Crítica | Duro de Matar (Die Hard)

Nota
4

Natal. Uma época de reencontros familiares, celebrações e, claro, uma boa dose de caos imprevisível. Enquanto alguns se deleitam com histórias de renas mágicas e ceias fartas, outros preferem um pouco mais de adrenalina e ousadia em suas tradições natalinas. E poucos filmes encapsulam o espírito do Natal de forma tão única e eletrizante quanto este clássico atemporal.

Em Duro de Matar, John McClane (Bruce Willis), um policial de Nova York, viaja para Los Angeles com a esperança de se reconciliar com sua esposa, Holly (Bonnie Bedelia), durante as festividades. No entanto, o que deveria ser uma confraternização no elegante Nakatomi Plaza se transforma em um inferno quando terroristas liderados pelo carismático e implacável Hans Gruber (Alan Rickman) invadem o prédio, tomando reféns e instaurando o caos. Isolado, desarmado e em território desconhecido, McClane precisa usar sua inteligência, coragem e um pouco de sorte para salvar o dia e talvez, quem sabe, ainda conseguir um beijo sob o visco.

Bruce Willis, em uma de suas performances mais icônicas, dá vida a um herói inesperado e profundamente humano. Diferente dos super-homens frequentemente vistos no cinema de ação, McClane é vulnerável, engraçado e cheio de falhas — um homem comum em circunstâncias extraordinárias. Sua jornada é tanto física quanto emocional, e Willis equilibra brilhantemente as cenas de ação com momentos de humor e introspecção.

Por outro lado, Alan Rickman, em sua estreia no cinema, entrega um dos vilões mais memoráveis da história. Hans Gruber não é apenas malévolo; ele é sofisticado, astuto e, em muitos momentos, incrivelmente carismático. Sua dinâmica com McClane é eletrizante, com diálogos afiados e confrontos que elevam a tensão a cada momento.

A direção de John McTiernan transforma o Nakatomi Plaza em um personagem por si só. Cada andar, corredor e duto de ventilação é usado de forma engenhosa, criando um cenário vibrante e imprevisível para a narrativa. A cinematografia de Jan de Bont captura habilmente tanto a claustrofobia quanto a grandiosidade das cenas de ação, enquanto a trilha sonora de Michael Kamen mistura de forma brilhante temas natalinos com batidas de suspense e adrenalina.

E é justamente essa fusão entre o espírito natalino e a ação explosiva que torna Duro de Matar tão especial. Enquanto McClane luta para salvar os reféns e derrotar Gruber, o filme nunca se esquece de suas raízes festivas. Os toques de humor, os cenários decorados e até mesmo a icônica frase “Now I have a machine gun. Ho-ho-ho” relembram que, no coração da trama, está a ideia de reunir pessoas queridas e superar adversidades, algo profundamente natalino à sua maneira.

Embora seja repleto de explosões e tiroteios, o filme também encontra tempo para explorar temas mais profundos, como redenção, resiliência e a importância da família. Duro de Matar também se destaca por subverter expectativas em um gênero frequentemente dominado por explosões e heróis unidimensionais. Aqui, o protagonista é um homem comum, com falhas e limitações, enfrentando uma situação extraordinária. Essa abordagem trouxe frescor ao cinema de ação, influenciando dezenas de filmes que seguiram seu exemplo. As interações de McClane com o policial Al Powell (Reginald VelJohnson) trazem um inesperado calor humano à trama, adicionando camadas emocionais que fazem com que o público torça ainda mais por seu sucesso.

Um dos aspectos mais fascinantes de Duro de Matar é como ele captura o espírito dos anos 80, com seu tom ousado e personagens marcantes. Contudo, ao mesmo tempo, ele transcende sua época, permanecendo relevante e empolgante para novas gerações. O impacto cultural de Duro de Matar é inegável. Ele redefiniu o cinema de ação, estabelecendo um padrão para heróis que são simultaneamente corajosos e imperfeitos. Além disso, tornou-se um símbolo da celebração natalina para aqueles que buscam algo além das histórias tradicionais.

Hoje, ao lado de clássicos como Esqueceram de Mim e Os Fantasmas de Scrooge, Duro de Matar ocupa um lugar de destaque como uma das experiências cinematográficas mais queridas das festas de fim de ano. É uma prova de que o espírito natalino pode se manifestar nas formas mais inesperadas — até mesmo nos embates épicos contra terroristas, ao som de sinos e tiros. Afinal, o verdadeiro significado do Natal é enfrentar desafios com coragem, proteger aqueles que amamos e, é claro, deixar uma marca duradoura, assim como este filme inesquecível.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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