Crítica | Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward)

Nota
4

Há muito tempo o mundo era fantástico. Existia aventuras, desafios e, principalmente, magia. Mas, nada era fácil e lidar com ela era ainda mais complicado para aqueles que procuravam a aprender. Com o passar dos anos, a tecnologia avançou trazendo novas formas de se lidar com coisas que somente a magia poderia fazer, tornando-a estranha e obsoleta até que, finalmente, ela foi extinta, existindo apenas em jogos de mesa e no imaginário popular…

Ian Lightfoot (Tom Rolland) sabe bem disso. Sendo uma criatura de seu tempo, o Elfo adolescente apenas tem o conhecimento mágico que seu irmão mais velho, Barley (Chris Pratt), derrama em suas inúmeras campanhas, através de seu jogo de tabuleiro baseado nas historias do local onde vivem. Preste a completar 16 anos, o garoto se sente isolado e temeroso com tudo ao seu redor (desde o convívio social escolar até as aulas de direção que insistem em atormenta-lo) tornando a saudade de seu pai, que nunca chegou a conhecer, ainda mais latente e poderosa.

Mas, durante seu aniversário, o garoto recebe um presente formidável que mudaria sua vida para sempre. Antes de morrer, o pai dos meninos deixou um embrulho que só deveria ser entregue quando ambos fossem maiores de 16. O que eles não esperavam é que o misterioso presente fosse um cajado arcaico, com um poderoso feitiço que poderia trazer de volta seu falecido pai por 24 horas.

Após inúmeras tentativas fracassadas de seu irmão mais velho, Ian decide testar o encantamento e descobre seus poderes mágicos. Enquanto a magia começa a invocar seu pai, o rapaz perde o controle e, distraído por Barley, explode o artefato que dava força ao feitiço trazendo apenas metade do corpo de volta a vida. Agora, os irmãos precisam partir em uma jornada em busca de uma nova Pedra Fênix antes que o por do sol aconteça e eles percam a única oportunidade de verdadeiramente conhecer o seu pai.

Ao longo dos anos, a Pixar Animation Studios vem construindo nosso imaginários, nos levando em jornadas fantásticas por mundos que nunca sonhamos em conhecer. Mas é exatamente na desmistificação de um universo mágico que o estúdio parece ter perdido um pouco de sua magia. Dirigido por Dan Scanlon e roteirizado pelo mesmo, com a ajuda de Jason Headley e Keith Bunin, Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica tenta trazer uma campanha mística para os dias atuais, desconstruindo nosso imaginário sobre magia e as criaturas fantásticas que um dia achávamos conhecer.

Não é a toa que o longa pegue esses mitos e transforme-os em algo totalmente inesperado, misturando nosso ordinário cotidiano com o poderoso encanto que tanto ouvimos falar. O filme faz questão de trazer uma sobreposição acertada para nos imergir com maestria no novo universo que quer compartilhar, trazendo uma riqueza de detalhes que nos agracia com um belo arranjo visual, que facilita nosso entrosamento e nos situa em tudo aquilo que precisa ser contado. Mas, por mais surpreendente que seja, esse universo não é o verdadeiro foco do filme e sim a emocionante jornada que ele nos proporciona.

Boa parte do atrativo do longa está em seu poderoso elenco, e na química que eles possuem. Não é a toa que seus personagens principais são tão parecidos esteticamente com os atores que lhe dão vida, construindo uma ponte emocional logo de início entre o público e eles. Logo que nos identificamos com eles podemos acompanhar sua quest e nos divertir com sua desenvoltura, trazendo um clima mais ameno que pouco foi explorado pelos estúdios.

Não entenda mal, o filme traz sim uma carga emocional capaz de nos deixar com olhos marejados, mas não se compara a outras tramas do estúdio. Aqui o clima é mais leve e descontraído, trazendo uma nostalgia precisa enquanto costura sua trama bem amarrada (embora bastante previsível em determinados momentos). O balanceamento entre comédia, drama e aventura flui com tanta facilidade que traz uma mistura saborosa que não só constrói com maestria seus personagens como ajuda a construir as camadas que a atmosfera do longa precisa para seguir em frente.

E, por falar de personagens, como não amar nossa dupla de protagonistas? O Ian de Rolland é inseguro e cheio de receios, mas ganha uma nova forma ao encontrar sua própria magia. Ele é quem mais ganha desenvolvimento, trazendo uma verdadeira transmutação durante a jornada enquanto aprende não só a confiar naqueles que estão a seu redor como em si mesmo. Barley é brincalhão e bastante inconveniente, trazendo todo espirito do ator com uma vivacidade impecável. Barley que transporta o lado mais geek, servindo como Mestre de campanha e ajudando o desenvolvimento do seu irmão. Embora seja considerado um caso perdido pelos demais, o irmão mais velho prova seu valor e nos conquista com seu jeito aos poucos, construindo uma ligação solida com o público, um passo de cada vez.

A figura paterna se mostra como a verdadeira união do real e do imaginário, aparecendo pela metade e ganhando uma aspecto distraidamente macabro que transmite muito com suas limitações. Laurel Lightfoot (Julia Louis-Dreyfus) encontra sua própria jornada ao seguir os rastros dos filhos, mas é esquecida por tempo demais na trama. Sua vontade é forte e seu carinho pelos filhos é inquestionável, mas queríamos ter um pouco mais dela no longa. A Manticora (Octavia Spencer) se transformou em algo que nunca imaginou, deixando de lado todo seu ar brutal e aventuresco para cuidar de um restaurante temático. Sua interação com Laurel é divertida e traz uma boa sidequest, que deveria ser melhor utilizada pelo roteiro.

Roteiro esse que se utiliza de piadas e apelos visuais muito mais próximos de outros estúdios do que algo esperado para uma obra Pixar. São cubos gelatinosos mortais, ou um barco feito de salgadinhos, que fazem sentido ao todo mas transformam o filme em algo totalmente diferente daquilo que estamos acostumados pelo estúdio, além das inúmeras previsibilidade que nos são apresentadas, fugindo do ar mais complexo e cheio de camadas.

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica é sim um bom filme, que aposta em uma outra vertente dos estúdios. Embora não seja o mais memorável ou profundo da Pixar, a obra ainda possui seu valor trazendo uma jornada emocionante, cheia de altos e baixos, que nos conduz não só pelo caminho mais difícil, mas pelo mais próximo do coração. Nos mostrando que, as vezes, tudo o que mais desejávamos estava ali do nosso lado, e que é preciso uma aventura transformadora para percebemos o quão importante são as pequenas coisas que deixamos passar em branco. E, acredite, essa é a melhor magia de todas.

 

https://www.youtube.com/watch?v=5FD1x-biuWQ

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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