Critica | Descendentes: A Ascensão de Copas (Descendants: The Rise of Red)

Nota
3.5

“É isso mesmo. Auradon pode ter quebrado a barreira, mas eles ainda deixaram um filho de vilão para trás. Por isso estou mandando um convite… pro reino que ninguém se atreve a falar sobre.”

Após uma década da destruição da barreira que separava a Ilha dos Perdidos dos Estados Unidos de Auradon, Mal, Evie, Jay e Ben decidem explorar reinos distantes, deixando Uma (China Anne McCarthy) como nova diretora da escola que mudou suas vidas. Como sua primeira ordem no novo cargo, a filha de Úrsula decide abrir as portas da Escola Preparatória de Auradon para todos os reinos… incluindo o País das Maravilhas, o único lugar que conseguiu resistir a unificação criada pelo Rei Fera e que ninguém se atreve a falar sobre. Para isso, ela manda um convite para Red (Kylie Cantrall), filha da Rainha de Copas (Rita Ora), para que ela ingresse na escola.

Acontece que a princesa não está nada satisfeita com o reinado da mãe, principalmente com as decisões insanas e cruéis que a Rainha toma com seus súditos. Mas ela é pega de surpresa quando sua mãe aceita o convite do reino que tanto detesta sem pestanejar, decidindo, inclusive, levar pessoalmente a própria filha para sua nova escola. O que ela não percebe é que tudo faz parte de um plano maligno para trazer uma vingança tenebrosa sobre aqueles que humilharam a insana Rainha.
Enquanto o reino é assolado por um golpe de estado, Red se vê dividida entre a cruz e a espada. Tentando impedir sua mãe de cometer a maior maldade que já presenciou, a princesa recebe a ajuda inesperada de Chloe (Malia Baker), filha da Cinderela (Brandy Norwood), que está fazendo de tudo para impedir que sua mãe seja morta pela tirana. Em meio a esse embate político, a dupla é jogada no passado, onde elas precisam entender o que levou a Rainha de Copas a se tornar o monstro que conheceram.

“I’m on path of destruction
This is gonna be fun
Set it off! Go Beserk!
Tonight I light it up like fireworks!
Burn it down! Till all they see is now
Red, Red, Red, Red, Red”

Após o sucesso de suas franquias, o Disney Channel precisava de um novo grande nome, que não só atraísse o publico como fidelizasse o mesmo para incentivar o consumo em seus produtos, e, após algumas tentativas falhas, o estúdio achou sua nova mina de ouro olhando para o seu maior acervo que nunca falhou nos momentos mais necessários: os seus clássicos animados. Pois bem, em 2015 surgia Descendentes, a nova franquia do canal que abraçava a magia Disney que tanto conhecemos. Mas, após três filmes de sucesso e um elenco consolidado, a franquia se despedia do seu público, trazendo um ótimo encerramento para a trilogia que aprendemos a amar… Ao menos era o que pensávamos até o anúncio de um quarto filme, que faria parte do mesmo universo mas sem nenhum personagem do quarteto original.

Como manter o padrão original e manter os fãs atentos? O filme conseguiria se sustentar sem o peso dos protagonistas? E, acima de tudo, ele é um capítulo realmente necessário para uma franquia tão amada? Descendentes: A Ascensão de Copas responde essas perguntas em seus primeiros 10 minutos de duração. O novo filme da saga tenta respeitar seus antecessores enquanto estrutura a base para um novo arco com seus novos personagens. A Red de Kylie Candrall tem um carisma inigualável, que ocupa todo o espaço em que é colocada. Sarcástica, ardilosa e extremamente rebelde, a Princesa do País das Maravilhas apresenta todo seu potencial como protagonista, nos mostrando que o novo arco está em boas mãos nesse quesito. Suas interações com Chloe são impecáveis, trazendo uma química perfeita de dois lados opostos que se atraem a todo instante.

E por falar em arcos, é delicioso acompanhar os enredos particulares de cada uma que, embora distintos, são complementares. Red aprendeu durante toda vida que ser temida é melhor do que ser amada e, mesmo que lute contra a tirania de sua mãe, ela se considera uma pessoa malvada. Entender que a falta de amor e o desprezo por ser quem é afeta sua maneira de enxergar o mundo é um processo doloroso, principalmente quando você se considera uma causa perdida. Já Chloe cresceu em um lar acolhedor e privilegiado, onde nunca precisou enxergar nada fora da sua bolha de proteção. Para a princesa tudo é preto no branco, e se colocar no lugar do outro para enxergar os tons de cinza está fora de cogitação. Tanto Red quanto Chloe nunca foram confrontadas com outras possibilidades e é ai que o filme entra com sua grande cartada: Bridget (Ruby Rose Turner) e Ella (Morgan Dudley).

Bridget é uma menina doce e gentil, que sempre enxerga o melhor nos outros e, mesmo que leve uma surra da vida, permanece sorrindo e tentando tornar o mundo um lugar melhor. Sua positividade e desejo de ser uma boa amiga entra em contraste com Red, que tenta entender como alguém pode ser tão adorável mesmo sendo menosprezada por aqueles ao seu redor. Bridget é um verdadeiro deleite em tela, nos conquistando a cada segundo que aparece, a ponto de nos acertarmos profundamente a sua persona. Já Ella esta longe de ser a princesa delicada que todos estão acostumados. Passando por dificuldades desde que se entende por gente, a gata borralheira nunca teve medo de sujar as mãos, e consegue entender com plenitude as escalas de cinza que o mundo pode trazer. Afinal, nem sempre um mocinho é tão bom assim, e as vezes o vilão precisa alimentar algumas bocas. A garota nos apresenta algumas das melhores lições do longa, trazendo uma construção impecável da personagem que nos faz gostar de cada momento em que ela aparece para abrilhantar o filme. Um verdadeiro acerto.

O filme ainda nos presenteia com a atuação impecável de Rita Ora, que traz uma, se não a melhor, vilã de toda a franquia. A Rainha de Copas é cruel, louca e implacável, e sua presença rouba completamente a cena. É impossível desgrudar os olhos da tela quando ela está presente, e você sente um verdadeiro temor quando ela aparece (desculpe, Kristin, mas a Malévola perdeu desta vez). Brandy Norwood reprisa seu papel como Cinderela, trazendo toda doçura e fibra que aprendemos a amar em sua versão da personagem. Ela consegue manter a essência que tanto conhecemos e expandir sua persona, nos entregando tudo aquilo que pedimos e mais um pouco. Toda cena em que ela aparece, nos traz um quentinho no coração, quase como se estivéssemos de volta ao lar.

Uma entra como ponte de ligação entre o passado e o presente, trazendo uma das cenas mais importantes da franquia que retira qualquer dúvida que os fãs poderiam ter sobre o respeito e o carinho que os envolvidos têm com aquilo que estão fazendo. Sinceramente, o momento em que a personagem quebra é de uma sensibilidade impecável, destruindo não só o público, mas a própria interprete, o que nos dá esperança sobre o futuro que se estende a frente. O longa possui uma linha musical interessante, que consegue não só nos surpreender como nos cativar em diversos momentos. Com números grandiosos e com algumas direções interessantes, o longa aposta na nova geração, principalmente em colocar um número significativo de rap em suas músicas. Red, Love Ain’t It, Perfect Revenge e Get Your Hands Dirty nos entregam algumas das melhores performances do longa, mas Life Is Sweeter nos conquista completamente.

Com um orçamento maior que os anteriores, o longa entrega uma qualidade gráfica superior aos outros capítulos da franquia, demostrando que a Disney decidiu apostar todas suas fichas nesse novo arco, mas, embora o filme comece forte e cheio de potencial, ele parece se perder em seu próprio enredo. E é ai que está o grande elefante branco da sala. A falta de clímax e o final questionável são um verdadeiro balde de água fria para toda construção que o próprio filme fez. Parece que toda a jornada não levou a lugar nenhum e essa ausência de conclusão só nos faz ficar frustrados com o que nos foi mostrado até aqui.

Os erros de continuidade são gritantes, demostrando a falta de cuidado da produção com detalhes básicos de um filme, seja uma série de perucas que muda de estilo, tamanho ou até mesmo de coloração, ou até mesmo utensílios que aparecem e desaparecem magicamente de um corte para o outro. Como se já não bastasse, o total descaso com uma grande leva de personagens só piora a situação, mas, em defesa do longa, esse ponto sempre esteve presente na franquia. No final das contas, Descendentes: A Ascensão de Copas tem um bom potencial para a franquia, com personagens cativantes e uma história interessante que peca em diversos aspectos. Embora seja uma jornada frustrante, o longa traz momentos divertidos, que brilham mais do que condenam, e nos deixam verdadeiramente curiosos para o que estar por vir… principalmente se tomarem o devido cuidado que o filme merece.

“…mas ter o que deseja pode ser perigoso. Principalmente quando você mexe com a malha do tempo.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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