Crítica | Cemitério Maldito (Pet Sematary) [2019]

Nota
2

Uma das grandes habilidades da escrita de Stephen King é criar impacto a partir de uma ruptura com um contexto realista através da fantasia de horror. Junto a O Iluminado e Carrie, Cemitério Maldito é uma das suas obras mais memoráveis exatamente por contrapor o sobrenatural a um conflito base cruamente realista.

O longa homônimo de 1989 não entendia muito bem o subtexto e a força dramática da história, mas dentro da tosquice que propunha, conseguia criar alguns momentos apropriados de escapismo. 30 anos depois, numa alta das adaptações de King (principalmente depois do sucesso de It: A Coisa) a história foi retomada com maior seriedade – o que não significa maior êxito.

A premissa segue a mesma: uma família se muda para uma casa próxima a uma estrada no meio da floresta. No quintal da casa, porém, há um estranho cemitério de animais próximo de um outro espaço que, reza a lenda, traz os mortos de volta à vida. O cenário trágico está pronto para, mais à frente, Cemitério Maldito (agora sim, o filme de 2019) lidar de forma niilista – e ocasionalmente gráfica – com os elementos de puro horror que agradam os fãs do livro e/ou os espectadores cansados da hegemonia piadista do cinema de gênero dos últimos anos. Em outras palavras, a única coisa que diferencia esse filme de uma dezenas de produções baratas da última década é falta 100% de um real alívio cômico.

Fora isso, a direção dos estreantes Dennis Widmyer e Kevin Kölsch não tem nada de particularmente criativo ou inspirado, seja no tratamento do drama em si ou na criação de atmosfera. Os efeitos sonoros – que vão de ruídos animalescos a rangidos de porta – são tão evidentes e constantes que perdem rapidamente seu efeito. Os jumpscares são tão descartáveis e telegrafados que não pegam ninguém de surpresa. E os planos que deveriam assustar são quase sempre tão óbvios que em nada correspondem a uma tela de cinema. A exceção a todos esses problemas é a icônica e trágica cena de virada na trama, onde o som abafado, a câmera lenta e a montagem precisa constroem muito bem desorientação e ainda subvertem as expectativas.

Jason Clarke e Amy Seimetz se esforçam, mas o backstory dos seus personagens contradiz suas atitudes mais adiante, servindo apenas como válvula de tensão. Adaptações e refilmagens são válidas quando trazem uma visão muito específica ou atualizada de certas histórias. Mas quando não há nenhuma singularidade a apresentar é melhor deixar enterrado – “às vezes estar morto é melhor”.

De Recife (PE), Jornalista, leonino típico, cinéfilo doutrinador.

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