Crítica | Como Vender a Lua (Fly Me to the Moon)

Nota
3.5

A Apple TV+ lança em primeira mão nos cinemas o divertido Como Vender a Lua (Fly Me to the Moon, no original em inglês, clara referência à música de Frank Sinatra), um filme que combina romance, comédia e um toque de drama histórico. Dirigido por Greg Berlanti e estrelado por Scarlett Johansson (Vingadores: Ultimato) e Channing Tatum (Festa no Céu).

Situado no contexto vibrante dos anos 60, durante a Corrida Espacial entre os Estados Unidos e a União Soviética, o filme traz uma narrativa da tentativa de vender a ideia do pouso lunar ao público americano. A trama se desenrola em 1969, quando a NASA está prestes a lançar a missão Apollo 11. Kelly Jones (Scarlett Johansson) é uma especialista em publicidade contratada para revitalizar a imagem pública da NASA e gerar entusiasmo em torno da missão lunar. Do outro lado, temos Cole Davis (Channing Tatum), um diretor de lançamento da NASA dedicado e sério, cuja principal preocupação é garantir que os astronautas cheguem à Lua e retornem em segurança. A tensão entre Kelly e Cole é palpável desde o início, criando uma dinâmica de “gato e rato” que é tanto divertida quanto capaz de fazer fagulhas pularem da tela e atingir o espectador. No entanto, tudo dá uma volta de 360 quando Kelly é instruída por Moe Berkus (Woody Harrelson) a preparar uma versão falsa do pouso na Lua como um plano de contingência, caso a missão real falhe.

Scarlett Johansson se destaca como Kelly Jones, trazendo uma combinação de charme e astúcia que faz sua personagem brilhar na tela. Kelly é uma mulher determinada e engenhosa, lutando para se afirmar em um ambiente dominado por homens. A sequência de abertura é um exemplo perfeito de sua habilidade em manipular situações a seu favor. Por outro lado, Channing Tatum interpreta Cole Davis com uma seriedade e vulnerabilidade que contrastam bem com a energia de Johansson. Cole é um homem atormentado pelo fracasso e pelo seu passado, e sua obsessão por segurança e perfeição torna seu personagem ainda mais profundo e interessante.

A química entre Johansson e Tatum é indiscutível. Suas interações são carregadas de tensão sexual e humor, o que torna a evolução do relacionamento deles envolvente. A dinâmica entre Kelly, uma mentirosa compulsiva, e Cole, sincero até demais, cria situações cômicas e que fazem você torcer pra acabarem se beijando logo. A presença de Woody Harrelson como o enigmático Moe Berkus adiciona uma camada extra de intriga e complexidade, com seu personagem sendo tanto um chefe quanto um “antagonista” na vida de Kelly, se é que podemos chamar assim.

Greg Berlanti dirige Como Vender a Lua com um toque leve, equilibrando comédia e drama de forma eficaz. O roteiro de Rose Gilroy é inteligente e bem elaborado, mesclando romance, elementos históricos e uma crítica sutil à cultura de marketing e propaganda da época. Embora a adição do plano de contingência para o pouso na Lua possa parecer exagerada e se alimentando das maiores teorias da conspiração terraplanistas, ela funciona dentro do contexto do filme, adicionando uma dimensão extra de conflito e expectativa para o final.

A cinematografia de Dariusz Wolski (Napoleão) captura a essência dos anos 60 com uma paleta de cores vibrante e detalhamento precisa. A produção de arte e os figurinos são igualmente impressionantes, transportando os espectadores para a época da Corrida Espacial com autenticidade. As cenas que retratam as operações da NASA são particularmente bem-feitas, misturando precisão histórica com um toque de espetáculo cinematográfico.

A inclusão do enredo sobre a falsa filmagem do pouso na Lua pode parecer forçada para alguns espectadores, desviando a atenção do núcleo romântico do filme, porém esse é o verdadeiro plot da trama, sendo puro suco conspiracionista que se arrasta até os dias atuais. Além disso, o ritmo do filme ocasionalmente se arrasta, especialmente no segundo ato, o que pode testar a paciência de alguns espectadores. Esses momentos de lentidão contrastam com o ritmo acelerado e a energia vibrante das cenas mais dinâmicas, criando uma sensação de desequilíbrio ocasional na narrativa.

O filme também aborda questões mais amplas sobre verdade e mentira, confiança e decepção, de uma maneira que ressoa com o público contemporâneo. As reflexões de Kelly sobre a natureza da verdade e da mentira são particularmente pertinentes, oferecendo uma perspectiva interessante sobre o papel da mídia e da propaganda na formação da opinião pública.

Em suma, Como Vender a Lua é uma mistura razoável que funciona, sendo leve e divertido para se ver quando se está rolando pelo streaming e que se destaca principalmente pelas atuações de seus protagonistas e pela história divertida. Uma boa trama para quem só quer se divertir e um prato cheio para quem não acredita no pouso do homem na Lua.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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