Crítica | É o Bicho! (Animal Crackers)

Nota
2.5

“Os irmãos Huntington lhes dão as boas-vindas ao
melhor espetáculo deste ou de todos os universos!”

Bob era um capacho quando trabalhava no circo da família, com seu irmão, Horatio P. Huntington. Mas, depois de conhecer Talia, o homem resolveu mudar sua vida e se transformar em Buffalo Bob, o dono, ao lado de sua esposa, do maior circo da cidade, conhecido por seu show composto por incríveis animais mágicos. Foi nesse circo onde Owen, o sobrinho de Bob, cresceu e conheceu a jovem Zoe, a filha de um rico empresário com que acabou casando. Os anos se passaram, Owen acabou tendo que ir trabalhar na Fabrica de Biscoitos Caninos de Mr. Woodley, pai de Zoe, como condição para poder casar com ela, como Degustador de Biscoitos Caninos, sendo aprisionado em uma frustrante vida.

Alguns anos se passam, Horatio, que agora é o frustrado dono de um circo fracassado, resolve entrar escondido no circo de seu irmão para tentar descobrir o segredo por trás de seus incríveis animais, mas, acidentalmente, causa um incêndio que mata Bob e Talia. Com a morte de seus donos, o circo, e o mistica Caixa de Biscoitos, de Bob acabam sendo herdados pelo seu sobrinho, que precisa decidir entre sua vida segura e frustrada ou a incontrolável vida de dono de um circo. Mas, claro, toda história tem que ter um misticismo por trás, e a grande magia por trás do circo de Bob é justamente sua Caixa de Biscoitos, um presente que recebeu da cigana Esmerelda, a tia de Talia, e que é magicamente preenchida com diversos biscoitos em forma de animais, que transformam qualquer pessoa que os comer no respectivo animal do biscoito, um segredo que faz Owen perceber como seu tio tinha tantos animais que surgiam e desapareciam em meio às apresentações, e um artigo que faz seu outro tio, Horatio, passar a persegui-lo incansavelmente em busca do artefato capaz de reerguer seu circo.

Dirigido por Tony Bancroft e Scott Christian SavaÉ o Bicho chegou à Netflix em 24 de julho de 2020, deixando no ar aquela impressão de que poderíamos ter um filme bem família e conquistando a todos com sua cativante premissa, mas com o decorrer do enredo fica claro que o longa é cheio de furos, mal construído e feito exclusivamente para agradar às menos exigentes crianças. No decorrer da história, as animações viveram uma grande revolução, de Disney a Hayao Miyazaki, se mostrando tão madura e capaz de transmitir uma infinidade de sentimentos, evoluindo com o aperfeiçoamento da técnica 3D e a liberdade narrativa, provando que não há limitações quando o assunto é fazer um filme animado, chegando a um status que é completamente desmerecido em É o Bicho!, que ignora todas as técnicas e todo o avanço do gênero enquanto constrói um roteiro que luta para explorar questões sobre paternidade e transição de carreira, levando todos os seus personagens a refletir sobre a existência que levam, mas que acaba caindo no clichê da formula “mocinhos e vilões”, que se mostra completamente desgastada e desmotivada pela ausência de um pano de fundo que impulsione cada personagem.

No longa, Owen vive frustrado com sua vida, cansado de ser humilhado e lutando para ser valorizado, algo que piora depois que ele herda o circo, quando ele começa a se menosprezar ainda mais frente ao seu chefe, e sogro, por temer sua desaprovação, algo que começa a danificar sua relação com sua esposa e sua filha, Mackenzie, o que nos leva a questionar por que o homem prefere viver frustrado pela desaprovação de seu sogro ao invés de se dedicar a buscar a felicidade de sua família. Zoe é uma aventureira nata, ela sempre amou o circo e sempre apoiou todas as decisões de seu marido, mesmo sendo contra ver ele ficar calado enquanto está sendo humilhado por seu pai. Quando Owen desiste do circo e decide jogar o pano, é Zoe quem pula de cabeça na missão de manter o legado de Bob e Talia, abandonando sua vida segura na fabrica, e abrindo mão da possibilidade de herdar a fabrica de seu pai, para não deixar o espirito do circo morrer. Horatio desejava Talia em sua juventude, desde que conheceu a moça acabou deixando a inveja lhe consumir enquanto via a moça se apaixonando por seu irmão, uma inveja tão grande que fez ele obrigar seu irmão a escolher entre ele e Talia, o que acabou fazendo Bob escolher Talia e abandonar o circo da família Huntington, criando o seu próprio. Quando o circo de Horatio começa a afundar e o circo de Bob está famoso, o homem reúne toda a sua inveja para ir atrás do segredo do irmão e rouba-lo, causando a morte do mesmo e, sem nenhum remorso, seguindo com todas as forças na busca de destruir o circo de Bob. Ao fundo temos a história de Binkley, a colega de trabalho de Owen que passa por uma subtrama envolvente, que nos causa pena e nos cativa, mas que acaba não tendo destaque suficiente na trama, um grande erro dos roteiristas.

Com seus traços simples e seu roteiro preguiçoso, o longa apresenta um elenco de dublagem sem igual (com a presença de astros como John Krasinski, Emily Blunt, Ian McKellen, Danny DeVito e Sylvester Stallone) mas não consegue ter o sucesso que estava predestinado a ter, se tornando uma produção mediana, que fica bem abaixo de qualquer expectativa que é criada quando vemos a premissa e o elenco, nos deixando com a grande decepção de ver várias fagulhas de novidade que não conseguem se transformar no fogo da empolgação. O longa se propõe a explorar uma relação paterna e existencial, mas no fim deixa apenas no ar diversas perguntas que não foi capaz de responder, criando uma falsa moral ao nos perguntar, desde seus primeiros minutos: Vale a pena abandonar um sonho para lidar com uma vida mais regrada?

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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