves) e também que se tornaram personalidades de destaque em ambito nacional como Bebel [Gilberto] (Leandra Leal), Zeca [Ezequiel Neves] (Emílio de Mello) e Frejat (Cadu Fávero), uma série de escolhas de peso que mostram as inconsequência das suas amizades e como realmente é uma amizade verdadeira, que se manteve ao lado de Cazuza até os últimos dias do astro. Mas quem dá uma verdadeira aula de drama é Marieta Severo no papel de Lucinha Araújo, a mãe de Cazuza, uma mãe superprotetora, que sofria pelas escolhas do filho, mas que sempre estava ali, de olho, perto, amando. Todas essas escolhas se somam com o belíssimo trabalho de palco com o Daniel, entregando o astro do rock nacional e poeta de uma forma tão jovem e inteligente, fazendo Cazuza estar presente no figurino, na sua movimentação no palco e até nas provocações com o público. Ainda vamos fundo na cena underground carioca, tratando a sexualidade de Cazuza como ele era, livre e não monogâmica, envolvendo homens, mulheres, amigos, ao mesmo tempo que deixa claro que a entrada de Cazuza na música não era por dinheiro, era para expor pensamentos, causar sentimentos, desafiar e fazer pensar.

Como uma cinebiografia, fica um pouco duvidosa as escolhas feitas na hora da montagem das cenas em shows, intercalando cenas do show real, com a qualidade baixa da época, com cenas de interpretação de Daniel daquele show, o que pode ser uma tentativa de trazer uma maior intimidade mas não orna com a cena e nem traz uma fluidez que torne a cena crível, principalmente por as cenas não se sintonizarem e ficar um claro contraste, talvez a melhor solução fosse usar apenas as cenas com Daniel e nos créditos trazer momentos reais para um comparativo em forma de homenagem. Falando de trilha e performances, a produção traz clássicos do Barão Vermelho e do próprio Cazuza, como Pro Dia Nascer Feliz, Bete Balanço, IdeologiaO Tempo Não Pára, além de O Mundo É Um MoinhoCazuza – O Tempo Não Para é a biografia de um astro, trazendo uma forma poética e não tão crua do astro, mas ainda assim com afeto e admiração.

 

 

Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror

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