Crítica | Drive My Car (Doraibu mai kā)

Nota
5

Duas pessoas solitárias encontram coragem para enfrentar o seu passado. Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) é um ator e diretor de sucesso no teatro, casado com Oto (Reika Kirishima), uma mulher muito bonita, porém também uma roteirista com muitos segredos, com quem divide sua vida, seu passado e colaboração artística. Quando Oto morre repentinamente, Kafuku é deixado com muitas perguntas sem respostas de seu relacionamento com ela, e arrependimento de nunca conseguir compreendê-la completamente. Dois anos depois, ainda sem conseguir sair do luto, ele aceita dirigir uma peça no teatro de Hiroshima, embarcando em seu precioso carro Saab 900. Lá, ele conhece e tem que lidar com Misaki Watari (Toko Miura), uma jovem chauffeur, com que tem que deixar o carro. Apesar de suas dúvidas iniciais, uma relação muito especial se desenvolve entre os dois.

Baseado num conto do escritor japonês Haruki MurakamiDrive My Car é um daqueles filmes reflexivos que nos conduzem a uma história de um personagem introspectivo que guarda alguns mistérios. O longa aborda a questão do luto e o poder do perdão. Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2022, Drive My Car aborda de uma forma profunda a maneira como lidamos com nossas dores e como cuidamos de nossas cicatrizes.

A partir da produção da peça Tio Vânia, do escritor russo Anton Tchékhov, vemos relações entre pessoas que se comunicam em diferentes idiomas. A peça é multilíngue, temos atores que falam japonês, mandarim e língua de sinais sul-coreana, com isso aprendemos a importância da comunicação, do saber se expressar para assim nos entendermos, vermos que as conexões que fazemos nos mostram quem somos nós.

O fio condutor que permeia essa história é a grande solidão de duas pessoas que se tocam por meio de uma dor comum: o luto. Watari é uma motorista contratada pela produção da peça para dirigir o carro do ator e produtor Yūsuke Kafuku. Ao terem que trabalhar juntos, os dois estabelecem uma conexão, permitindo revelarem suas feridas, e com isso, gradualmente os vemos lidarem com o luto individual, e ressignificarem as suas existências.

Drive My Car é um filme altamente indicado aos amantes de boa arte. A partir da peça, e da trajetória de Vânia, podemos entender o processo do envelhecimento, assim como as visões (mais frequentemente apresentadas) da velhice. O envelhecimento é majoritariamente tratado como um problema social, sendo os idosos vistos como um encargo para a sociedade. Tal visão parte de pessoas não idosas, que ao definirem o envelhecimento, a partir de estereótipos, colaboraram para que haja uma representação social da velhice como uma fase negativa e homogênea, associada com sofrimento, solidão, doença, dependência, feiura, entre outros conceitos negativos. A mensagem principal que o filme nos traz é “Entre o nascer e o morrer, existe vida!”

 

Professor, escritor, tradutor, blogueiro, entusiasta em tecnologia, nerd e pseudo intelectual.

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