Crítica | Em Pedaços (Aus dem Nichts)

Nota
5

Após cumprir pena por tráfico de drogas, o turco Nuri Sekerci (Numan Acar) leva uma vida amorosa e tranquila com a esposa Katja Sekerci (Diane Kruger) e o filho Rocco (Rafael Santana) na Alemanha. Certo dia ele e o menino estão no escritório e morrem vítimas de uma explosão criminosa, tragédia que deixa Katja sem chão.

Ela, então, batalha na justiça pela punição dos culpados, um casal neonazista.

Perder um ente querido nunca foi fácil para ninguém. Uma dor imensurável, o agoniante sentimento de incomplexidade e, além disso, a necessidade de se refugiar de tudo e todos, tomam conta de nós, consumido o pouco que resta de nossa sanidade. “Em Pedaços” é um filme que retrata, de maneira ao mesmo tempo delicada e profunda, a dor pela perda. Para alguns, o foco no quesito dramático pode parecer arrastado, mas é este um fator crucial para o desenvolver não só da trama, mas também de sua personagem principal.

Na produção, dirigida com responsabilidade e profundidade por Faith Akin, cujo objetivo primordial não é apenas de entregar um filme com o máximo de sensibilidade e sim fazer uma analogia bem construída entre uma história ficcional a uma triste realidade, a personagem de Diane Kruger, Katja, é quem nos guia em uma história repleta de dramas, revoltas e absurdos. A mãe de família, desolada com a perda, passa por importantes processos de transformação ao longo da trama, que vai da dor, isolamento, desistência, ódio, sede de vingança, entre outros extremamente bem empregados a trama graças ao roteiro, também assinado por Akin, e sua realização.

Não é para menos que Diane Kruger tenha recebido a honraria de Melhor Atriz no Festival de Cannes 2017. A atriz, de fato, desempenha um dos maiores trabalhos de sua carreira, passando toda a confusão sentimental da personagem para quem assiste e fazendo o público compreender seus motivos mostrados no desfecho da trama, além de torcer incondicionalmente para que a Katja tenha a sua justiça.

Além do resplandecente brilho de Diane, há grandes desempenhos em “Em Pedaços” que merecem destaque, como os atores Denis Moschitto, que interpreta o confiante e simpático advogado Danilo Fava, e Johannes Krisch, na pele do odioso e absurdo advogado de defesa dos criminosos neonazistas.

Os horrores de grupos radicais e neonazistas contra imigrantes, sobretudo aqueles de ascendência turca, não foi escolhida propositalmente pelo diretor Faith Akin, uma vez que o próprio possui parentesco turco. Mas, diante da mais triste realidade, um filme como “Em Pedaços” é fundamental para refletirmos a respeito das atrocidades que vemos no mundo diariamente.

O longa-metragem de Akin não é só uma produção bem roteirizada e conduzida, com exímia direção de fotografia que opta por planos mais fechados e uma colorização menos saturada que exalta a tristeza, trilha sonora misteriosa e envolvente, entre outras características, mas um exímio trabalho que mescla o drama da perda a uma realidade cada vez mais brutal, merecidamente vencedora do Globo de Ouro 2018 de Melhor Filme Estrangeiro.

 

Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.

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