Crítica | Corrente do Mal (It Follows)

Nota
4

Jaime Height, a Jay, é uma jovem tranquila do subúrbio de Detroid que vive numa casa pequena e conhece um novo namorado, Hugh, mas ela passa a ser atormentada por uma tenebrosa assombração após sua primeira vez com o rapaz, quando é tomada por uma maldição transmitida através do sexo que faz com que essa assombração se mantenha numa constante perseguição à garota. Corrente do Mal conta uma história, como tantos outros filmes, de uma maldição que persegue a personagem principal a todo tempo, que parece não ter um fim ou uma origem definitiva, só novos hospedeiros, que se tornam nosso ponto de vista no decorrer de uma franquia.

Depois que Jay tem o primeiro contato com a entidade, que se mostra como uma mulher nua, a garota fica em um estado catatônico que leva seus familiares e os policiais a acharem que ela foi abusada sexualmente, uma alusão que o filme parece fazer questão de colocar como vertente principal, da violação do corpo feminino, do abuso, de situações forçadas e se sentir suja em vários momentos. A principal contribuição da direção de David Robert Mitchell pode ser vista na sua forma de manter vários planos longos de perseguição, com poucos cortes e somando com uma trilha que prende o suspense e a perseguição a todo momento, mesmo você vendo a entidade de longe, toda a montagem e cenografia, com obstáculos, fazem a chegada da entidade ser bem inusitada ou, muitas vezes, imperceptível.

O mais impressionante é que, cada vez que você assiste ao filme, vai enxergar mais detalhes. É indicado inclusive evitar a sinopse na primeira vez que for assistir e apenas apreciar a obra, mas aos que já se entregaram à sinopse e trailer, é interessante perceber que a entidade ao fundo desde a primeira aparição de Hugh, mostrando que ela já persegue o namorado da Jay, algo que intensionalmente é deixado como easter egg enquanto a trama nos força a focar nos closes ou nos momentos íntimos, nos levando a ficar pouco atentos ao que acontece no fundo. O elenco é outra boa escolha da produção, com Maika Monroe como Jay, já experiente em filmes de suspense e terror, e Keir Gilchrist, que teve um ótimo pós arrematando um forte papel em Atypical, como Paul, o vizinho apaixonado de Jay que se torna um grande aliado.

A trama prende, levando o espectador a querer investigar, junto com os personagens, como a maldição funciona ou como derrotar a criatura, e, assim como tantos outros filmes de terror, deixa um gancho para continuação. De cenário, temos uma cidade bem abandonada, em que tudo é distante e os personagens precisam resolver tudo de carro, várias casas abandonadas, uma sensação de vazio, miséria e falta de perspectiva, tanto no cenário como na vida dos personagens, o que só corrobora com o clima de suspense do filme, mesmo estilo de cenário utilizado em filmes como Noites Brutais, vale salientar.

A fotografia mistura tons amarelados, para demonstrar toda a sujeira, pobreza e situação degradante tanto no bairro como nas famílias que ali vivem, com tons mais acinzentados, para a falta de perspectiva ou depressão da personagem, ao não ver escapatória do seu destino. Além disso, há pouca iluminação em ambientes mais abertos, para dar a sensação de lugar perigoso e vazio. Corrente do Mal é um filme que finca o gênero do suspense de forma primorosa, com sua montagem e takes longos de perseguições e um roteiro bem escrito e fechado, agradando bem o público.

 

Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror

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