Crítica | Diários de Intercâmbio

Nota
3.5

“Eu e a Bárbara, a gente tá indo morar nos Estados Unidos.”

Bárbara é uma adolescente comum, que vive sonhando em viajar pelo mundo e está cada vez mais enterrada em um emprego que não lhe satisfaz realmente. Esse desejo só aumenta depois que ela conhece Brad, um comissário de bordo americano doze anos mais velho que ela, com quem ela acaba se envolvendo, e que só incentiva a garota a conhecer Nova York. Muito romance, muito sufoco e um visto negado depois, Bárbara acaba tendo a ideia de ingressar em um intercâmbio como au pair, levando sua melhor amiga, Taila, junto, para viver os melhores anos de sua vida, mas nem tudo acontece como ela imaginava, nem mesmo as escolhas de seu coração.

Estreando na Netflix em 18 de agosto de 2021, a nova produção original brasileira do streaming é dirigida e co-roteirizada por Bruno Garotti e protagonizada por Larissa Manoela e Thati Lopes, nomes que já são suficiente para entregar a atmosfera que a premissa pretende entregar. Falando bem superficialmente sobre intercambio, usando muito mais a proposta para compor o humor do que para informar, o longa se passa entre cenários do Rio de Janeiro e de Nova York e se desenvolve baseado em dois núcleos contrastantes de comédia. Tudo começa com o sonho de Bárbara de viajar, esse pontapé é quem impulsiona o relacionamento de Bárbara e Brad e sua ideia de ingressar num intercambio, porém o filme não se aprofunda nos requisitos para se entrar nesse intercambio, visto que esse não é o seu foco, nos levando, em poucos minutos, para a viagem de Bárbara e Taila, que aí sim é o ponto inicial para o desenrolar da trama.

A trama é rachada após a chegada da dupla em Nova York. A personagem de Larissa, que é sonhadora, romântica e que ainda não encontrou seu lugar no mundo, vai parar na casa de Sherryl, uma extremamente bem sucedida advogada e mãe solteira, que contrata Bárbara como au pair de Josh, seu bebê extremamente fofo com quem Bárbara tem grandes problemas, visto que a garota parece não saber como fazê-lo parar de chorar. Enquanto a jovem vive seu caos particular ao ser forçada a aprender a cuidar de uma criança, cozinhar, passar e limpar, tudo isso enquanto sobrevive a uma casa cheia de regras e leis, ela precisa equilibrar tudo isso com seu curso, seu cansaço e seu namoro. Perto dali, a personagem de Thati é enviada para a casa de Marta e Jeff, um casal que perdeu sua filha, Kat, uma agente da NSA, há alguns anos, quando ela desapareceu durante uma missão, ela então é chamada para ser acolhida pelo casal, que só está buscando ‘ajudar uma jovem de um país desfavorecido’, ela só não esperava que esse casal fosse tão distante de suas crenças, e que ela iria viver desventuras absurdas em sua estádia.

O longa se completa ainda com as excelentes adições de Bruno Montaleone Emanuelle Araújo, dois brasileiros que vivem em Nova York e acabam entrando na vida de Bárbara de uma maneira inusitada. Bruno vive Lucas, um brasileiro que passou a morar em Nova York ainda criança e que trabalha na estação de esqui administrada por Jeff, é através de Taila que ele conhece Bárbara, por quem acaba se apaixonando e encontrando uma aliada na sua luta por entrar na faculdade, um requisito para que ele não perca seu visto de estudante e tenha que voltar para o Brasil (país onde ele nem lembra de ter vivido, já que saiu de lá com apenas 8 anos). Emanuelle vive Zoraia, a mãe de Lucas, que está ilegalmente nos Estados Unidos para acompanhar seu filho, ela é uma cantora excelente e por isso trabalha, as escondidas, como cantora na noite. Zoraia é construída de forma a se tornar uma referencia estupenda ao passado de Emanuelle, com direita até a uma conexão emocional a “Arerê”, música da Banda Eva (grupo onde Emanuelle começou sua carreira). A história da dupla acaba sendo a origem de várias das cenas mais sem sentido do enredo, que só começam a ser justificadas no final, completamente enlouquecedor, do longa.

Seguindo muitos dos clichês das comédias românticas adolescentes, Diários de Intercâmbio traz algumas incongruências que precisam ser engolidas, mas no final consegue nos divertir e passar uma mensagem agradável, principalmente nesse período pandêmico onde os jovens estão sem perspectivas e precisam de uma faísca para voltar a sonhar com um futuro melhor. Salpicado com diversas piadas sobre a forma como os americanos subestimam o Brasil, o longa apresenta uma boa atuação de Thati e Larissa, mas surpreende, de forma agridoce, com seu final, virando praticamente uma novela e se preenchendo com plot twists que nos fazem rir de nervoso, que até fazem sentido quando olhados em retrospecto, mas que parecem completamente surreais quando estamos o presenciando. Se tornando um passatempo legal, o longa poderia ter sido melhor se soubesse recorrer bem aos artifícios de seu roteiro para tornar algumas cenas mais sutis, algumas piadas menos caricatas e seu final mais fluido.

“Os americanos querem roubar o nosso Nióbio!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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