Crítica | Conclave

Nota
5

Após a morte inesperada da Vossa Santidade, o Papa (Bruno Novelli), os Cardeais agora tem a dura missão de, mesmo no luto, decidirem entre si quem será o novo Papa. Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é quem lidera e organiza a votação para o novo Papa, trazendo Cardeais de diversos países ao Vaticano para cada um votar no ritual antigo que acontece desde 1271 chamado Conclave. Mas Lawrence vai se ver em diversas saias justas durante esse processo, sendo o primeiro deles a chegada de um recém eleito Cardeal, Benitez (Carlos Diehz), que cria desconfiança de Cardeais mais conservadores, como o Cardeal Tedesco (Sergio Castellitto), pela nomeação de Benitez ser o último feito do Papa antes de morrer e por ameaçar a própria campanha de Tedesco, que é de uma linha mais conservadora. Além disso, o Cardeal Bellini (Stanley Tucci), que é de uma linha mais progressista, pressiona Lawrence para ajudá-lo em sua campanha, o deixando sem muita escolha. Se não bastasse as pressões de todas as campanhas para o papado, Lawrence ainda vai investigar diversas conspirações envolvendo o falecido Papa, que podem manchar a imagem da igreja para o mundo. Com diversas intrigas, jogos políticos e de interesse, Conclave é uma boa surpresa do diretor alemão Edward Berger, tentando mais uma vez o destaque nas premiações de 2025.

Com incríveis seis indicações ao Globo de Ouro, e levando o prêmio de Melhor Roteiro, Conclave começa sua corrida nas premiações muito bem, mesmo não levando prêmios principais nas categorias de atuação e nem em Melhor Direção. Mas mesmo com apenas uma vitória, o diretor Edward Berger tem grandes chances de receber diversas indicações e talvez também levar algumas estatuetas do Oscar em março de 2025. Em 2023, o diretor conseguiu nove indicações com o longa All Quiet on the Western Front (2022), filme alemão baseado no clássico ganhador de Melhor Filme: All Quiet on the Western Front (1930), e que conquistou a crítica levando para casa quatro estatuetas. A qualidade técnica de Edward Berger se mantém agora em Conclave em aspectos muito diferentes de sua primeira participação nas grandes premiações, onde All Quiet on the Western Front prezou e conseguiu entregar excelência de fotografia, direção de arte e direção muito meticulosa para entregar e adaptar um grandioso filme de guerra, mas em 2024 o diretor trouxe excelência com relação ao roteiro. Seu novo longa é de fato muito focado na trama e seus desdobramentos, com atuações sutis mas muito impactantes que contribuem para a tensão e suspense que guiam os personagens até as conclusões de suas jornadas no filme. O filme, que é uma adaptação do livro de mesmo nome do autor britânico e ex-jornalista da BBC, Robert Harris, consegue adaptar muito bem as quase 300 páginas do livro sem deixar o filme maçante, e manter o dinamismo da escrita de Harris traduzindo todas as indagações criadas para os leitores e levando-as aos espectadores. 

O maior destaque de Conclave, além do seu roteiro excelente, são as atuações de todo o elenco. O elenco que conta com nomes de peso, tem claramente o Ralph Fiennes com o maior destaque, por, além de ser protagonista, servir como um catalisador para as subtramas que vão ocorrendo, já que no longa cada personagem passa por um momento de destaque, conseguindo desenvolver todos igualmente cada um no seu tempo. Três atores são bastante beneficiados por essa dinâmica do roteiro, sendo eles John Lithgow, Sergio Castellitto e Lucian Msamati, onde cada um deles tem o seu embate com o personagem de Ralph Fiennes, sendo cada um deles importantíssimo para a trama. Desses três, John Lithgow acaba tendo o maior tempo de tela por ter um subplot mais complexo, e o ator conhecido pelo seu destaque em premiações nos anos 80, consegue ter uma ótima dinâmica com Ralph Fiennes, sem um passar por cima da atuação do outro. Vale também a pena mencionar o trabalho do ator Carlos Diehz, que vai sendo construído muito bem ao longo da trama, com um início onde até parece que ele vai passar despercebido, até o seu momento de fato de roubar a cena e garantir o arco de seu personagem. Conclave é para Diehz o seu primeiro trabalho em um longa, após alguns papéis pequenos em curtas em meados de 2022, o ator mexicano aparenta estar em ascenção, especialmente após um trabalho de tamanha relevância. Além disso, apesar do elenco majoritariamente masculino, a atriz Isabella Rossellini, que tem um momento, mesmo que pequeno, de grande importância para a trama, conseguiu também destaque no Globo de Ouro por sua interpretação da personagem Irmã Agnes, e que pode até inclusive garantir sua indicação ao Oscar, dependendo de como a Academia irá considerar a inclusão de outros filmes, como A Substância.

Sem apresentar um mocinho e um vilão, Conclave surpreende com uma trama riquíssima com o jogo de poder para um novo papado no Vaticano. Com uma trama envolvente e cheia de suspense, o filme baseado no livro de Robert Harris com o mesmo nome, se destaca não apenas pela excelência técnica já conhecida nos trabalhos do diretor Edward Berger, mas também pelas atuações marcantes de um elenco talentoso. O roteiro, cheio de intrigas políticas e pessoais, o filme consegue criar questionar o público, criticar bem de leve a igreja católica e toda sua burocracia, além de entreter bastante com o jogo de poderes entre os Cardeais. Com seis indicações ao Globo de Ouro e uma vitória significativa, Conclave já demonstra seu potencial nas premiações, abrindo caminho para indicações certas ao Oscar, mas ainda com incertezas com relação às suas vitórias na premiação que acontece em março.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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