Crítica | Descendentes 3 (Descendants 3)

Nota
4

“Spells are made to be Broken”

Motivados a cumprir sua promessa, Mal (Dove Cameron) e os outros VK’s voltam a seu lugar de origem para trazer um pouco de esperança a cada criança presa na Ilha dos Perdidos. Com o VK Day, o quarteto escolhe quatro novas crianças para viver com eles em Auradon, trazendo uma nova era para o reino. Mas, claro, que a notícia não agradou a todos.

Em meio a comemoração, Mal recebe um pedido inesperado de Ben (Mitchel Hope), o que desperta o ódio de uma velha inimiga. Mas, como nem tudo são flores, uma quebra na barreira deixa todos do reino em alerta. Seria esse o momento de trazer novas crianças ao reino ou deveriam impedir que qualquer um atravesse a barreira mágica que impede os vilões de se aproximarem de Auradon?

Enquanto encara esse problema, Mal vê o futuro ameaçado por uma força misteriosa que prepara sua vingança contra todos que ela ama. Dividida entre a lógica e o coração, a filha de Malévola precisa retornar a ilha para encarar seu passado enquanto tenta entender como tudo fugiu de seu controle tão rapidamente. Mas essa não é uma batalha que se possa vencer sozinha. Amizades serão testadas, inimigos podem se tornar aliados valorosos e nada em Auradon será como antes.

Após firmar seu reinado como uma das franquias mais lucrativas do Disney Channel, Descendentes retorna para seu novo e derradeiro capítulo. Dirigido por Keny Ortega, Descendentes 3 traz um dos filmes mais políticos do canal, com uma discussão tão atual que chega a ser assustadora.

Sim, a magia ainda está presente. Sim, as músicas e coreografias ainda enchem os olhos. Mas como lidar quando uma ameaça externa ameaça a paz do seu lar? Durante toda trilogia a discussão sobre seguir o legado de seus pais e fazer suas próprias escolhas foi amplamente discutida. Em vários momentos, os longas mostram que nem tudo é o que parece ser e que nem todo mundo é inteiramente bom ou mau. Tons de cinza são amplamente explorados e o que achamos conhecer é mudado de uma hora pra outra.

Mas essa não é a grande discussão desse longa. A barreira que divide Auradon da Ilha dos Perdidos nunca se mostrou tão presente e assustadora quanto nesse terceiro capítulo. O embate entre proteger o reino e isolar os menos favorecidos foi amplamente discutido durante os inúmeros teasers lançados pela Disney. Afinal, nem todos que estão na ilha são culpados pelos crimes hediondos de seus pais. Seria justo isolar pessoas inocentes por medo? É impossível não ligar essa crítica ao momento político passado nos Estados Unidos. Às vezes, levantar uma barreira não resolve nada.

Isso fica ainda mais acentuado na discussão de “eles” e “nós”. Mas é aí que mora a grande jogada do filme. O que se fazer quando um de nós se mostra tão cruel quanto o eles que tentamos afastar a qualquer custo?

Mal encara seu novo status e tenta tomar a melhor decisão para todos. Cada vez mais isolada do grupo, a protagonista passa a agir sobre camadas e mais camadas de ações contraditórias que poderiam ser facilmente resolvidas em um dialogo. Sua força se mostra quando ela percebe que não precisa fazer tudo sozinha e que pode, sim, confiar em outras pessoas, para lidar com o fardo que carrega. Se no segundo longa ela precisou entender quem era para aceitar seu futuro; neste, precisa encarar seu passado e abraçar seus segredos sombrios . Afinal, suas decisões não afetam só a ela, mas também toda uma comunidade. Colocando um peso enorme em cada um dos seus passos.

Evie (Sofia Carson) serve como apaziguadora na maior parte das situações. A estilista conseguiu seu próprio castelo e vive seus sonhos, idealizando poder dar a mesma oportunidade às crianças da ilha. Sendo a mais consciente do quarteto, ela tenta unir a todos e demostrar que certas rivalidades devem ser deixadas de lado para um bem maior. É encantador acompanhar seu dilema e notar que, mesmo com toda sua beleza e graça, ela ainda se mostra insegura diante situações cotidianas como falar a palavra com “A”.

Uma (China Anne McClain) sempre se importou com o povo da ilha, e isso se torna ainda mais evidente no terceiro longa. A capitã dos piratas tem sua rivalidade com Mal levada ao extremo enquanto ambas tentam liderar o grupo inusitado que precisa se formar para salvar Auradon. Egos tão fortes e presenças tão intimidadoras criam uma química crescente entre as atrizes enquanto suas personagens tentam lidar com as situações inusitadas e trabalhar em equipe.

Célia (Jadah Marie) rouba cada uma das cenas em que participa. A filha do Dr. Facilier (Jamal Sims) é debochada e sabe tirar proveito de cada mísera situação. Como toda boa gata de rua, ela sabe bem como se virar, mas seu coração ainda se mostra gentil e bondoso, mesmo quando não sabemos se podemos confiar na vilãzinha. Sua amizade singela com Dizzy (Anna Cathcart) se mostra tão sincera que é difícil acreditar que não seja algo real, mesmo ambas tendo personalidades extremamente opostas. Ouso dizer que foi um dos grandes achados que a trilogia fez ao longo de seu caminho.

Carlos (Cameron Boyce) e Jay (Booboo Stewart) pouco tem a acrescentar a trama. Seus personagens só ganham algum peso ao serem contrastados com Harry (Thomas Doherty) e Gil (Dylan Playfair). Este último ganhando algumas novas camadas, além da de eterno bobalhão da turma. A evolução de ambos é gritante quando o novo grupo encara Auradon. Quase podemos ver um reflexo do passado dos garotos e o seu momento atual, trazendo sentimentos nostálgicos ao telespectador. Vale ressaltar que o filme apresenta uma singela homenagem a Cameron antes do seu início, tocando fundo no coração de todos os fãs que perderam tão cedo um ídolo tão gentil e dedicado.

Hades (Cheyenne Jackson) se mostra repetitivo e enfadonho no seu discurso. O senhor do submundo repete inúmeras vezes que ele não deveria estar preso por ser um… Deus. Os contornos do seu personagem realmente aparecem ao dialogar com Mal, mostrando mais uma vez um discurso importante para o filme. Além de seus questionamentos pessoais, Hades ainda levanta a discussão de: quando acontece com um de vocês é um deslize; conosco é uma falta grave. Com ares de roqueiro, o Deus sombrio tem uma soma positiva no final das contas, embora seu tempo de tela seja reduzido e sua finalidade seja basicamente a de acrescentar novas camadas a Mal.

Audrey (Sarah Jeffery) é um dos grandes destaques do longa. Se no primeiro filme criamos um asco por seu jeito fútil, no último volume passamos a entender melhor suas motivações e até simpatizar com a princesa. Criada para ser a garotinha perfeita e conquistar o mais alto status da corte, Audrey não consegue superar a perda de tudo aquilo que almejou. Todo seu infortúnio se volta para a chegada de Mal e seus amigos, e a pressão familiar é algo tão tóxico que nos sufoca junto com a personagem. A atuação de Sarah se mostra encantadora e seu alcance vocal é surpreendente, fazendo-nos questionar o porquê de ele não ter sido explorado anteriormente. Sua música solo, Queen of Mean, é um dos melhores números musicais do novo longa. Trazendo um rap trágico sobre alguém que perdeu tudo e agora chegou a seu extremo.

E, por falar na parte musical, o longa brilha com uma mistura de estilos e sensações. Passamos pela grandiosa Good to be Bad, onde os VK’s tentam demostrar às crianças da ilha que eles também podem ter seu lugar ao sol. Entramos na empolgante Do What You Gotta Do, onde o embate moral entre Mal e Hades é amplamente explorada com um rock cativante. Em seguida, Night Falls traz uma ótima cena de batalha onde egos serão testados e velhas rixas precisam ser deixadas de lado, mostrando o poder da união entre velhos rivais.

One Kiss é o primeiro solo da nossa amada Evie. Com uma pegada vintage, a música explora as inseguranças da protagonista com relação ao amor. É encantador acompanhar os dilemas amorosos da estilista, que, mesmo segura de si, ainda tem aquele velho medo de que talvez seu amor não seja correspondido. My Once Upon a Time é uma ampla homenagem a jornada de Mal durante a trilogia. Todos seus dilemas, medos e sofrimentos são mostrados, deixando-nos saudosos e tocados com um toque latente de Broadway. Break This Down tem uma mensagem tão forte e poderosa que é impossível encontrar um encerramento melhor para a saga, trazendo um toque tão sincero e emocionante que se torna de longe o melhor encerramento da franquia.

Poderoso e encantador, Descendentes 3 é uma ótima finalização para uma das sagas mais amadas dos últimos tempos. Com uma mensagem magnífica e tão atual, misturado com o ar fabulesco que Ortega nos entregou tão bem, o filme é uma despedida digna a nossos personagens queridos, além de um eterno até logo que nos deixa com um quentinho no coração. Repleto de emoções latentes, coreografias magníficas e detalhes deslumbrantes, o filme diz que somos perfeitos em nossas imperfeições. E, acredite, nunca foi tão bom ser… mau!!!

“It’s good to be bad
And we’re proof of that
Used to be lost, now we’re on the map
Used to steal stacks, now we’re giving back
Remember that
It’s good to be bad!”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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