Crítica | Dora e a Cidade Perdida (Dora and the Lost City of Gold)

Nota
3

“Essa não é a selva. É o Ensino Médio. É vida ou morte.’

Dora (Isabela Moner) conhece a selva como a palma de sua mão. Tendo passado boa parte de sua vida explorando a selva, a garota sempre sente-se animada e confortável no que conhece como lar. Estudando em casa e observando seus pais desde a infância, ela tem uma sabedoria avançada que poucas pessoas da sua idade possuem, além de uma personalidade excêntrica que seus pais esperam que ela mude conforme cresça.

Mas, uma historia sempre chamou sua atenção desde criança. Sobre uma cidade perdida no meio da América do Sul, repleta de ouro e artefatos que desperta a curiosidade (e a cobiça) de exploradores e caçadores de tesouro em todo mundo. Durante uma de suas aventuras, Dora descobre um curioso artefato que se mostra a peça final para encontrar a cidade de Parabata. Animada, ela mostra aos seus pais esperando partir imediatamente com eles para procurar a civilização perdida.

O que ela não esperava era ser mandada para seu maior desafio, a quilômetros das pessoas que conhece, toda vida em um lugar ainda mais selvagem e caótico do que ela deixou: o ensino médio. Enquanto tenta se adaptar a sua nova realidade, a garota se vê ainda mais sozinha e perturbada, não encontrando um porto seguro nem no seu adorado primo Diego (Jeffrey Wahlberg), com quem tinha uma forte amizade na infância.

Enquanto tenta se reorganizar e encarar uma sociedade que não entende, o destino arma mais uma arapuca e transporta a exploradora para seu habitat natural. Agora, Dora precisa liderar seu estranho grupo em meio a mata enquanto tenta salvar seus pais, devolver seus amigos a civilização e resolver um mistério antigo da qual ninguém obteve sucesso até então.

Durante seus 20 anos de duração, Dora Aventureira ganhou uma espaço fantástico entre seu público e, com isso, um reconhecimento palpável até entre os mais velhos. Foram brinquedos, produtos e series derivadas que entraram em nossos cotidianos e, por muitas vezes, se tornaram alvos de piadas. Mas, surpreendentemente, sua versão em live-action trouxe um novo tom ao desenho sem perder sua essência, e brincando com ela.

Dirigido por James Bobin, Dora e a Cidade Perdida brinca com os conceitos tão marcantes no desenho, e traz uma maturidade adorável para um publico que cresceu com ele. Embora ainda seja um produto infantil, o longa consegue conciliar o realismo do live-action com o lúdico que tanto conhecemos na animação. Todos os vícios do desenho são aqui explorados de maneira irônica, brincando com seu toque nonsense que conquista até os adultos na sala (afinal, quem nunca fez piadas com as perguntas constantes da personagem ou a dependência que a animação tinha com a quebra da quarta-parede?).

Esse tom mais debochado é construído logo na primeira cena, onde mostra o universo fantasioso que conhecemos apenas para destruir esse conceito logo em seguida, mostrando que tudo aquilo não passa do fruto de uma mente imaginativa de crianças de 6 anos. As piadas se tornam uma crescente a partir de então, mostrando o desconforto dos personagens ao ver as atitudes excêntricas de sua protagonista que pode cantar uma canção sem motivo algum, ou apenas falar com o nada enquanto ensina algo.

Com isso determinado, o filme realoca sua personagem titulo em uma situação desconfortável onde sua estranheza se torna ainda mais gritante aos olhos do espectador. Dora não sabe como lidar com as regras sociais e se sente ainda mais isolada na multidão. Essa parte do filme desperta nosso emocional e nos desperta uma empatia latente pela garota. Ela não esta onde queria, é rejeitada por todos ao seu redor e, mesmo seu otimismo característico se vê abalado ao encarar os dilemas adolescentes.

Embora seja confiante e poderosa na selva, na cidade ela é apenas uma garota perdida. Boa parte disso se deve ao carisma de Isabela Moner que encara com maestria a personagem e transmite uma autenticidade a sua interpretação. Ela é genuína, engraçada e nos ganha com sua ingenuidade doce que engrandece ainda mais o longa.

Os traços cartunescos se mostram uma vantagem, trazendo à personagem um verdadeiro pote de ouro em meio a trama. Seus traços propõem alguns dos momentos mais engraçados do longa enquanto transmitem uma mensagem poderosa sobre uma inocência perdida pela seriedade do mundo moderno.

Diego já foi como a prima, mas sua década longe da selva cobrou seu preço. O jovem se sente constrangido com as atitudes de Dora. Colocar esses dois contrastes cria uma ponte interessante, que se desenvolve bem durante a narrativa, embora se mostre irritante em muitos momentos. Diego precisa se reencontrar e se livrar de certas amarras sociais, mas não tem a coragem da prima para enfrentar o mundo selvagem do ensino médio de peito aberto, preferindo passar despercebido na multidão.

Sammy (Madeleine Madden) e Randy (Nicholas Coombe) completam o elenco infantil. Sammy é autoritária e, por muitas vezes, detestável. Vendo em Dora uma rival, a garota se mostra debochada e tenta diminuir a protagonista, mas vai perdendo sua casca durante as aventuras e se tornando alguém mais afável. Randy, em contraponto, se vê encantado pela aventureira. Invisível e sendo alvo de piadas, o garoto vê nela uma heroína admirável que merece todo seu respeito inicialmente por trata-lo como gente e, depois, por se mostrar cada vez mais heroica e destemida.

Embora o CGI não seja dos melhores, até os animais nos conquistam. Botas transita entre o lúdico e o real, trazendo brincadeiras interessantes com um carisma inebriante e acolhedor. Já o ladrão Raposo (Benicio del Toro) pouco aparece, mas cria um vinagrete divertido abraçando de vez o humor pastelão que estamos acostumados.

Divertido e carismático, Dora e a Cidade Perdida se mostrou uma grata surpresa. Sem renegar suas raízes e trazendo os melhores aspectos de filmes de exploração, o longa constrói uma aventura instigante que nos convida a revisitar a infância e reaprender mais sobre esses personagens. Portanto, pegue sua mochila, guarde bem o mapa e se, por caso avistar uma raposa é só gritar: Raposo não pegue!

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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