Crítica | Dor e Glória (Dolor y Gloria)

Nota
5

Salvador Mallo (Antonio Banderas) é um diretor aposentado que acompanha o declínio de seu processo criativo enquanto se sente enormes dores ao longo do corpo. Impossibilitado de trabalhar, o cineasta se vê surpreendido quando uma antiga obra entra mais uma vez na mira do público. O único problema é que ele precisa revisitar um velho inimigo, que um dia estrelou seu filme cultuado, e reabrir antigas feridas que preferia deixar fechadas.

Essa primeira visita ao passado abre uma serie de lembranças ao diretor. Lembranças vividas sobre o primeiro amor, o primeiro desejo, sua primeira paixão e seu precoce interesse sobre a arte cinematográfica . Lembranças dolorosas e lembranças magnificas que o colocam em um divã, que pode ser ainda mais doloroso do que todas as dores que um dia sonhou sentir em seu corpo.

Quando anunciou seu novo projeto, Pedro Almodóvar o definiu como o mais pessoal da sua carreira e, após assistir o filme, não resta nenhuma duvida da realidade dessa afirmação. Dor e Glória trás uma autobiografia não declarada do diretor, mergulhando o publico em suas reflexões e dilemas enquanto nos deleita em uma estória emocional e melancolia.

O filme mergulha na poesia afetiva de alguém que encontrou seu ápice e agora observa seu declínio. Alguém que, após conseguir seu sucesso, se vê estagnado e doente, repleto de um saudosismo latente sobre as pequenas coisas de sua vida, mostrando todas suas camadas e explorando com maestria cada uma delas. Visitamos sua infância humilde, mas genial, seu desperta sexual, seus desejos, sonhos e sucesso em uma linha cronológica quebrada característica de uma memória despertada. Toda construção sobre o que marca, seja pelos tons, gostos e cheiros é tão brilhantemente construído que quase ultrapassa a tela.

Almodóvar larga mão de seus tons coloridos e de seu constante absurdo para abraçar algo mais factual e melancólico, acentuando ainda mais a mente criativa por trás do projeto. É como se o mundo estivesse mais triste pelo bloqueio criativo do personagem, que escreve suas tristezas em contos que espera que ninguém leia. O filme ainda utiliza de seus encontros para despertar uma nova virada a trama, trazendo relações interessantes e introspectiva que espelham a vida do diretor.

Fato comprovado pela atuação precisa de Banderas. Salvador tem um tom contido mas potente que expressa muito com pouco, construindo um personagem forte e marcante que reflete todas as inseguranças e dores de Almodóvar. E não, não é apenas a semelhança em seu visual ou as semelhanças de vida que trazem a ideia biografia para o protagonista, mas a própria essência do diretor que parece fluir por Banderas de uma forma magnífica. O personagem consegue nos passar um misto de sentimentos que nos consome e nos instiga a continuar pela obra.

Asier Flores é outro achado. Interpretando o Salvador criança, ele nos cativa e emociona, trazendo um tom mais leve para a trama e olhando, de outras maneiras, coisas que um adulto veria como dificuldade. Penélope Cruz traz uma força magnífica a sua personagem. Determinada, poderosa e marcante, a sua personagem aparece como um furacão que nos emociona e cativa com suas poucas cenas que demonstram todo carinho e amor da qual precisávamos.

Dor e Glória nos leva a uma vida crepuscular de alguém marcado pelo seu passado e que se encontra nas sombras de seu próprio sucesso. Com uma cena final extremamente poderosa, o filme nos cativa e nos desperta emoções promissoras em uma trama tão real que se torna impossível não apreciar a breve obra de arte que nos foi mostrada. As vezes, é preciso revisitar o passado para nos livrarmos de traumas presentes e aprendermos de uma vez por todas o poder que temos sobre nós mesmos.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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