Nota
Baseado em um capítulo do romance Drácula, de Bram Stoker, o filme conta a história narrada no diário de bordo do navío Demeter, que conta os terrores noturnos da tripulação que tem como uma de suas cargas Drácula. Por mais que a historia de Drácula seja conhecida de todos e tantas vezes ja tenha sido contada, o diretor André Øvredal e os roteiristas Zak Olkewicz e Bragi F. Schut tiveram o trabalho de nos surpreender e não serem tão previsiveis, apostar em seguir uma história que é narrada por um personagem através de um diário de bordo, algo que no livro é contado através de cartas, é uma boa sacada, além de nos tirar do ambiente de castelos e trazer para o alto mar, algo que não é abordado em filmes de vampiros. Por outro lado, por se passar num navío, tambem surge o problema de: tudo ocorrera ali, não há para onde fugir, como vão explorar isso? Como não ficar tão sugestivo à catástrofe eminente?
Levando o público a cronometrar o avanço da história junto com o tempo da viagem, o filme traz um elenco bem diversificado, composto por atores de várias etnias e povos, assim como deveria ser em uma tripulação de navío de 1867, um contraste forte entre dia e noite, bastante revelações, ataques sucessivos, descobertas do mal, e vai seguindo prometendo chegar em um clímax eminente. A paleta de cores mostra, no começo do filme, a felicidade de Toby (Woody Norman) ao apresentar o navío, sempre bastante carismático, e muda completamente ao representar o terror noturno, entregando um suspense e clima frío com o cair da noite e com os ataques do Drácula. A produção demora para apresentar a criatura, com ataques sempre muito rápidos que poderiam ser usados para trazer mais características, talvez não focar só nas mortes mas em como ficam as vítimas, mostrar melhor o estilo do assassino, também falta mostrar mais da inteligência do monstro, seu propósito e o motivo que o levou a sair da Romênia para Inglaterra.
O visual de Drácula, como Göran Lundström, designer de maquiagem, informou, é algo mais animalesco e zumbificado, lembra ainda uma mistura do Drácula transformado de Van Helsing com o Nosferatu de 1922, e a atuação de Javier Botet, famoso por tantos outros filmes de terror, traz um monstro que vai ficando cada vez mais forte. Destaque pra atuação de Corey Hawkins, que desperta o interesse e faz o público refletir sobre os desejos e carácter do médico, e a presença de outros rostos conhecidos, como o de Liam Cunningham, que lembra seu trabalho como Sor Davos Seaworth em Game of Thrones ao interpretar outro capitão de navío. O elenco ainda traz David Dastmalchian e Jon Jon Briones em papeis interessantes, mas a transformação de Aisling Franciosi, que parte de vítima para uma girl boss, poderia ter sido muito mais desenvolvida, mas acaba ficando escorada no protagonista, que precisa carregar a trama enquanto outros personagens fazem escolhas questionáveis que resultam em mortes.
A Última Viagem do Demeter consegue segurar bem o suspense, mas há algumas falhas de roteiro que poderiam ser resolvidas apenas simplificando ou diminuindo o tempo da obra. O desfecho de Anna, personagem de Franciosi, poderia sido muito mais poético com uma melhor fotografia, fora a escolha de alongar o final do filme com uma cena que poderia, facilmente, ser um prólogo de uma sequência. O filme cumpre seu papel de suspense, mas pouco entrega o terror, parece ter a ideia de trazer um público mais jovem para uma história já um pouco desgastada, mas fica claro que recorrer ao livro pode ser a unica forma de desenvolver uma boa continuação, que terá que desenvolver mais o drama no roteiro para não ser tão previsível.
Lucas Vilanova
Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror