Crítica | Desconexo

Nota
5

“Ainda que tirados de imediato um após o outro os retratos sempre serão entre si diferentes. Se nunca atentou nisso… É porque vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes.”

Após o vazamento de áudios que podem comprometer sua eleição, o Presidente do Brasil aprova um decreto que interrompe imediatamente toda a conexão de internet do país. Sem ter muito o que fazer, dois vizinhos acabam se aproximando. Acontece que eles possuem uma relação de desejo unilateral – um produz auto pornografia enquanto outro a consome – o que acrescenta novas camadas a seu dia off-line.

Em meio a era da conexão, somos afastados do contato humano e transformados pelo nosso cotidiano a ponto de não enxergarmos o que se encontra ao nosso redor. Tendo isso em mente e trazendo essas relações intrapessoais, Lui Avallos nos convidada a viver um dia desconectado e nos reencontrar em nós mesmos.

Escrito, roteirizado e atuado por Avallos, Desconexo traz uma narrativa singular e poética que encanta o espectador com sua simplicidade emocional. Aproveitando a ausência das ligações online, o filme aproveita para criar um contato pessoal entre seus protagonistas, trazendo assim momentos belíssimos e de uma sensibilidade impecável, que nos faz perceber o quão rendido estamos nessa era virtual.

Com uma fotografia exemplar, o filme nos transporta para um mundo mais simplista, onde pequenas coisas ganham um novo significado enquanto percebemos os detalhes que o diretor tenta nos passar. As cenas são intercaladas com trechos antigos da infância de um dos protagonistas, que consegue transpor os sentimentos e ações atuais e nos conectar ainda mais com sua jornada. Cada dúvida, medo e escolha é refletida, demonstrando que, mesmo no passado, podemos achar sentido para o que passamos no momento atual.

A obra ainda possui trechos do conto Espelhos, de Guimarães Rosa, que casa com mestria com a narrativa levantada. O efeito mais granulado, e as cores chamativas que representam os desejos internos de seus personagens, trazem um visual agradável e interessante a trama, que consegue nos prender do começo ao fim. O contraste entre seus protagonistas trazem dinâmicas interessantes, indo mais a fundo sobre a superfície que achamos conhecer.

Lucas, interpretado por Avallos, se mostra mais desinibido ao aproveitar as coisas ao seu redor, abraçando bem a oportunidade de aproveitar esse dia longe das faixadas virtuais, mas, ao encontrar algo mais pessoal, ele se mostra mais tímido e acanhado, tendo que se livrar de seus medos e barreiras. Já Thiago, vivido por Júlio Oliveira, se encontra preso em seus problemas internos, relutando em viver o momento e se conectar com as coisas ao redor. A química entre os atores é surpreendente e suas atuações conseguem nos manter vidrados no longa, nos fazendo mergulhar em sua jornada e verdadeiramente nos conectar com eles.

Poético e preciso, Desconexo consegue transpor suas mensagens e entregar uma jornada interessante, que consegue nos desconectar do mundo ao redor ao longo de seus 25 minutos. Repleto de nuances louváveis e carregado de conceitos precisos, o curta merece e precisa ser apreciado, seja por sua qualidade técnica ou por simplesmente nos trazer uma boa história, que nos faz enxergar nossas ligações de outro modo.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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