Crítica | Coraline e o Mundo Secreto (Coraline)

Nota
5

“Você provavelmente acha que este mundo é um sonho bonito, mas você está errada.”

Coraline (Dakota Fanning) acabou de se mudar para uma nova casa, mas, devido a distancia de sua antiga vida e ao constate trabalho dos pais, a garota sente-se entediada e aborrecida. Sem ter muito o que fazer, ela decide explorar os arredores, onde acaba encontrando um estranho garoto chamado Wybie (Robert Bailey Jr.) que, indiretamente, a alerta sobre os perigos da sua nova residência.

Curiosa, ela encontra uma porta secreta que acaba dando em lugar nenhum, mas que, misteriosamente, se abre a noite para uma nova dimensão. Nesse novo ambiente, seus pais são extremamente dedicados à garota e seus vizinhos são extremamente interessantes, mas, abaixo da superfície, um segredo tremendo se apresenta, principalmente quando sua Outra Mãe (Teri Hatcher) está determinada a costurar botões nos olhos da garota.

Após perceber que nem tudo é o que parecer ser, Coraline precisa juntar toda coragem e esperteza para escapar das teias deslumbrantes do novo universo, reunindo peças escondidas e entrando em um jogo perigoso que pode pôr em prova tudo aquilo que aprendeu até aqui. Mas seria ela forte o suficiente para enfrentar uma criatura secular que faz isso a mais tempo do que se imagina?

Que O Estranho Mundo de Jack revolucionou a indústria de animação ninguém ousa duvidar, o que poucos sabem é que não era Tim Burton que estava a frente desse projeto. Sim, ele produziu a obra atemporal baseada em seu conto peculiar, mas a direção e a técnica tinham outro nome, e era nesse nome que morava um futuro promissor do stop-motion.

Absorvendo todo seu aprendizado durante o processo, Henry Selick apostou na técnica trabalhosa pela qual foi reconhecido, explorando esse universo primoroso. Mas, mesmo na Cidade do Halloween, as coisas não pareciam tão macabras e sombrias quanto agora, e ele estava determinado a dar o próximo passo.

Baseado na obra de Neil Gaiman, Coraline e o Mundo Secreto é o primeiro filme da Laika. Aprimorando o stop-motion e sendo o primeiro a misturar a técnica com elementos em 3D, o longa traz uma nova profundidade visual, engrandecendo seus cenários e trazendo uma experiência totalmente nova para a animação.

As cores contrastadas, que ganham novas nuances ao longo do filme, exibem bem a diferença entre os mundos visitados. O primeiro, repleto de uma melancólica latente, é repleto de tons frios e cinzentos, condizendo com o humor da protagonista e sua visão sobre o novo ambiente, enquanto o mundo por trás da porta é repleto de tons chamativos e alegres.

O design de produção acerta em cheio na estranheza de seu universo, construindo personas exuberantes que brincam com o fantástico. A beleza dos cenários, misturadas com os aspectos assombrosos, criam um clima fantasioso que parece reinar no mundo dos sonhos, trazendo novas dinâmicas e profundidades ao longa. Até mesmo o macabro das situações parece despertar uma nova camada no filme, que nos presenteia com pistas discretas e pontuais ao longo de toda narrativa.

É impossível não lembrar dos signos compostos para o universo, que o tornam tão semelhante mas tão distinto a outras obras do gênero. O gato sábio, a mãe cruel e, até mesmo, a travessia entre mundos, soa familiar e diferente, compondo uma obra atemporal e magistral que nos ganha desde o primeiro momento. O ato de costurar os olhos, que representam a janela da alma, já é bizarro por si só mas ganha ainda mais peso em conjunto com a poderosa mitologia mostrada, despertando nosso interesse e nos mergulhando em uma obra que está longe de ser apenas para crianças.

Dakota da um show como Coraline, transpondo todo o sentimento necessário para construir a persona de sua protagonista. Ela consegue transitar entre os inúmeros sentimentos e entregar com maestria todo o turbilhão emocional da garota, desde seu deslumbramento pela nova realidade encontrada até o desapontamento e medo ao notar que nem tudo é o que parece ser. Sua Coraline tem uma personalidade forte e usa toda sua esperteza para fugir das encrencas em que se mete, trazendo uma dinâmica interessante enquanto conduz bem a história contada.

Wybie é o novo acréscimo à história de Neil Gaiman, e consegue nos conquistar aos poucos com sua maneira estranha de ser. O personagem foi criado para trazer um background para o Palácio Cor-de-Rosa e mostrar a quanto tempo a nadadeira impregnava o local. Em suas duas versões, ele consegue ser um ponto chave para a trama, trazendo novas dinâmicas enquanto conduz a protagonista a seu objetivo. O Gato (Keith David) serve como guia transitório entre os mundos. Amplo conhecedor do universo fantástico e repleto de uma acidez implacável, o felino se assemelha muito a outro grande bichano fantástico, demostrando mais uma vez a forte inspiração de Gaiman no País das Maravilhas e sua loucura infantil.

O Pai (John Hodgman) e os vizinhos ganham aspectos distorcidos, que aprimoram a diferença entre os mundos e encorpam o encanto destrutivo da outra realidade, demostrando o alto controle e o desgastamento da Outra Mãe com seu universo particular.

Por falar nela, é impossível não sair arrepiado do longa com sua presença maléfica. Teri Hatcher consegue nos encantar e amedrontar com a mesma intensidade, trazendo a tona uma persona perversa e sedutora que sabe usar seus artifícios para capturar sua teias. Seus olhos de botão e sua mudança gradual vão engrandecendo ainda mais os malícia velada em sua voz, que consegue construir com maestria um pesadelo vivo e uma vilã tão memorável e inesquecível que marcará gerações de crianças.

Assustador e colorido, Coraline e o Mundo Secreto adquire o ar de um pesadelo benigno, saído de uma mente infantil que consegue amedrontar e seduzir com o mesmo empenho. Emplacando uma historia com qualidade imensurável e um aprimoramento técnico exemplar, o longa consegue transportar sua realidade e conquistar um público fiel, que está determinado a revisitar suas belas paisagens. A grande verdade é que o longa é uma obra magnífica que consegue não só conversar com seu público alvo mas encantar todos aqueles que decidirem se aventurar por seu rico universo…. contanto que aprendam a seguir seu espinhoso caminho e não se deixem seduzir na beleza perigosa de seus encantos.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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