Crítica | Dançarina Imperfeita (Work It)

Nota
3.5

“Às vezes me pergunto: Se o Einstein estivesse vivo hoje, ele conseguiria entrar para a faculdade?”

Quinn Ackerman achava ser a candidata perfeita para a admissão na Duke, uma rígida faculdade com uma taxa de 6% de aceitação, mas sua entrevista com a Srta. Ramirez destrói todas as suas expectativas quando ela descobre que todos os candidatos têm ótimas notas, um currículo cheio de atividades extracurriculares, diversos trabalhos voluntários e tocam violoncelo, a obrigando a ter uma qualificação que fugisse desse padrão. Quando sua entrevistadora descobre que Quinn estuda na Woodbright High, famosa por ser a sede dos Thunderbirds, grupo de dança famoso na cidade e que sempre ganha o Work It, a grande competição de dança local, Quinn acaba fazendo parecer que faz parte do grupo, dando a entender que possui o diferencial necessário para ser aceita e, consequentemente, sendo obrigada a entrar no grupo. Mas Quinn não pode entrar no Thunderbirds por dois motivos: ela não sabe dançar e Julliard, o capitão da equipe, a odeia.

Cabe agora à Quinn, depois de convencer sua melhor amiga, Jas, de sair do Thunderbirds, criar um grupo de dança forte o suficiente para vencer as competições e chamar a atenção da sua entrevistadora, tudo isso enquanto aprende a dançar. Seguindo os clichês dos filmes de dança, Jas e Quinn começam a reunir seu próprio grupo de desajustados, conseguindo reunir uma intensa dançarina gótica, um jogador de futebol fracassado que dança bem, um vendedor de fitas cheio de malemolência, um nerd karateka com saltos deslumbrantes, uma patinadora nata que consegue girar como ninguém, e seu grande coreografo: Jake Taylor, um grande dançarino que foi capitão de um grupo que ganhou o Work It por três anos, mas acabou desaparecendo completamente após abandonar as competições por conta de um rompimento no joelho, um garoto que acaba despertando o interesse de Quinn. Lançado pela Netflix em 7 de agosto de 2020, o longa dirigido por Laura Terruso e produzido por Alicia Keys parece bater no liquidificador os maiores clichês de comédias com filmes de coming-of-age e dança, deixando claro que veremos um grupo completamente disfuncional que aos poucos vai entrar em sintonia e se tornar perfeitos, mas o filme brinca ao ir avançando e mostrando o quanto o grupo não consegue melhorar, eles são disfuncionais o tempo todo, e é nesse ponto que Jake Taylor se torna essencial. O longa escolhe deixar a evolução do grupo de fundo, nos levando a ver o amadurecimento que Quinn passa quando deixa de lado suas regras para entrar de cabeça num mundo de incertezas, ao mesmo tempo vamos vendo o envolvimento de Quinn e Jake, expandindo o lado romântico da produção, assim como o surgimento da relação entre Jas e Charlie, o vendedor de colchões em quem a dançarina tem um forte crush.

O elenco é rico em nomes que imprimem fortes impressões à trama, temos Keiynan Lonsdale como Julliard, assumindo o papel antagonista do longa. Julliard é prepotente, como se fosse superior a todos os outros, uma versão gay da Regina George, ele é o capitão dos Thunderbirds e diminui todos ao seu redor, principalmente Jas, a única dançarina do grupo capaz de tomar seu posto de capitão, o que acaba por ser a motivação da garota para se unir a Quinn no TBDs. Jas é vivida por Liza Koshy, que se destacou bastante ao estrelar Liza on Demand, a personagem é dedicada, determinada e extremamente habilidosa, a dançarina é forte e capaz de ver o potencial que cada um dos membros da equipe possui, ficando boba apenas quando está frente a frente do seu grande amor. Charlie é vivido por Drew Ray Tanner, que tem pouquíssimo destaque no decorrer do filme, o personagem não interfere muito na trama e acaba sendo uma escalação desperdiçada. O longa é protagonizado pela cantora Sabrina Carpenter, que se destacou bastante com sua atuação em Garota Conhece o MundoCrush à Altura, mostrando que ela é capaz de cantar, atuar e também dançar e produzir, a atriz dá um show de atuação ao começar o longa com passos completamente desajeitados e, aos poucos, ir evoluindo até se tornar a poderosa dançarina capaz de chamar a atenção da Srta. Ramirez, e ainda consegue acumular mais uma função ao produzir o longa ao lado de Keys. Sabrina compartilha seu protagonismo com Jordan Fisher, que é cantor, ator e dançarino profissional, já tendo chamado a atenção do público ao viver John Ambrose em P.S. Ainda Amo Você, agora Jordan vive um personagem ainda mais profundo. Jake é um dançarino frustrado, ele amava dançar e agora está fisicamente impossibilitado de seguir seu amor, ele é um frustrado professor de dança para crianças e, ao ser convocado por Quinn, acaba se vendo com uma chance de, de certa forma, poder voltar aos campeonatos, ao mesmo tempo que começa a enxergar um graça nos desengonçados passos daquela garota e uma vontade enorme de ajuda-la a alcançar seu sonho.

Em seus 90 minutos de duração, fica claro que a trama é sustentada unicamente pelo seu elenco, principalmente o casal protagonista, já que o roteiro escrito por Alison Peck não é tão bem trabalhado. Falta bastante a melhorar nos aspectos criativos e estruturais, que são disfarçados, habilmente, pela direção de Terruso, que preenche os buracos com deslumbrantes cenas de dança e uma trilha envolvente, onde vemos músicas de Alan Walker5 Seconds of SummerCamila CabelloHalseyThe VampsCarly Rae JepsonZayn, Lauren JaureguiSelena Gomez e, principalmente, várias canções de Carpenter. A trama é salva pelos contagiantes passos e a dupla de protagonistas carismáticos formada por Carpenter e Fisher, algo comparado ao que Patrick Swayze e Jennifer Grey conseguiu fazer em 1987, usando os mesmos ingredientes para construir um filme igualmente envolvente, porém muito melhor roteirizado. O longa é feito para mostrar que não há problemas em não ser perfeito, que as vezes tudo que precisamos é jogar tudo pra o alto e viver um pouco a vida, encontrar seu verdadeiro eu, uma moral que, infelizmente, não dá pra ser usada no longa, afinal, apesar de poder ser aceitável não ser uma produção perfeita, o longa está longe de ser ‘apenas’ imperfeito, ele é preenchido com algumas passagens sem noção, cenas que chegam perto de ser vergonhosas e, literalmente, um problema ‘bem  duro’ de ser assistido sem sentir vergonha alheia do roteirista por ter resolvido, gratuitamente, incluir uma cena tão dispensável.

“No final das contas, Einstein tinha razão.
Dançarinos são os atletas de Deus.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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