Crítica | Dunkirk

Nota
3

O que resta quando o silêncio se rompe e ouvimos gritos desesperados e tiros ensurdecedores? Num ambiente tomado pelo caos promovido pela guerra, não há saída, nem resquício de paz. Essa é a atmosfera de “Dunkirk”, longa baseado num confronto entre soldados britânicos e franceses, no auge da Segunda Guerra Mundial.

Desde o princípio, Christopher Nolan não hesita em focar no cenário caótico e nos seus impactos. Afinal, a grande guerra trouxe inúmeras consequências ao mundo e criou um colapso nas nações. Seja na economia, seja nas relações sociais, tudo foi afetado – antes, durante e depois. Dentro desse contexto, somos apresentados aos militares que compõem a narrativa e, indiretamente, dilemas motivados por aquela situação. São tipos silenciosos e praticamente reprimidos, funcionando como testemunhas e impulsionadores daquele horror, como se não houvesse outra solução e tudo dependesse daquele conflito.

Nessa perspectiva, Nolan esconde a imagem dos nazistas e de Hitler. Implicitamente, sabemos que ambos são os “inimigos” aos quais os soldados se referem (em razão da época), mas não vemos explicitamente seus atos. Não se trata de preservar ou romantizar as barbaridades, mas de criar um imaginário no espectador e inseri-lo na trama, como se fossem entidades sobrenaturais num espectro realista. Dessa forma, o foco é no terror experimentado pelos britânicos e não nos seus responsáveis, mostrando a luta de cada um pela própria sobrevivência e como as consequências podem ser devastadoras. Uma premissa com riscos, mas que se consagra como uma das qualidades do filme.

No entanto, nem tudo são flores. A estratégia de dividir a narrativa em linhas temporais confunde o espectador, mesmo que pareça uma ideia articulada e seja quase recorrente em vários longas. Aqui, o roteiro peca quando não desenvolve adequadamente os personagens, e a ruptura brusca entre algumas sequências não facilitam o diálogo entre a obra e seu público. Seria mais plausível o foco numa única linha, e a objetividade no tratamento dado às tramas, a fim de finalizá-las devidamente e valorizar a atemporalidade dos cenários.

Toda essa ausência de desenvolvimento nos personagens reflete na atuação de seus intérpretes. Apesar dos esforços, a falta de carisma de Fionn Whitehead – o protagonista Tommy – e de Mark Rylance – o comandante Dawson – prejudica o contato com quem assiste, criando uma distância desfavorável que poderia ser evitada. Há momentos em que ambos parecem deslocados da história e tentam um outro tipo de enquadramento, prejudicando ainda mais seus perfis. Embora a frieza seja uma força maior numa guerra, ela não pode se sobrepor a todo tipo de sensação, tal qual a construção dos personagens já citados.

Entre erros e acertos, “Dunkirk” entrega alguns bons momentos e uma direção correta de Nolan, que realiza certos planos dignos de reconhecimento e uma estética impecável. Tinha material para mais aprofundamento, mas não foi valorizado adequadamente – principalmente pela duração curta e acelerada. Mas, está longe de ser um filme horrível, como muitos disseram.

 

Apenas um rapaz latino-americano apaixonado por tudo que o mundo da arte - especialmente o cinema - propõe ao seu público.

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