Crítica | Doutor Estranho (Doctor Strange)

Nota
5

“Quem é você nesse vasto multiverso, Sr. Strange?”

Stephen Stranger (Benedict Cumberbatch) é um aclamado neurocirurgião, que tem um sucesso implacável em tudo aquilo que se submete. Repleto de uma arrogância latente, o doutor vê sua vida entrar em ruínas após um trágico acidente de carro, que incapacita os movimentos de suas mãos, impossibilitando que ele volte ao seu trabalho. Desesperado, Stranger gasta cada centavo de sua conta em experimentos que possam curar seus ferimentos, tornando-se obcecado e afastando a única pessoa que um dia se importou com ele, sua ex-colega de trabalho, Christine Palmer (Rachel McAdams), com quem teve um breve relacionamento.

Após meses de inúmeras cirurgias experimentais, Stranger ouve falar de um caso milagroso de um paraplégico que voltou a andar. Procurando pelo rapaz, o médico acaba descobrindo sobre o Kamar-Taj, onde o processo de cura foi realizado. Utilizando suas últimas economias, ele viaja para o Nepal, onde acaba descobrindo mais do que esperava. Acontece que o Kamar-Taj é um centro mágico que treina e prepara os maiores feiticeiros do mundo para combater forças externas, que nem mesmo os Vingadores seriam capazes de cuidar.

Implorando para ser treinado, Stranger começa a avançar nas artes místicas, sempre sendo acompanhado pelo olhar atento da Anciã (Tilda Swinton) e do feiticeiro Kal Mordo (Chiwetel Ejiofor), um aplicado aluno que ajuda no desenvolvimento do médico. Mas, tudo começa a ruir quando Kaecilius (Mads Mikkelsen), um antigo discípulo da Anciã, e seus seguidores retornam para atacar os Sanctum’s e convocar o poderoso Dormammu, da Dimensão Negra.

O universo cinematográfico da Marvel ganhou status estratosféricos, aproveitando sua poderosa base e construindo uma incontestável estrada para o sucesso. Mas, em meio a estudos tecnológicos, experimentos radioativos ou viagens interplanetárias, o estúdio não estava preparado para ingressar um elemento fundamental no universo quadrinhesco que sempre encantou seus fãs… ao menos, não até agora.

Dirigido por Scott Derrickson, Doutor Estranho ultrapassa os aspectos fantasiosos já introduzidos de forma mais contida em Thor para mergulhar de cabeça no amplo multiverso sobrenatural, que permeia as HQs que tanto amamos. Cada trabalho anterior se mostrou uma peça bem idealizada para preparar o público para o novo conceito, tornando-o uma forma orgânica e elevando aquilo que achávamos conhecer sobre o universo a outro patamar. Embora seja sim um filme de origem, o longa parece ainda maior, trazendo um novo capítulo para o estúdio enquanto abre um leque grandioso de possibilidades.

Com um dos roteiros mais bem construídos do estúdio, a Marvel nós apresenta a seu novo estado, transformando tudo que achávamos conhecer e provando que ainda temos muito a que descobrir. Sem medo de tocar em assuntos mais pesados, o filme entra em uma desconstrução do próprio universo, nos embriagando com o novo conhecimento e nos deixando tão sedentos por informações quanto seu personagem principal.

A construção dos personagens é algo exemplar, trazendo uma das jornadas mais interessante a do universo até agora. Somos apresentados a um protagonista arrogante e detestável, que se torna ainda pior depois de seu acidente, afastando todos ao seu redor. Stranger é genialmente mundano e traz nuances profundas, que se modificam e remodelam seu jeito de agir e pensar, transformando-o em um personagem único e cativante. É divertido se por na pele do doutor e encarar sua persona como nosso eu do passado, preso a velhas regras e extremamente orgulhoso de conhecer o jogo até aqui… apenas para quebrarmos a cara com algo maior.

Junto com Strange, somos obrigados a nos despir de nossas certezas, para encarar a nova realidade, expandindo nossa mente e abraçando o desconhecido, que logo se torna algo essencial e magnifico a nossos olhos. O longa nos faz explorar conceitos mais profundos e encarar nossos medos, trazendo verdadeiras consequências que pareciam longe de qualquer filme anterior, mostrando que algo verdadeiramente grandioso está por vir enquanto nos alerta que nem sempre tudo vai sair como planejamos.

Boa parte disso vem da atuação impecável de Cumberbatch, que consegue explorar as multifaces de seu personagem. Seja em uma frase sarcástica, ou em uma batalha por sua vida, Benedict entrega tudo o que o personagem precisa. Tilda Swinton não fica atrás, nos fascinando com sua Anciã, impondo sua presença em cada uma das cenas em que aparece. Mesmo quando ela insiste em ficar nas sombras dos seus colegas, não conseguimos desviar nosso olhar.

A Christine de Rachel McAdams serve de contraponto para o protagonista, mostrando que mesmo o universo mais lúdico pode ter consequências mundanas irreversíveis. Além de humanizar o cirurgião em seu momento mais detestável, enxergando-o como ele realmente é quando nem mesmo Strange conseguia enxergar. Chiwetel Ejiofor faz um ótimo trabalho ao construir seu Kal Mordo, trazendo sua crença cega para com seus mestres, que vê colocado a prova a cada novo segredo revelado. A parceria com Strange é tão orgânica que nos deixa ansiosos por mais interações: enquanto um é adaptável e criativo o outro é inflexível e apegado demais, mostrando jornadas opostas que, curiosamente, se complementam.

O visual do filme é outro ponto impecável, e todo o uso do CGI é bem aplicado. As ideias de combates e mundos paralelos é tão fascinante que nos deixam ansiosos para a próxima exploração, entregando um verdadeiro deleite visual. Somados à empolgante trilha sonora, o longa nos carrega pelo misto de sentimentos, além de explorar com maestria seu humor bem colocado que aparece de maneira natural e divertida.

Com um dos roteiros mais sólidos e poderosos do estúdio, Doutor Estranho não só nos tira da caixa como expande tudo aquilo que achávamos conhecer. Trazendo uma jornada magnífica, que cumpre tudo o que promete, enquanto explora conceitos obscuros que nunca esperávamos ver em um longa da Marvel. A sensação final é que precisamos de mais filmes como esse, o que nos deixa empolgados para o que está reservado no futuro do estúdio.

“Você pensaria que depois de todo esse tempo, eu estaria pronta. Mas olhe só pra mim. Esticando um momento em mil… Só para poder ver a neve cair.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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